A maconha medicinal tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil e no mundo por seus diversos usos terapêuticos e o potencial de melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas. Apesar de ainda ser cercada por tabus e desinformação, a ciência tem avançado no entendimento da cannabis como um recurso terapêutico eficaz para várias condições de saúde.
Vamos explicar os principais pontos sobre o uso medicinal da cannabis, trazendo dados atualizados e estudos recentes sobre o tema para você aprender com informações confiáveis e coletadas diretamente pela Kaya.
O que é maconha medicinal?
A maconha medicinal é o uso terapêutico da planta Cannabis sativa, ou de seus compostos (como o THC e o CBD), para tratar ou aliviar sintomas de doenças físicas ou mentais. Esses compostos atuam no sistema endocanabinoide, um sistema biológico presente no corpo humano que regula funções como dor, sono, apetite, humor, inflamação e memória.
Diferente do uso recreativo da maconha, o uso medicinal é feito com produtos controlados, de qualidade farmacêutica, e sob prescrição médica. Esses produtos podem estar na forma de óleos, cápsulas, sprays, pomadas ou flores secas (dependendo das legislações locais), e suas concentrações de canabinoides são ajustadas conforme a necessidade clínica do paciente.
Como a cannabis medicinal funciona?

A cannabis é uma planta contém diversos princípios ativos terapêuticos – os canabinoides, os terpenos e as canaflavinas. Cada um desses elementos tem um papel importante na natureza, mas, no corpo humano, eles interagem com o sistema endocanabinoide e são capazes de modular esse mecanismo até atingir o equilíbrio do organismo.
Essa capacidade de modulação faz com que diferentes condições médicas possam ser tratadas à base de cannabis e seus compostos, principalmente porque cada um deles age de forma diferente. Quando consumidos em conjunto, conseguem proporcionar um efeito ainda mais benéfico para o corpo, chamado de efeito entourage ou efeito de comitiva.
Cada composto da cannabis pode tratar condições médicas específicas, sendo muitas delas em comum, mas esses resultados dependem da forma farmacêutica do produto, da qualidade, da frequência de uso, da dosagem e outros fatores importantes. Contudo, no geral, pode-se dizer que a cannabis é capaz de atenuar os sintomas de ansiedade, estresse, insônia, epilepsia refratária, câncer, transtorno do espectro autista (TEA), esclerose múltipla, síndrome de Parkinson, doença de Alzheimer e muito mais.
Benefícios da maconha medicinal
Nos últimos anos, diversos estudos têm mostrado os benefícios da planta no uso medicinal em diferentes áreas da saúde. Embora ainda sejam necessárias mais pesquisas clínicas, os resultados já disponíveis são bastante promissores. Entre os principais usos da maconha medicinal, estão:
- Redução de dor crônica (ex.: fibromialgia, artrite, dores neuropáticas);
- Alívio de náuseas e vômitos causados por quimioterapia;
- Controle de convulsões em casos de epilepsia refratária;
- Tratamento da ansiedade, depressão e insônia;
- Redução da espasticidade em pessoas com esclerose múltipla;
- Estímulo do apetite em pacientes com HIV ou câncer;
- Controle da inflamação em doenças autoimunes e intestinais.
De acordo com um estudo australiano publicado em 2025, pacientes com condições crônicas como ansiedade, insônia e dor relataram melhorias sustentadas na qualidade de vida após 12 meses de uso contínuo de cannabis medicinal.
Outro exemplo importante vem do uso de CBD em crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Uma meta-análise conduzida por pesquisadores da USP mostrou melhora significativa em sintomas como responsividade social, comportamento disruptivo e qualidade do sono.
Você pode saber mais sobre o uso da cannabis em diferentes contextos no nosso artigo sobre pesquisadores de cannabis e divulgação científica.
História da maconha medicinal no Brasil
Embora o uso medicinal da maconha seja antigo em muitas culturas (com registros históricos de mais de 5.000 anos), no Brasil esse tema só ganhou força recentemente, especialmente a partir da década de 2010.
