Mesmo que a maconha medicinal seja um tema recorrente e bem disseminado hoje em dia, ainda restam muitas dúvidas sobre como essa medicina de fato funciona e, principalmente, como se obtém acesso aos medicamentos à base da planta no Brasil.
Apesar de parecer um assunto da modernidade, o uso da cannabis para fins medicinais é milenar. São muitos registros que mostram esse consumo na antiguidade, mas que, a partir de 1900, passou a ser visto com olhos discriminatórios e proibitivos. Os estudos científicos em torno da planta e do sistema endocanabinoide começaram a quebrar esse paradigma e só assim a cannabis medicinal passou a ser reconsiderada e reincorporada em diferentes regulamentações.
A regulamentação da cannabis medicinal no Brasil
Em 2015, a Anvisa tomou o primeiro passo para regulamentar o uso medicinal da cannabis no país e publicou uma RDC que liberava a importação de medicamentos com CBD para fins terapêuticos.
Ao longo dos anos, foram surgindo novas RDCs que visavam facilitar o acesso a esses derivados, inclusive uma que permitiu empresas brasileiras a fabricarem produtos no país a partir de insumos importados e, assim, os disponibilizarem em farmácias nacionais. Assim, hoje é possível importar medicamentos à base da planta por meio de solicitações à Anvisa caso você tenha uma prescrição médica e tenha seguido um passo a passo, bem como se pode comprar algumas opções de derivados nas farmácias.
No entanto, o cultivo, até então, não foi regulamentado, o que ainda torna o acesso à cannabis medicinal no Brasil burocrático e o mercado pouco lucrativo em comparação ao seu verdadeiro potencial. O consumo da planta para fins medicinais por meio da Anvisa, portanto, é limitado a uma parcela da população, enquanto outras buscam alternativas mais baratas. As associações de pacientes, por exemplo, são uma dessas possibilidades, bem como o auto cultivo que, por meio de uma autorização via habeas corpus, pode ser permitido.
Como a cannabis medicinal funciona?
A cannabis é uma planta contém diversos princípios ativos terapêuticos – os fitocanabinoides, os terpenos e as canaflavinas. Cada um desses elementos tem um papel importante na natureza, mas, no corpo humano, eles interagem com o sistema endocanabinoide e são capazes de modular esse mecanismo até atingir o equilíbrio do organismo.
Essa capacidade de modulação faz com que diferentes condições médicas possam ser tratadas à base de cannabis e seus compostos, principalmente porque cada um deles age de forma diferente. Os fitocanabinoides CBD e THC, por exemplo, são os mais populares e ambos geram efeitos diferentes, sendo que são indicados para tratar diferentes condições. Ainda assim, quando consumidos em conjunto, conseguem proporcionar um efeito ainda mais benéfico para o corpo, chamado de efeito entourage ou efeito de comitiva.
Cada composto da cannabis pode tratar condições médicas específicas, sendo muitas delas em comum, mas esses resultados dependem da forma farmacêutica do produto, da qualidade, da frequência de uso, da dosagem e outros fatores importantes. Contudo, no geral, pode-se dizer que a cannabis é capaz de atenuar os sintomas de ansiedade, estresse, insônia, epilepsia refratária, câncer, transtorno do espectro autista (TEA), esclerose múltipla, síndrome de Parkinson, doença de Alzheimer e muito mais.
Por que a maconha medicinal?
A maconha medicinal vem ganhando espaço nas prateleiras, na imprensa e na sociedade, pois estudos científicos apontam que suas propriedades são capazes de tratar diversas condições médicas diferentes – e melhor: ao mesmo tempo.
O uso de medicamentos alopáticos pode ser um problema, principalmente quando um paciente tem uma série de questões de saúde que precisam de diferentes tratamentos. Assim, esse indivíduo acaba tendo que consumir uma variedade de remédios, situação que pode ser prejudicial à saúde por conta da quantidade a ser consumida e a frequência do uso. Muitos desses produtos, inclusive, geram dependência química.
No caso da cannabis, por ser uma planta medicinal, os efeitos colaterais são poucos e leves, além de poder ser utilizada para uma diversidade de questões de saúde. Ainda, com as novas pesquisas, esses derivados da maconha podem ser consumidos em diferentes formas farmacêuticas, como óleos, pomadas, vaporizadores, balas de goma etc., o que personaliza o tratamento de acordo com as necessidades do paciente, facilitando a administração e ingestão desses produtos.
Mesmo que muitos dos estudos em relação à cannabis e algumas condições médicas ainda estejam em suas fases preliminares, há muitos casos de pacientes que obtêm resultado positivo com esse tratamento, o que incentiva, cada vez mais, a regulamentação da planta na legislação de diversas nações. Pode-se dizer que o Brasil, por exemplo, está nesse percurso.