Há milhares de anos, as substâncias psicoativas estão presentes em diversas civilizações e o seu uso não é um fenômeno recente, por isso ao longo da história as formas de redução de danos do consumo dessas substâncias foi surgindo naturalmente para diminuir os riscos e as complicações desses consumos.
O hábito de utilizar substâncias psicoativas está associado a aprendizagem sobre a experiência que plantas e substratos de origens vegetal podem proporcionar quando falamos de alterações no estado de consciência. No passado, o uso do ópio e de bebidas alcoólicas, era uma prática comum em rituais festivos e religiosos pertencentes a diversas culturas.
No entanto, com o avanço do tempo, diversas substâncias começaram a ser produzidas em grandes escalas, e seu uso desenfreado gerou algumas preocupações. Em meio a esse contexto, estratégias de redução de danos foram desenvolvidas com o objetivo de minimizar os efeitos negativos, individuais e/ou sociais, causados por práticas que podem resultar em danos ou riscos. Conheça o que é essa prática, estratégias para incluir a redução de danos no seu consumo e como garantir que seu uso está sendo feito de uma maneira que inclua essa estratégia.
Mas o que é redução de danos?
A redução de danos, também conhecida pela siga RD, consiste em uma reflexão ampliada sobre a possibilidade de minimizar danos relacionados a alguma prática que possa causar danos individuais ou sociais. Atualmente, a RD é adotada como uma estratégia de saúde pública, e há várias formas controlar possíveis consequências adversas relacionadas ao uso de substâncias.
Por meio dessa iniciativa, a intenção é que todos os usuários de toda e qualquer substância seja capaz de viver uma vida com dignidade, inclusão social e direito à cidadania. Para compreender melhor alguns detalhes de como foi desenvolvida a RD, vamos tentar entender historicamente os motivos que fizeram com que essas práticas, tão importantes, fossem adotadas.
Breve contexto histórico da redução de danos
O primeiro registro da prática de redução de danos se deu na Inglaterra em 1926, quando foi publicado o Relatório Rolleston. Nesse documento, médicos divulgavam conclusões de estudos científicos sobre a impossibilidade de tratar dependentes químicos por meio da imposição da abstinência total de substâncias. Dessa forma, foi recomendado que os profissionais prescrevessem doses moderadas de heroína e morfina para os pacientes.
Após algum tempo, os especialistas perceberam que essa tentativa foi capaz de proporcionar uma vida mais digna e estável para essas pessoas. O sucesso da prática fez com que ela fosse adotada nos sistemas de atenção à saúde em diversos países. Algumas décadas depois, por meio dos projetos de redução de danos, foi possível controlar a troca de seringas entre usuários de drogas injetáveis e dessa forma, diminuir o contágio do vírus HIV, o que funcionou como uma tentativa eficaz no controle da epidemia de AIDS.
Redução de danos no Brasil
No Brasil, as primeiras práticas de RD também objetivavam controlar infecções causadas pelo uso de drogas injetáveis. Apenas por volta dos anos 2000, preocupações a respeito do bem-estar de pessoas que faziam o uso das mais variadas substâncias começaram a ganhar espaço. Nesse momento, houve uma aproximação entre a Redução de Danos e as Políticas de Saúde Mental, que buscaram compreender e implementar políticas que ampliavam o conceito de RD para outros contextos.
Ao longo do tempo, diversas estratégias pautadas na RD foram implementadas no Brasil. Para reduzir danos é necessário unir esforços para termos acesso à informação de qualidade e conteúdos educativos. Em 2019, o governo extinguiu a Política de Redução de Danos, e recursos deixaram de ser direcionados a essa finalidade. No entanto, apesar de muito retrocesso, ainda há muita gente lutando para que a RD continue sendo um direito dos brasileiros. Além disso, se você fuma maconha, é interessante de compreender como essa prática funciona, e como podemos aplicar essas estratégias no nosso contexto pessoal.
Dicas de Redução de Danos no consumo de substâncias psicoativas
Álcool
- Não dirigir alcoolizado
- Intercalar com ingestão de água ou outros líquidos não alcoólicos
- Se alimentar bem
Tabaco
- Usar acessórios como filtro
- Evitar compartilha
- Evitar uso combinado com outras substâncias
Crack
- Se hidratar
- Se alimentar bem
- Não compartilhar materiais
- Evitar fumar a resina
- Evitar objetos de metal
Maconha
- Uso de acessórios (filtros, piteiras)
- Evitar uso combinado com outras substâncias
- Não prender a fumaça
- Atenção com origem e conservação
Cocaína
- Se alimentar e se hidratar bem
- Usar canudo individual e descartável
- Evitar uso combinado com outras substâncias
- Intercalar as narinas
- Fazer o uso em superfícies limpas
- Higienizar vias nasais após o uso
Dicas de Redução de Danos para o consumo de cannabis
Foi apenas no final da década de 90, que as práticas de RD foram associadas ao uso de Cannabis. Essas estratégias, não só envolviam informações sobre o uso, mas também considerações sobre os danos e custos sociais causados por políticas proibicionistas, exigindo assim a necessidade de levar em conta aspectos socioculturais, leis realmente eficazes na promoção da saúde, minimização dos riscos e redução dos custos sociais.
