De acordo com o Jornal da USP, cerca de 2% da população mundial sofre com transtorno bipolar. Os medicamentos conhecidos como estabilizadores de humor são indicados para tratar esse e outros tipos de transtornos que afetam o humor. Conforme citado pela acadêmica Giovanna Bingre, em matéria da USP, a bipolaridade não tem cura, mas pode ser controlada por meio de medicamentos, psicoterapia, mudanças de hábitos alimentares, físicos e sociais e também na diminuição ou abolição no consumo de certas substâncias.
Se você tem transtorno de bipolaridade ou mesmo se tem contato com pessoas que possuem, leia o nosso artigo até o final para entender para que serve, quais são os tipos e efeitos colaterais dos estabilizadores de humor e ainda, se existe alguma relação com a cannabis medicinal.
O que é estabilizador de humor?
O estabilizador de humor é uma classe de medicamentos prescritos principalmente para tratar transtornos de humor, como transtorno bipolar e ciclotimia. Sua função principal é regular e estabilizar as flutuações de humor extremas associadas a essas condições. Esses medicamentos são especialmente importantes no tratamento do transtorno bipolar, onde os pacientes experimentam episódios alternados de mania, como estado de alta energia, euforia, impulsividade e depressão – estado de baixa energia, desesperança, tristeza profunda.
O estabilizador de humor ajuda a reduzir a intensidade e a frequência desses episódios, proporcionando um estado emocional mais equilibrado e funcional. Eles atuam de várias maneiras no corpo e no cérebro para alcançar esses efeitos. Um dos mecanismos comuns é o ajuste dos níveis de neurotransmissores no cérebro, especialmente a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, que desempenham papéis cruciais na regulação do humor e do comportamento.
Além disso, alguns estabilizadores de humor também têm propriedades estabilizadoras de íons, o que significa que ajudam a regular os níveis de íons, como o lítio, que podem estar desequilibrados em pessoas com transtorno bipolar.
É importante ressaltar que os estabilizadores de humor não são simplesmente “calmantes” ou sedativos. Eles não apenas reduzem a intensidade dos episódios de mania e depressão, mas também ajudam a prevenir sua recorrência. Isso significa que são frequentemente usados em um regime de tratamento contínuo para manter um estado de humor estável a longo prazo. O tratamento geralmente requer acompanhamento médico regular para ajustar a dosagem conforme necessário e monitorar quaisquer efeitos colaterais.
Além do tratamento principal para transtornos bipolares, também podem ser prescritos para outros distúrbios relacionados ao humor ou sintomas específicos, como agressão impulsiva, irritabilidade persistente ou episódios mistos. Cada paciente pode reagir de maneira diferente a esses medicamentos, e a escolha do estabilizador de humor adequado depende de vários fatores, incluindo a gravidade dos sintomas, a história médica e a resposta individual ao tratamento.
O que é transtorno bipolar?
O transtorno de bipolaridade é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações extremas de humor, que podem variar entre episódios de mania ou hipomania e episódios de depressão.
Essas mudanças podem afetar drasticamente o funcionamento pessoal, social e profissional de uma pessoa, dependendo da gravidade e frequência dos episódios. O tratamento geralmente envolve uma combinação de medicamentos e psicoterapia para ajudar a estabilizar o humor e promover uma melhor qualidade de vida.
Para quem quiser saber de forma detalhada sobre o transtorno bipolar, temos um artigo super completo no nosso blog.
Tipos de estabilizadores de humor
Os estabilizadores são uma classe de medicamentos que podem variar, dependendo da necessidade e dos mecanismos de ação. Os principais e mais utilizados são:
- Lítio
O lítio é um dos estabilizadores de humor mais antigos e eficazes disponíveis para o tratamento de transtornos do humor, especialmente o transtorno bipolar. Ele é um metal alcalino encontrado naturalmente no solo e em muitos alimentos. No contexto médico, o lítio é utilizado na forma de carbonato de lítio ou citrato de lítio.
O principal mecanismo de ação do lítio não é completamente entendido, mas envolve vários efeitos no cérebro:
- Modulação de neurotransmissores: O lítio parece alterar a atividade de neurotransmissores no cérebro, como a serotonina, dopamina e noradrenalina, que desempenham papéis importantes na regulação do humor e do comportamento.
- Estabilização de íons: Uma das características únicas é sua capacidade de estabilizar o equilíbrio de íons no cérebro. Isso é especialmente relevante para pessoas com transtorno bipolar, onde desequilíbrios de íons podem contribuir para os episódios maníacos e depressivos.
