A cannabis é composta por múltiplas substâncias que possuem uma série de propriedades terapêuticas e por isso muitas pessoas tem se interesado pelo auto cultivo da planta.
As substâncias mais conhecidas, chamadas de canabinoides, têm mostrado grande potencial analgésico, anti-inflamatório, antidepressivo, anticonvulsivo, e por essas razões fazem da cannabis uma alternativa cada vez mais utilizada no tratamento de diversas condições médicas (você pode entender com mais detalhes nesse ebook gratuito).
Atualmente, os produtos à base de cannabis podem ser vendidos em farmácias no Brasil ou importados. No entanto, para adquirir esses produtos, é necessária a apresentação de prescrição médica e a ANVISA fiscaliza e aprova ou impede a compra. Apesar dos avanços, o tratamento com canabidiol ainda envolve desafios burocráticos e altos custos, o que limita o seu acesso a muitos brasileiros.
O que é o auto cultivo de maconha?
O auto cultivo de cannabis é a possibilidade de cultivar a planta e acompanhar todo o seu desenvolvimento dentro de casa, sem que seja necessário recorrer a outras fontes para usufruir de seus benefícios. No Brasil, o auto cultivo de cannabis não é permitido, e o único recurso legal para ter o direito de cultivar a planta, é por meio do Habeas Corpus, uma medida judicial que garante que algumas pessoas têm o direito de plantar, sem riscos de possíveis problemas com a lei. No entanto, o Habeas Corpus é um processo complexo, que exige que a pessoa reúna laudos, orçamentos, prescrições, e outros documentos que comprovem a necessidade do cultivo da maconha para fins medicinais. Além disso, até hoje no Brasil, estimamos que apenas cerca de 2.000 pessoas têm autorização para fazer o plantio em casa.
Quando se trata de auto cultivo, é importante destacar que a maconha apresenta alguns diferenciais que tornam o seu plantio um pouco mais complexo que o de outras plantas. Os interessados devem saber que o seu crescimento depende de uma série de variáveis e muita atenção. Principalmente quando se trata da obtenção de flores de qualidade, é importante estar atento aos diversos aspectos que envolvem todas as etapas desse processo. Então vamos entender melhor seus benefícios, cuidados e outros fatores importantes.
Benefícios de fazer o auto cultivo de cannabis
O contato com a natureza e a proximidade no cuidado de plantas é considerada uma atividade terapêutica. Seus benefícios já foram cientificamente comprovados e incluídos nas práticas de saúde mental. Quando se trata de cannabis, independente da finalidade do consumo, o plantio pode ser benéfico por diversos fatores. No caso do uso recreativo, o auto cultivo é considerado uma das grandes estratégias de redução de danos, pois o consumidor sabe sua origem, acompanha de perto todas as etapas do desenvolvimento da planta, e participa do controle de qualidade de seu produto final.
Em relação aos fins medicinais, o cultivo de cannabis facilita o acesso ao produto, o paciente exerce seu direito à autonomia, engajamento em seu tratamento e diminui seus custos, por meio de uma opção que pode ser segura e econômica. Vale destacar que cada tratamento inclui o uso de variações de canabinoides, com doses e concentrações diferentes. A produção artesanal do medicamento exige também a aprendizagem de extração dos canabinoides, que envolve diferentes métodos, e precisa ocorrer com responsabilidade.
Nesse contexto, os testes genéticos já estão disponíveis no mercado e são uma ferramenta que auxilia na compreensão de como cada indivíduo metaboliza os canabinoides, o que ajuda a identificar as melhores doses, concentrações, cepas e outros detalhes por meio do mapeamento do perfil genético de cada pessoa (compreenda melhor aqui).
Cuidados ao fazer o auto cultivo de maconha
Quando se trata de auto cultivo de cannabis, é sempre importante reforçar que o plantio não é permitido no Brasil, e as decisões sobre esse assunto precisam ser tomadas com cautela. Lembre-se também que o Habeas Corpus é uma medida exclusiva do uso medicinal, não sendo direcionada ao uso recreativo e sim ao uso medicinal.
Como a cannabis é uma planta que necessita de cuidados muito especiais, o auto cultivo é bem mais comum no mercado ilegal, e muito provavelmente, a regulamentação diminuiria sua prática. Cultivar cannabis é uma proposta interessante e cheia de benefícios, mas infelizmente não devemos deixar alertar sobre a atual legislação do país quando nos referimos a esse assunto. Abaixo falaremos com mais detalhes sobre as particularidades desse plantio.