Em 2015, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) retirou o CBD (canabidiol) da lista de substâncias proibidas e autorizou sua importação mediante prescrição médica e autorização especial. A partir daí, os avanços aconteceram gradualmente:
- 2019: aprovação da RDC 327, permitindo a comercialização de produtos com cannabis em farmácias;
- 2020 em diante: crescimento de associações de pacientes, aumento no número de prescrições e entrada de novos produtos no mercado.
Apesar dos avanços, o acesso ainda é restrito e os custos podem ser elevados. Muitas famílias recorrem ao habeas corpus para cultivar cannabis como forma de garantir o tratamento.
Além disso, os debates sobre a regulação do cultivo nacional e o fortalecimento da cadeia produtiva continuam no centro das discussões políticas e científicas do país.
Regulamentação da cannabis medicinal no Brasil
Em 2015, a Anvisa tomou o primeiro passo para regulamentar o uso medicinal da cannabis no país e publicou uma RDC que liberava a importação de medicamentos com CBD para fins terapêuticos.
Ao longo dos anos, foram surgindo novas RDCs que visavam facilitar o acesso a esses derivados, inclusive uma que permitiu empresas brasileiras a fabricarem produtos no país a partir de insumos importados e, assim, os disponibilizarem em farmácias nacionais.
Assim, hoje é possível importar medicamentos à base da planta por meio de solicitações à Anvisa caso você tenha uma prescrição médica e tenha seguido um passo a passo, bem como se pode comprar algumas opções de derivados nas farmácias.
No entanto, o cultivo, até então, não foi regulamentado, o que ainda torna o acesso à cannabis medicinal no Brasil burocrático e o mercado pouco lucrativo em comparação ao seu verdadeiro potencial. O consumo da planta para fins medicinais por meio da Anvisa, portanto, é limitado a uma parcela da população, enquanto outras buscam alternativas mais baratas.
Evidências científicas sobre a relação da maconha com a saúde
As evidências sobre os benefícios terapêuticos da cannabis estão em constante evolução. Aqui estão alguns estudos recentes que merecem destaque:
1. Dor crônica e substituição de opioides
Um relatório publicado pelo National Academies of Sciences indica que há evidências substanciais de que os canabinoides são eficazes no tratamento de dor crônica em adultos, com potencial para substituir opioides, reduzindo os riscos de dependência.
2. Redução de convulsões em epilepsia
O uso do CBD em crianças com epilepsia refratária levou à redução significativa na frequência de crises, conforme estudos clínicos publicados no New England Journal of Medicine.
3. Tratamento complementar para pacientes com câncer
Segundo uma revisão do Whole Health Oncology Institute (WHOI), 75% dos estudos analisados apoiam o uso da cannabis medicinal como parte do tratamento oncológico, especialmente no controle de sintomas como náusea, dor e perda de apetite.
4. Melhora no sono e saúde mental
Um estudo da Keck School of Medicine (EUA) revelou que o uso de cannabis pode melhorar a qualidade do sono em pessoas com ansiedade ou depressão pré-existentes, embora seus efeitos variem conforme o perfil do paciente.

Para entender melhor como a cannabis pode afetar áreas como cognição e sistema nervoso central, leia também nosso conteúdo sobre cannabis e funções cognitivas e o papel do CBD no sistema nervoso.
A maconha medicinal é uma ferramenta terapêutica com potencial comprovado para o tratamento de diversas doenças e sintomas. Ainda que existam desafios regulatórios, especialmente no Brasil, a ciência e os relatos clínicos têm mostrado que a cannabis pode trazer alívio e qualidade de vida para milhares de pacientes.
Com o avanço da pesquisa e da regulamentação, espera-se que o acesso à cannabis medicinal se torne mais democrático, seguro e eficaz. Mas vale lembrar: o uso deve sempre ser orientado por profissionais de saúde habilitados, respeitando as especificidades de cada caso.
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