O movimento global de legalização da cannabis possibilitou que um mercado que sempre existiu, antes na via da ilegalidade, passasse a oferecer oportunidades de trabalho para quem sonhava com se dedicar à planta. Em países onde a erva é regulamentada, as taxas de emprego aumentaram e a indústria da cannabis figurou entre uma das principais em termos de número de trabalhadores em tempo integral, como é o caso dos Estados Unidos, onde mais americanos trabalham com maconha do que como engenheiros elétricos. E para quem está em terras nacionais, quais as perspectivas de se trabalhar com cannabis no Brasil, legalmente?
Existem muitos empregos relacionados à maconha, o que pode tornar um pouco complicado descobrir em qual área seu conjunto de habilidades é mais valorizado. Por isso, a Kaya Mind decidiu começar uma série de publicações relacionadas aos empregos da indústria da cannabis. Se você é apaixonado por maconha e cânhamo ou apenas quer conhecer os empregos que existem por aí, este material te ajudará a entender melhor qual é a situação atual do mercado de trabalho da maconha.
Trabalhar diretamente com a cannabis medicinal no Brasil
No Brasil, as oportunidades ainda são poucas, afinal, existe uma única legislação que permite a venda de produtos à base de maconha nas farmácias. Esta, chamada de RDC 327, surgiu por parte da Anvisa que, por pressão popular e necessidade de saúde pública, também tentou regulamentar o cultivo da planta em dezembro de 2019. A iniciativa, no entanto, não deu certo. O cultivo foi barrado pelo atual diretor-presidente da agência reguladora, Antônio Barra Torres, mas a importação de medicamentos derivados de cannabis mediante prescrição e a comercialização em território nacional foram facilitadas, o que aumentou, ainda que de forma insignificante, o tamanho do mercado. Entenda melhor sobre a legislação acerca da planta no Brasil aqui.
Para além das oportunidades de se trabalhar nas empresas que fabricam e comercializam os produtos medicinais importados, existem também as associações de pacientes terapêuticos, que lutam pelo acesso justo a esses medicamentos por parte da população que precisa do tratamento e não pode esperar pelos prazos internacionais ou que não tem renda suficiente para pagar mais de R$ 1.000 em um produto. Todas elas fazem parte da FACT (Federação das Associações de Cannabis Terapêutica).
Além das associações maiores, que trabalham com CNPJ e estão na linha de frente com os poderes judiciário e legislativo, existem as menores, criadas pela necessidade de uma ou mais famílias. No levantamento da Kaya Mind, foram mapeadas 76 associações desse tipo espalhadas por todo o território nacional, sendo 51 delas com CNPJ ativo.
Na área medicinal e terapêutica, seja trabalhando em uma empresa, indústria farmacêutica ou associação, as posições e vagas são similares. Essas instituições buscam profissionais que saibam lidar com pessoas, auxiliando no atendimento e acolhimento de pacientes medicinais, além de procurarem profissionais médicos que possam acompanhar esses pacientes e fazer pesquisa para desenvolver novos tratamentos.
O que estudar para trabalhar com maconha?
Como o mercado da cannabis é emergente, as especialidades para atuar são variadas, porque há necessidade de muitos profissionais. Ao mesmo tempo, por ser uma indústria inovadora, muitas das empresas oferecem oportunidades para pessoas que têm uma mente mais aberta e que estão dispostos a aprender continuamente no dia a dia. O tema da cannabis é extremamente novo, mesmo que a planta faça parte da humanidade há milênios, o que faz com que novas descobertas e mudanças surjam ao longo da consolidação do setor.
Hoje, as companhias no Brasil buscam muitos trabalhadores que atuam em marketing, comunicação, administração, comercial, análise de mercado e dados, pesquisa e mais. Não há muitas oportunidades, no entanto, relacionadas ao manejo direto à planta, já que não é permitido cultivar cannabis em território nacional, apesar de existirem algumas exceções, como a Abrace. Atualmente existem cursos profissionalizantes que ajudam profissionais de todas às áreas a entenderem o mercado da cannabis e conseguirem atuar de forma tranquila e sabendo do que estão falando.
Setores indiretos para trabalhar com cannabis
Existem também os trabalhos com cannabis que não estão relacionados ao uso medicinal e não têm relação de manuseio com a planta. É o caso dos produtores de conteúdo, profissionais de setores secundários e prestadores de serviços.