Dosagem e administração do lítio:
- Início gradual: A terapia geralmente começa com doses baixas, que são aumentadas gradualmente até atingir a dose terapêutica eficaz. Isso ajuda a minimizar os efeitos colaterais iniciais e permite que o organismo se adapte ao medicamento.
- Monitoramento constante: É crucial monitorar os níveis sanguíneos de lítio regularmente para garantir que estejam dentro da faixa terapêutica eficaz e segura. Níveis de lítio muito baixos podem ser ineficazes, enquanto níveis muito altos podem ser tóxicos.
- Anticonvulsionante
São uma classe de medicamentos inicialmente desenvolvidos para tratar convulsões, mas que também demonstraram eficácia no tratamento de transtornos do humor, como o transtorno bipolar. Esta classe inclui vários medicamentos com diferentes mecanismos de ação, todos eles influenciando o funcionamento dos neurotransmissores no cérebro.
Os mecanismos de ação dos anticonvulsivantes afetam principalmente os neurotransmissores, sendo os principais mecanismos de ação:
- Modulação de canais iônicos: Alguns anticonvulsivantes, como o ácido valproico (ou divalproato de sódio), a carbamazepina e a lamotrigina, atuam modulando canais iônicos no cérebro, o que pode regular a atividade neuronal e estabilizar o humor.
- Regulação de neurotransmissores: Eles também influenciam os níveis de neurotransmissores, como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, que desempenham um papel crucial na regulação do humor.
Vamos trazer alguns exemplos de anticonvulsivantes como estabilizadores de humor:
- Ácido Valproico (Divalproato de Sódio): Atua aumentando os níveis de ácido gama-aminobutírico (GABA), um neurotransmissor inibitório no cérebro, e pode também afetar outros neurotransmissores.
- Carbamazepina: Também é utilizado como estabilizador de humor, especialmente em casos de transtorno bipolar tipo II. Atua principalmente bloqueando canais de sódio e estabilizando a atividade neuronal.
- Lamotrigina: Além de ser um anticonvulsivante, a lamotrigina também é eficaz como estabilizador de humor. Atua inibindo a liberação de glutamato, um neurotransmissor excitatório, e pode ter efeitos moduladores sobre a serotonina.
Dosagem e administração dos anticonvulsionantes:
Assim como o lítio, os anticonvulsivantes são geralmente iniciados com doses baixas, que são aumentadas gradualmente para alcançar o efeito terapêutico desejado.
O monitoramento regular dos níveis sanguíneos e a resposta clínica são essenciais para ajustar a dosagem conforme necessário.
- Antipsicóticos atípicos
São uma classe de medicamentos originalmente desenvolvidos para tratar transtornos psicóticos, como esquizofrenia, mas que também demonstraram eficácia no tratamento de transtornos do humor, atuando como estabilizadores de humor em condições como o transtorno bipolar. Esses medicamentos diferem dos antipsicóticos típicos mais antigos por sua capacidade de não apenas antagonizar os receptores de dopamina, mas também afetar outros neurotransmissores, como a serotonina, noradrenalina e histamina, o que pode proporcionar um efeito mais amplo no cérebro.
Os mecanismos de ação dos antipsicóticos atípicos como estabilizadores de humor atuam principalmente por:
- Bloqueio de receptores de dopamina: Eles bloqueiam os receptores de dopamina no cérebro, o que pode ajudar a controlar sintomas de mania.
- Ação sobre outros neurotransmissores: Além da dopamina, muitos antipsicóticos atípicos também afetam os receptores de serotonina, noradrenalina e outros neurotransmissores, modulando assim a atividade neuronal de maneira mais complexa do que os antipsicóticos típicos.
Exemplos de antipsicóticos atípicos como estabilizadores de humor:
- Olanzapina: Ele funciona bloqueando vários receptores de neurotransmissores, incluindo dopamina e serotonina.
- Quetiapina: Também é utilizado no tratamento do transtorno bipolar, especialmente para controlar sintomas de mania e depressão. A quetiapina tem um perfil de ação complexo, afetando múltiplos sistemas de neurotransmissores.
- Aripiprazol: Este antipsicótico atípico é usado tanto para transtorno bipolar quanto para esquizofrenia. Aripiprazol age como um agonista parcial dos receptores de dopamina, o que significa que ele modula a atividade da dopamina de uma maneira diferente dos antipsicóticos tradicionais.