Quando se trata de cannabis, devemos ter consciência que as práticas de consumo entre os usuários não são idênticas. Os efeitos e a experiência individual de cada um dependem de uma série de características que se relacionam entre si, pois cada consumidor possui traços psíquicos e emocionais específicos, e estão inseridos em um contexto ambiental que não deve ser desconsiderado. Além disso, quando se fala de danos, fatores como qualidade e quantidade da substância, circunstância de uso, histórico e padrão de consumo também são essenciais para compreender todas as nuances envolvidas no uso.
Falamos aqui sobre um conceito muito amplo, e a pergunta agora é: será que existem algumas estratégias cotidianas, que podem ser praticadas em casa, e minimizam efeitos negativos ao fumar maconha? A resposta é sim! Segue abaixo alguns exemplos que podem ser praticados dentro das possibilidades de cada um:
– Uso de acessórios para fumar
A queima de qualquer substância produz fumaça, que é responsável por muitos elementos que nosso corpo não é capaz de absorver. Uma estratégia para minimizar o contato direto com a fumaça é o uso de acessórios como filtros, piteiras, bongs! Esses produtos possuem diferentes tamanhos, e os mais longos são conhecidos por reduzir ainda mais os danos, pois aumentam a distância entre a pessoa e a fumaça, e permitem maior tempo de resfriamento. Para conhecer essa variedade e encontrar a sua opção predileta. leia esse texto aqui.
– Evitar o consumo de maconha com outras substâncias
Algumas substâncias ou até alguns alimentos que consumimos no dia a dia, como café e açúcar, possuem em sua composição elementos capazes de causar fortes alterações no nosso corpo. O uso combinado de maconha com essas substâncias, e inclusive com outras drogas, podem provocar alterações mais fortes, e alguns danos que não são previstos inicialmente. No caso de misturas, é sempre bom tomar cuidado.
– Autoconhecimento e cuidado com a mente
Conforme falamos lá em cima, cada pessoa é única! É impossível generalizar os efeitos, e aspectos físicos e mentais quando se fala no uso de substâncias. É muito importante que cada um reconheça o momento ideal, suas limitações, os sinais de seu corpo e mente, e a percepção de si mesmo antes de consumir!
– Lavar o prensado
No Brasil, por diversos motivos, o uso do prensado é bem mais comum! Como muitas vezes durante sua produção e armazenamento, o prensado acaba sendo comprimido junto de outras substâncias que podem ser nocivas. Nesses casos, é indicado lavar antes de consumir. Há maneiras adequadas de lavar e secar o seu prensado, mas já é comprovado que o contato com a água não elimina as substâncias naturais da maconha, apenas as impurezas!
– Evitar as pontas do baseado
É bem comum reutilizar as pontas do baseado ao invés de fumar um novo. No entanto, é importante saber que por aquele baseado já ter sido queimado uma vez, as substâncias nocivas causadas pela combustão estão presentes, e as pontas são as mais prejudicadas. Evitar a reutilização pode ser uma estratégia para minimizar o contato com essas substâncias.
– Origem
É muito comum fumarmos maconha sem saber a origem da planta! Entretanto, pessoas que cultivam a planta em casa, ou em ambientes seguros, sabem exatamente a qualidade do que estão fumando. Sabemos que no Brasil, não somos permitidos a cultivar a planta em casa, mas ao mesmo tempo não podemos deixar de pensar no quanto isso seria interessante para redução de danos e controle de qualidade, né?
– Armazenamento
A maconha é uma plantinha bem sensível, e se armazenada em ambientes inadequados, ela pode acumular mofo e outras substâncias que podem ser tóxicas para os seres humanos! Devemos tomar cuidado com a luz, temperatura, material do recipiente, exposição ao ar, principalmente quando se trata prazos maiores. O armazenamento incorreto, em locais que evitam a proliferação desses microrganismos também é essencial para o cuidado com a saúde antes do consumo.
– Não prenda a fumaça
Há alguns mitos de que quanto mais tempo você prende a fumaça, mais efeito você vai sentir! Já sabemos que isso não é verdade! A absorção de substâncias como o THC é super-rápida, e não há necessidade de estender o contato com a fumaça! Conforma já falamos anteriormente, o contato excessivo com a fumaça, é também uma proximidade mais longa com toxinas! Então, mantê-la presa durante o ato de fumar não é uma opção viável quando se fala em reduzir os danos.
– Outras formas de usar maconha
O consumo da maconha não é reduzido apenas ao ato de fumar. Hoje em dia, a maconha está presente em muitos comestíveis, como brownies, cookies, brisadeiros, pipocas, manteigas, que podem ser produzidos, consumidos, permitem o contato com as substâncias psicoativas da planta, e melhor ainda, você não precisa lidar com possíveis danos causados pela fumaça.
Podemos perceber que a redução de danos é um exercício amplo e generalizado para diversos usos. Esses cuidados são essenciais, adotar esses novos hábitos é importante para ter uma vida mais saudável, com menos riscos e menos danos!