Um dos insumos provenientes do cânhamo, variedade com da Cannabis sativa L., é sua semente, que por conter uma variedade de nutrientes importantes, é considerada uma super semente – esse termo vem da definição de superfood ou superalimento, em português. Ela é utilizada para diferentes fins e tem diversas aplicações industriais, passando pela indústria alimentícia, de bebidas, suplementos e até de ração animal.
Os movimentos por um estilo de vida mais saudável
Nos últimos anos, pessoas em todo o mundo se tornaram mais conscientes sobre a importância da saúde e do bem-estar. Para alinhar a terminologia, as palavras “saúde” e “bem-estar” são geralmente descritas como estados de boa disposição física e psíquica de um indivíduo.
Na maioria das vezes, alcançar uma ótima saúde mental e física envolve um mergulho profundo nos mercados de saúde e bem-estar. É possível acompanhar, por meio de estudos, que as pessoas que desejam ter um estilo de vida mais saudável devem se concentrar no desenvolvimento de bons hábitos alimentares, ao lado de um estilo de vida ativo, onde o condicionamento físico é a principal prioridade.
Em meio a uma pandemia global, a busca por alternativas mais saudáveis tem sido ainda mais crescente. Algumas dietas adquirem cada dia mais seguidores, em especial a do vegetarianismo e as dietas sem glúten e lactose. No Brasil, segundo pesquisa do Ibope e publicada pelo Sebrae, 15,2 milhões de brasileiros se declaram adeptos do vegetarianismo, representando 8% da população do país. Além disso, esse público cresce entre a terceira idade.
Segundo dados da agência de pesquisa Euromonitor, analisados pelo Sebrae, o mercado de alimentação saudável, também relacionado ao bem-estar, cresceu muito no Brasil e movimenta US$ 35 bilhões anualmente, ocupando o lugar de quarto maior mercado do mundo. Considerando esses valores e uma tendência mundial que enxerga no cânhamo uma alternativa a muitas formas de consumo não sustentáveis, pode-se dizer que o setor alimentício é um dos principais onde a cannabis pode trazer um impacto positivo e de alta abrangência.
Sementes de cânhamo como uma alternativa mais saudável
Porém, como o cânhamo poderia surgir como uma alternativa? De forma expressiva, a principal mudança viria a partir das sementes de cânhamo que contêm níveis de proteína semelhantes aos da carne bovina e de cordeiro. Com 25% de suas calorias provenientes de proteínas, apenas 30 gramas de sementes de cânhamo, isto é, de 2 a 3 colheres de sopa, contêm cerca de 11 gramas de proteína. Mais do que isso, as sementes de cânhamo são consideradas uma fonte de proteína completa – algo raro no mundo das plantas –, o que significa que fornecem todos os aminoácidos essenciais para uma dieta balanceada.
As sementes de cânhamo são conhecidas como superfoods (superalimentos, em português) ou super sementes, e também são matéria prima para outros produtos de origem animal além da carne, como leite e queijos.
Por que a semente do cânhamo é uma super semente?
A semente do cânhamo tem muitos nutrientes atrativos para o consumo diário. Além de ter uma quantidade significativa de proteína, podendo ser usado como substituto ou complemento do famoso whey protein, contém vitaminas A, C, D e E, fibras, componentes antioxidantes e minerais como ferro, cálcio e fósforo.
Esses compostos oferecem uma série de benefícios, como reduzir desconfortos digestivos, aumentar o HDL (colesterol bom), diminuir riscos de doenças cardiovasculares, e ajudar a prevenir diabetes e osteoporose. Ainda, contêm poucas calorias e gorduras totais. Todas essas características se encaixam perfeitamente na definição de superfood e, por isso, a semente do cânhamo é caracterizada como super semente.
Formas de consumir a semente do cânhamo
A semente do cânhamo pode ser consumida in natura, em iogurtes, smoothies, frutas e saladas. Também pode ser processada em forma de carne ou leite vegetal, tornando-se uma alternativa nutritiva para dietas vegetarianas ou veganas e para pessoas com intolerância à lactose. Esse ingrediente também pode ser transformado em farinha, atendendo às necessidades de pessoas celíacas ou intolerantes à glúten, por exemplo.
A semente do cânhamo também pode ser consumida por animais quando em forma de óleo, farinha ou bolo. Ela vem sendo utilizada como ração para bois, porcos e galinhas em diversos países onde há regulamentação da planta, o que acaba por gerar alimentos mais nutritivos para os seres humanos – os ovos de galinhas alimentadas com semente de cânhamo em comparação com os ovos normais, por exemplo, podem ter três vezes mais ômega-3, quatro vezes mais vitamina D, 30% a mais de luteína, duas vezes mais vitamina B12, maior nível de proteína; e outros nutrientes como vitamina B5, vitamina E, biotina, colina, selênio.
Ainda, a semente do cânhamo é descascada e transformada em grão, pode ser prensada e transformada em óleos, podendo ser ingredientes de cosméticos, cremes, bálsamos e outros produtos.