Dosagem e administração dos antipsicóticos atípicos:
A dosagem e o regime de administração variam de acordo com o medicamento específico e a condição clínica do paciente. A monitorização regular é essencial para avaliar a resposta terapêutica e ajustar a dosagem conforme necessário.
- Antidepressivos
No contexto de estabilizadores de humor, seu papel é mais específico e geralmente limitado a casos em que há uma necessidade de gerenciar sintomas depressivos no contexto do transtorno bipolar.
Os antidepressivos atuam aumentando a disponibilidade de neurotransmissores, como a serotonina, a noradrenalina e, em alguns casos, a dopamina, no cérebro. Isso pode ajudar a melhorar o humor e reduzir os sintomas de depressão. No entanto, seu uso como estabilizador de humor no transtorno bipolar é mais complexo devido ao risco de induzir episódios de mania em alguns pacientes.
Tipos de Antidepressivos Usados como Estabilizadores de Humor:
- Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS): Exemplos incluem fluoxetina, sertralina, paroxetina. Os ISRS aumentam os níveis de serotonina no cérebro, melhorando o humor.
- Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN): Exemplos incluem venlafaxina, duloxetina. Eles aumentam os níveis de serotonina e noradrenalina, proporcionando um efeito antidepressivo mais robusto em alguns casos.
- Outros antidepressivos: Como a bupropiona, que tem uma ação predominantemente sobre a dopamina e noradrenalina.
Dosagem e administração de antidepressivos:
A dosagem dos antidepressivos como estabilizadores de humor é determinada com base na resposta individual do paciente e na gravidade dos sintomas. É comum iniciar com doses baixas e aumentar gradualmente para minimizar os efeitos colaterais e monitorar a resposta terapêutica.
Esses são alguns dos exemplos mais populares quando falamos em tipo de estabilizadores de humor. É importante deixar claro que o uso destes medicamentos devem ser feitos sob a orientação de um médico.
Efeitos colaterais do estabilizador de humor
Assim como qualquer medicamento, os estabilizadores também possuem efeitos colaterais, a depender de cada organismo, interação medicamentosa, uso incorreto e outras variáveis. Além disso, cada tipo de estabilizador poderá trazer um efeito colateral diverso, por isso é fundamental entender e pesquisar com o seu médico, de forma profunda, sobre os componentes de cada um.
Vamos mostrar os efeitos colaterais mais indicados pelos pacientes que utilizam os medicamentos:
- Tremores nas mãos;
- Aumento de peso;
- Sede excessiva e micção frequente;
- Problemas de tireoide, o que pode levar a hipotireoidismo ou hipertireoidismo;
- Problemas renais;
- Sonolência;
- Tonturas;
- Problemas gastrointestinais, como náuseas, vômitos e distúrbios gastrointestinais;
- Sedação;
- Disfunção sexual.
Como falamos ao longo do texto, é fundamental que o paciente esteja ciente dos possíveis efeitos colaterais e para isso, o acompanhamento com um especialista se torna crucial. Dessa forma, você poderá ter os ajustes necessários ou mesmo a troca do medicamente, a depender do caso.
As interações medicamentosas são um aspecto importante a ser considerado no tratamento de transtornos do humor. Estas interações podem afetar a eficácia dos medicamentos, aumentar o risco de efeitos colaterais adversos ou mesmo comprometer a segurança do paciente.
Cannabis e sua relação com o estabilizador de humor
A relação entre a Cannabis medicinal e os estabilizadores de humor ainda é pouco estudada cientificamente. A Cannabis é indicada para tratamento de diversas condições médicas, como ansiedade, depressão, dor crônica, Parkinson, câncer e transtornos de humor. Os seus componentes ativos interagem de forma benéfica trazendo diversos efeitos como ansiolítico e relaxante e propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras.
É importante compreender que as interações medicamentosas desses dois componentes podem ter efeitos adversos, aumentando ou diminuindo a eficácia do medicamento. Além disso, alguns pacientes relatam sintomas psicóticos agudos em pessoas que são mais vulneráveis ou que estão em um estágio mais avançado do transtorno.
Se você tem interesse em utilizar produtos à base de Cannabis, é preciso realizar uma consulta com um médico prescritor para que ele possa verificar o seu estágio e as suas necessidades. A Kaya Mind Saúde pode te ajudar neste processo para que você realize o seu tratamento de forma segura e confortável.
Muito interessante e assertivo este artigo
Obrigada!!!