A área da produção de conteúdo é uma das maiores, com portais como o Growroom e a Smoke Buddies lidando com esse tema há mais de 10 anos. Outros grandes veículos são: Cannabis Monitor, Mapa da Maconha, Sechat, Cannabis e Saúde, Weederia e Cannalize. Eles são responsáveis por disseminar informações de qualidade e notícias atualizadas sobre essa indústria tão dinâmica. Alguns são voltados à produção de conteúdo jornalístico, enquanto outros focam na produção de textos mais densos, promoção de cursos e outras atividades. Todos eles trabalham com a contratação de profissionais de marketing, redação, audiovisual e outras profissões.
O modelo de negócio mais disseminado atualmente, no entanto, é o das tabacarias, headshops e growshops. De acordo com uma pesquisa da Kaya Mind, existem ao menos 100 growshops, 200 headshops e 1.000 tabacarias. A maioria desses estabelecimentos busca profissionais para trabalhar com atendimento ao cliente, mas também procuram pessoas para ajudar no marketing (especialmente o digital), na área de logística, no administrativo, no financeiro e até na compra dos produtos à venda.
Outro segmento importante, mas que é menos explorado, é o das empresas que prestam serviços, como é o caso da Kaya Mind, que atua na área de inteligência de mercado e dados. É difícil levantar quais são as vagas disponíveis, afinal, cada empresa tem seu escopo de atuação, mas em relação à Kaya Mind, a busca é por profissionais multidisciplinares, que tenham forte capacidade analítica e entendimento de lógica.
Pode-se observar, a partir desse breve resumo, que o mercado brasileiro, apesar de ter muito a crescer, é imaturo e, portanto, ainda tem poucas oportunidades mapeadas. Por isso, deve-se explorar o que está acontecendo em outros países que já estão mais avançados em suas legislações.
Trabalhar com cannabis nos Estados Unidos e no Canadá
Apesar da cannabis não ser legalizada federalmente nos EUA, grande parte dos estados permite o cultivo e uso medicinal da planta, além de , abrindo ainda mais possibilidades de emprego nessa área. Trabalhar na indústria da cannabis pode ser divertido e um sonho para muitos, mas também apresenta desafios únicos e demandas inerentes a uma profissão. Afinal, muitas vezes, é uma ocupação sem apoio de sindicatos e outras organizações profissionais.
No âmbito do uso adulto, já que na frente medicinal não há tantas diferenças em comparação ao Brasil, as perspectivas de emprego no campo da cannabis ainda são boas, especialmente para quem já tem habilidades relevantes para o meio. No entanto, as posições de trabalho em escritórios são poucas e as oportunidades são baseadas em know-hows específicos. Nos empregos de cultivador, aparador ou colhedor, que exigem envolvimento físico com a maconha, as empresas optam por contratar operadores e produtores com experiência prévia, devido a sensibilidade das plantas. Inclusive, o campeão mundial de skate Bob Burnquist explicou à Kaya Mind que a Farmaleaf, sua empresa de produtos derivados de maconha, precisou escolher cuidadosamente seu fornecedor de matéria-prima.
Há outros cargos possíveis, como aqueles voltados para o ponto de venda – caixa e budtender (bartender das flores da maconha), por exemplo – que exigem bom relacionamento com o cliente e habilidades de comunicação. Por outro lado, posições gerenciais e de liderança são mais escassas devido ao baixo número de novas empresas de médio e grande porte. Ainda assim, o setor da cannabis tem o maior número de mulheres em posições de liderança nos Estados Unidos.
Um dos principais benefícios de ter uma posição em uma indústria em constante crescimento é a capacidade de resistir a uma recessão econômica. A pandemia do novo coronavírus afetou adversamente muitos setores, mas, segundo as principais pesquisas internacionais, o consumo de cannabis e álcool nunca foi tão alto e, por isso, o mercado canábico está se fortalecendo e prosperando apesar da crise de saúde pública. Outra vantagem de uma indústria que, internacionalmente, caminha para um maior crescimento nos próximos anos, é a perspectiva de obter salários competitivos.
Como mencionado anteriormente, o ambiente e a demanda de trabalho na indústria da cannabis são baseados em empregos que necessitam de habilidades específicas e, portanto, ainda não têm salários estáveis. A disponibilidade de empregos, especialmente para produtores, podadores e colhedores, pode ser sazonal, em tempo parcial ou integral, dependendo da estrutura operacional do negócio ou empresa, o que pode gerar dificuldade para quem deseja trabalhar nesse meio.
Como a indústria da cannabis diminui o desemprego nos EUA?
