A cannabis é uma planta repleta de propriedades terapêuticas aplicáveis no tratamento de diversas condições médicas. Essa realidade não é diferente no caso da regulação dos nossos hormônios, que exercem um papel extremamente importante na manutenção da nossa saúde. Nesse texto, vamos compreender o que já se sabe sobre o impacto da cannabis no nosso sistema endócrino.
O que são hormônios
Hormônios são substâncias químicas produzidas por glândulas do sistema endócrino e liberadas na corrente sanguínea para regular diversas funções do corpo. Essas substâncias são importantes na regulação do crescimento, desenvolvimento, metabolismo, função imunológica, reprodução e muitas outras atividades fisiológicas.
As glândulas endócrinas, como a glândula tireoide, hipófise, glândulas suprarrenais, pâncreas, gônadas (ovários e testículos) e outras, secretam diferentes tipos de hormônios. Essas substâncias agem como mensageiros químicos, viajando pelo sangue e interagindo com células-alvo específicas que possuem receptores para esses hormônios. A interação hormônio-receptor desencadeia respostas celulares que regulam as funções do organismo.
Existem vários tipos de hormônios, incluindo hormônios proteicos, hormônios esteroides e hormônios derivados de aminoácidos. Exemplos comuns de hormônios incluem a insulina, que regula o açúcar no sangue, o hormônio do crescimento, que estimula o crescimento e o desenvolvimento, e os hormônios sexuais, como estrogênio e testosterona, que desempenham papéis importantes na reprodução e características sexuais secundárias. O equilíbrio adequado desses hormônios é essencial para manter a homeostase e a saúde geral do organismo.
O que é a endocrinologia
A endocrinologia é a especialidade médica que se dedica ao estudo do sistema endócrino, que é composto por glândulas endócrinas responsáveis pela produção e liberação de hormônios no organismo. Os hormônios são substâncias químicas que desempenham um papel crucial na regulação de várias funções corporais, como crescimento, metabolismo, reprodução, resposta ao estresse e muitas outras.
Os médicos endocrinologistas são profissionais especializados em diagnosticar e tratar distúrbios hormonais e desequilíbrios do sistema endócrino. Eles lidam com uma ampla gama de condições, incluindo diabetes, distúrbios da tireoide, distúrbios das glândulas suprarrenais, distúrbios hormonais relacionados à reprodução, entre outros.
Os endocrinologistas utilizam uma variedade de abordagens para diagnosticar e tratar problemas endócrinos, incluindo testes laboratoriais para medir os níveis hormonais, imagens médicas, medicamentos e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos. O objetivo é restaurar o equilíbrio hormonal e otimizar a saúde do paciente.
Além disso, a endocrinologia está relacionada ao acompanhamento de pacientes com condições crônicas, como diabetes, para garantir um gerenciamento adequado da doença e prevenir complicações a longo prazo. A colaboração com outros profissionais de saúde, como nutricionistas e especialistas em diabetes, também é comum no campo da endocrinologia.
Quando procurar um endocrinologista?
Deve-se procurar um endocrinologista quando houver sinais ou sintomas de desequilíbrios hormonais ou doenças relacionadas ao sistema endócrino. Alguns dos motivos comuns para procurar um endocrinologista incluem:
- Diabetes: Se você apresentar sintomas como sede excessiva, micção frequente, fome constante, perda de peso inexplicada, fadiga ou visão turva, pode ser indicativo de diabetes;
- Problemas da tireoide: Se houver sintomas como ganho ou perda de peso inexplicado, fadiga, mudanças na pele e no cabelo, intolerância ao frio ou calor, pode ser necessário avaliar a função da tireoide;
- Distúrbios da menstruação e fertilidade: Se houver irregularidades menstruais, amenorreia (ausência de menstruação), dificuldades de engravidar ou outros problemas relacionados à saúde reprodutiva;
- Distúrbios das glândulas suprarrenais: Se você tiver sintomas como fadiga extrema, fraqueza muscular, pressão arterial baixa, ou se for diagnosticado com doenças como a síndrome de Cushing ou insuficiência adrenal;
- Puberdade precoce ou atrasada: Se houver preocupações sobre o desenvolvimento sexual e puberdade em crianças;
- Distúrbios do crescimento: Se uma criança não estiver crescendo adequadamente;
- Hirsutismo ou acne persistente: Para avaliação de problemas hormonais relacionados a excesso de pelos (hirsutismo) ou acne persistente;
- Osteoporose: Se houver preocupações com a saúde óssea, especialmente em casos de fraturas frequentes ou osteoporose;
- Sintomas de desequilíbrio hormonal: Como alterações repentinas de peso, mudanças de humor significativas, entre outros.