Óleo da semente de cânhamo
O óleo da semente do cânhamo é extraído, como diz o nome, da semente. Ele contém proteína, ômega-3, ômega-6, vitaminas e ácidos graxos essenciais e suas quantidades de THC, CBD e outros fitocanabinoides são insignificantes. Por conta dessas propriedades, é fonte de proteína vegetal, previne doenças cardiovasculares, inflamações, é antibactericida, trata acne e outras doenças da pele, entre outras.
Ainda, pode ser usado na culinária, em cosméticos, produtos industriais, suplementos e mais. No Brasil, no entanto, o acesso a esse insumo ainda é proibido, pois o cânhamo não tem cultivo permitido no Brasil e as importações de seus derivados estão em uma zona legal cinzenta.
Óleo da flor de cânhamo ou óleo de CBD
Já o óleo da flor do cânhamo, considerado óleo de CBD, é extraído das flores e, em alguns casos, até de galhos e folhas, os quais também contêm fitocanabinoides e outros princípios ativos. É composto majoritariamente de CBD, pois o cânhamo é cultivado com quantidades baixas de THC que não causam efeitos psicotrópicos – esse nível de concentração é definido de acordo com a regulamentação de cada país e pode variar de 0,2% a 2%.
O uso do óleo de CBD também se difere do óleo de semente de cânhamo. O insumo extraído das flores é usado de forma terapêutica para controlar a dor, relaxar, diminuir a ansiedade e também pode ser usado em cosméticos. Esse produto, no entanto, é possível de obter no Brasil, pois a regulamentação via Anvisa permite sua importação para fins medicinais. Além disso, há, também, outras formas de conseguir acesso ao óleo de CBD, por meio de associações, farmácias, ou auto cultivo autorizado por habeas corpus.
Óleo de semente de cânhamo X Óleo de flor de cânhamo (CBD)
As principais diferenças entre o óleo da semente e da flor do cânhamo, portanto , estão nas partes das quais são extraídos os óleos, sendo um da semente e outro da flor. Ainda, os componentes dos insumos e as aplicações nas indústrias e no dia a dia se diferem, bem como as formas de acesso no Brasil.
Essas são apenas duas matérias-primas importantes geradas a partir do cânhamo e que podem atingir inúmeros setores, o que beneficiaria muito o Brasil em um cenário de regulamentação. No relatório “Cânhamo no Brasil”, a Kaya Mind trouxe informações essenciais para entender como se daria um mercado de cânhamo no país, desde suas aplicações nas indústrias até uma projeção de mercado. Leia aqui.
Cuidados necessários com as publicidades em produtos de cannabis
O processo de regulamentação e legalização da cannabis está acontecendo de diferentes formas ao redor do mundo e ainda não há, no conceito de nenhum especialista, um modelo ideal a ser seguido, pois cada nação teve uma tratativa e consequências diferentes com a proibição. Nesse momento, torna-se importante aprender com o erro de nações vizinhas que estão à frente no processo, sendo, para o Brasil, o exemplo uruguaio, canadense e estadunidense.
Quando se trata da diferença entre os óleos, algo possível de acompanhar que acontece nesse mercado é a confusão — intencional ou não — que as marcas começam a criar quando mesclam termos e benefícios de diferentes produtos de cannabis e cânhamo. Como o CBD e o óleo de semente de cânhamo estão na mesma família da cannabis, muitas vezes eles são comercializados incorretamente como o mesmo produto. Isso acontece, pois os consumidores estão dispostos a pagar mais por um produto que tem em sua composição o óleo de CBD, um ingrediente mais caro do que o óleo da semente, por exemplo.
No Brasil, um exemplo disso é o CBA, um composto não derivado da maconha, mas que, devido a sua atuação no sistema endocanabinoide, é colocado em fórmulas de cosméticos para tentar abraçar uma fatia do mercado que busca os benefícios do CBD. No entanto, pela falta de regulamentação, não é possível encontrar este último ingrediente em produtos nacionais.
Acesso à semente do cânhamo no Brasil
No Brasil, a semente do cânhamo não é regulamentada e, portanto, não é de fácil acesso. Apesar de conter menos de 1% de nível de THC, substância psicotrópica da cannabis que é buscada por seus efeitos recreativos, ela é ainda considerada uma substância controlada e não pode ser comercializada.
No entanto, os outros insumos do cânhamo, como os medicamentos, podem ser acessados por meio de importação desses produtos via Anvisa. As fibras também podem ser acessadas, mas não são regulamentadas – existe uma brecha legal que permitiu com que marcas brasileiras, como Osklen e Reserva, importassem tecidos à base da planta e fabricassem roupas com esse material.
Para entender como a regulamentação da cannabis, inclusive do cânhamo, poderia beneficiar os brasileiros e a projeção que esse mercado tem no país, acesse o relatório gratuito da Kaya Mind, lançado em 2022, “Cânhamo no Brasil”.