A informação é da empresa Leafly, que divulgou um relatório sobre a geração de empregos no setor da cannabis. Segundo o documento, desde 2017, a indústria cresce 27,5% cada ano. De 2020 até fevereiro de 2021, houve a criação de 77,3 mil vagas, ainda que o período tenha sido marcado por crises econômicas causadas pela pandemia do novo coronavírus.
Diferente de muitas indústrias, o mercado da maconha não foi tão atingido pelas consequências da Covid-19 nos EUA, pois, em muitos dos estados, governadores optaram por categorizar os comércios relacionados à planta como serviços essenciais. Assim, as vendas cresceram vertiginosamente, já que os consumidores decidiram estocar produtos da erva para cumprir o isolamento social e ficar em casa, recorreram à maconha para diminuir ansiedade e estresse causados pela pandemia, e participaram predominantemente de atividades cannabis-friendly, como assistir à filmes e séries.
Até janeiro de 2022, foram calculados 428,059 mil empregos relacionados à maconha no país estadunidense. Há mais vagas disponíveis nas regiões da Califórnia, Colorado, Michigan, Illinois, Massachussetts, Pensilvânia, Flórida, Arizona, Washington e Oregon, sendo na Pensilvânia e Flórida voltada exclusivamente ao mercado medicinal.
Para se ter uma ideia do tamanho dessa indústria nos Estados Unidos: enquanto o mercado de trabalho da área de enfermagem teve um desenvolvimento de 53% em 10 anos, a da maconha expandiu 161% em apenas quatro anos. Além disso, hoje, no país, há mais profissionais no setor da cannabis do que engenheiros elétricos, dentistas e pilotos de avião. Esses são dados do relatório anterior da Leafly, de 2021.
Disponibilidade de empregos no mercado da cannabis
No Brasil, apesar de uma variedade de setores para trabalhar com cannabis, mesmo que indiretamente, ainda não há uma vasta quantidade de empregos disponíveis para as pessoas interessadas em atuar na área. Sem uma regulamentação abrangente, a empregabilidade desse mercado no país é muito menor do que poderia ser.
No relatório “Impacto Econômico da Cannabis”, publicado pela Kaya Mind, estimou-se que, no quarto ano de regulamentação abrangente de todos os usos da cannabis – medicinal, adulto e industrial -, seriam movimentados por volta de R$ 26,1 bilhões e R$ 8 bilhões de impostos seriam arrecadados. Além disso, como essa legislação abraçaria indústrias diferentes, por volta de 117 mil empregos poderiam ser criados.
Vale lembrar que o Brasil, no quarto trimestre de 2021, teve o total de 11,1% desempregados, o que corresponde a 13,9 milhões de pessoas. Esses dados foram coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Aqui, no Cannabis Empregos, você pode encontrar algumas das vagas em aberto.
Cannabis, um novo mercado com singularidades
São mais de 12.000 anos de uso da cannabis como planta com potenciais diversos e menos de 100 anos em que o mesmo é proibido. Essa singularidade traz para esse mercado um apelo único: é diferente dos outros mais bem estabelecidos, que têm requisitos claros para seus cargos, ambientes de trabalho estruturados e são regulamentados por associações e sindicatos.
O meio de trabalho canábico e seus requisitos não convencionais – as habilidades necessárias vão além de cursos ou experiências profissionais – fazem dele uma boa opção de emprego para o público. Quem está na busca por um emprego pode ser intimidado em termos de experiência e de formação educacional na maioria das empresas, mas, na indústria da cannabis, a maioria dos proprietários e líderes de companhias valorizam o comprometimento, a confiabilidade e a flexibilidade de membros novos e efetivos de suas equipes.
A forte expansão desse mercado é uma realidade e deve crescer a uma taxa exponencial nos próximos anos. Por isso, empresários buscam candidatos com vontade de aprender o ofício, mas que também acreditem na causa da empresa e da maconha, pois serão porta-vozes do tema e influências essenciais para a mudança de pensamento nos meios em que ocupa. A indústria da cannabis ainda está em lenta evolução quando se faz a comparação do Brasil com o mundo, mas o país seguramente está se estabelecendo como um forte player de mercado. Seu impacto econômico já é desfrutado por aqueles que podem trabalhar com esse segmento.
Um trabalho na indústria da maconha, portanto, é o mesmo que em qualquer outra indústria: você executa diligentemente suas tarefas e é pago. O modo como você se dedica ao trabalho pode ser subjetivo e variar de acordo com cada trabalhador, mas a escolha de buscar um emprego com cannabis depende de determinação e comprometimento, além do status de legalização do país.