Se você estiver experimentando algum desses sintomas ou tiver preocupações sobre sua saúde hormonal, é recomendável marcar uma consulta com um endocrinologista. Além disso, caso já tenha sido diagnosticado com uma condição endócrina e esteja buscando tratamento ou acompanhamento, o endocrinologista será o profissional mais indicado. O encaminhamento para um endocrinologista geralmente é feito pelo médico de cuidados primários, mas em alguns casos, é possível marcar uma consulta diretamente.
Como a cannabis atua na regulação dos nossos hormônios
Diversos benefícios ocorrem em função da presença do sistema endocanabinóide no nosso corpo. Esse sistema é composto por uma série de receptores endocanabinóides, ou seja, estruturas que interagem diretamente com as substâncias provenientes da maconha, e promovem a homeostase. O principal efeito da homeostase é a regulação do nosso organismo, que afeta inclusive a nossa produção de hormônios.
A relação entre a cannabis e os hormônios foi investigada em um estudo que analisou os efeitos do consumo de cannabis, por diferentes vias (oral, fumada e vaporizada), nas concentrações periféricas de hormônios relacionados ao apetite e ao metabolismo em usuários ocasionais e frequentes de cannabis. Os resultados destacaram uma influência significativa da cannabis nas concentrações sanguíneas de insulina, GLP-1 e grelina total. Especificamente, o consumo de cannabis reduziu significativamente os picos de insulina que são tipicamente induzidos pela ingestão de alimentos, sugerindo um papel da cannabis na regulação do metabolismo da glicose e, por extensão, do equilíbrio energético. Este estudo indica que o sistema endocanabinoide interage com múltiplas vias centrais e periféricas, como cérebro, pâncreas e fígado, modulando a função, proliferação e sobrevivência das células beta pancreáticas, bem como a produção, secreção e resistência à insulina.
Além disso, o estudo mostrou que a administração de cannabis também modulou as concentrações sanguíneas de GLP-1, um hormônio associado ao metabolismo da glicose e à insulina. As concentrações de GLP-1 foram menores durante as sessões de administração de cannabis em comparação com o placebo, o que está alinhado com os efeitos observados na insulina. GLP-1, um peptídeo de 30 aminoácidos, é produzido principalmente por células endócrinas no intestino e contribui para a regulação dos níveis de glicose no sangue, principalmente estimulando a secreção de insulina e inibindo a secreção de glucagon pelo pâncreas.
O estudo também encontrou uma correlação positiva entre o THC e os níveis de grelina total, mas apenas durante a sessão de cannabis vaporizada. A grelina, conhecida como o “hormônio da fome”, desempenha um papel integral na iniciação das refeições, apetite e ingestão de alimentos, além de estar envolvida na homeostase da glicose, pois inibe a secreção de insulina e modula a sensibilidade à insulina, levando a níveis aumentados de glicose no sangue.
Esses resultados sugerem que a cannabis pode influenciar o sistema endócrino e a regulação hormonal, particularmente em relação aos hormônios que afetam o metabolismo da glicose e o apetite. No entanto, a complexidade dessas interações e os efeitos específicos da cannabis em diferentes condições e populações ainda requerem mais pesquisas para serem completamente entendidos.
Embora o uso recreativo da cannabis seja frequentemente associado ao estímulo da fome, o uso medicinal da cannabis pode resultar em efeitos totalmente opostos, que vão na direção das necessidades de cada paciente. Há evidências, que alguns canabinoides, como o THCv podem exercer um efeito importante na regulação do metabolismo e promover o emagrecimento. É constatado que a cannabis é repleta de substâncias terapêuticas, e que a combinação entre diferentes fitocanabinoides pode proporcionar resultados surpreendentes em nosso organismo. O efeito entourage é um fenômeno importante nesse processo, pois permite que os canabinoides atuem de forma sinérgica. Essas evidências mostram que o potencial terapêutico da cannabis pode ser uma alternativa no tratamento de pessoas com diabetes ou obesidade.
Além disso, quando falamos de saúde da mulher, estudos científicos mostram que a cannabis pode ser benéfica tanto na regulação de cólicas menstruais, estresse, ansiedade e até na menopausa.
Os estudos sobre cannabis e hormônios ainda estão em estágios iniciais e precisam ser explorados. Esperamos que mais evidências sejam encontradas para que pacientes que enfrentam alguma condição relacionada aos hormônios, possam se beneficiar do potencial terapêutico da planta.
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