Técnicas que devem ser levadas em consideração antes de começar a fazer o auto cultivo de maconha
Tipo de cultivo: Indoor ou Outdoor
A primeira coisa que você deve saber, é que a maconha pode crescer em diferentes espaços. Os especialistas no assunto chamam esses ambientes de Grow. Algumas pessoas optam por plantar dentro de casa, o que chamamos de cultivo indoor, e nessa opção, lidam com mais proximidade a alguns aspectos do cultivo, enquanto outras preferem optar pelo cultivo céu aberto, o outdoor! Mas o que isso muda no resultado final?
Cultivo Outdoor: Assim como em plantações mais tradicionais, esse tipo de cultivo conta com condições naturais de iluminação, umidade e ventilação, mas ao mesmo tempo, é mais fácil lidar com imprevistos da natureza, envolvendo condições climáticas e até animais e pragas. De certa forma, é considerado uma opção mais barata, mas dependendo do ambiente, as plantas ficam expostas e chamam atenção. Por esse motivo, muitas pessoas optam por locais mais discretos.
Cultivo Indoor: Essa opção consiste em cultivar a planta em ambientes fechados, como por exemplo um cômodo da sua casa. A grande vantagem desse estilo, é a proximidade e o controle de variáveis como tempo de exposição à luz, umidade e temperatura. Esse processo pode ter o custo mais alto, pois o cultivador controla essas variáveis mais de perto, e muitas vezes faz o uso de alguns equipamentos, como ventiladores, estufas, lâmpadas, refletores, que não são exigidos quando a maconha cresce a céu aberto.
Sexo da planta
Outro aspecto que influencia totalmente os objetivos de quem quer cultivar maconha, é aprender a identificar o sexo da planta. Existem plantas de sexo feminino e masculino, entender melhor como cada uma funciona ajuda a compreender qual a melhor forma de lidar na hora de plantar. É importante reconhecer o sexo da planta o mais cedo possível, pois grande parte das pessoas prefere cultivar as fêmeas e usufruir dos seus benefícios. Conheça mais sobre essas diferenças nesse texto aqui.
Sementes e clones
Para iniciar o cultivo, é importante você saber que independente de ambientes indoor ou outdoor, há duas opções possíveis: sementes ou mudas feitas por estaquia (clones).
As sementes são conhecidas por gerarem plantas maiores e bem potentes. Existem vários tipos de maconha, você pode entender melhor cada uma nesse texto aqui, e consequentemente, há disponível inúmeros tipos de sementes. Muitas vezes, são consideradas uma opção mais cara e por esse motivo, é sempre importante estar atento ao fornecedor e a origem dessas sementes.
Já os clones ou mudas por estaquias, são as cópias da planta-mãe. Para os growers (os cultivadores) que optam por plantas do sexo feminino, o clone garante esse controle, por se tratar de uma cópia exata da planta de origem, que possui a mesma genética. Essa também é uma opção mais ágil, pois o crescimento vegetativo das plantas originadas por clones é mais acelerado do que o gerado a partir da semente.
Solo
O solo é outra variável determinante para o plantio. Solos orgânicos, mais “naturais” são repletos de microorganismos que podem beneficiar ou prejudicar o cultivo. Já solos inertes, que não possuem esses elementos, permitem que o grower controle os nutrientes necessários para o crescimento da planta. Para a obtenção de um solo adequado, deve-se levar em conta o clima da região e o tipo de planta a ser cultivada. Especialistas sugerem que o solo ideal para o cultivo da cannabis deve incluir elementos como fibra de coco, turfa, perlita e nesse contexto, quem planta maconha em solos inertes costuma investir em fertilizantes e nutrientes que colaborem para o desenvolvimento mais saudável da cannabis. As “growshops” são lojas especializadas em comercializar esses produtos, que possuem diversas variações para cada objetivo.
Processo de germinar as sementes
Para quem opta por sementes, após definir o ambiente de cultivo, é o momento de pensar na melhor maneira de germinar as sementes. É importante saber, que existem várias maneiras de concluir essa etapa e cada um pode escolher o método de sua preferência. No entanto, é válido destacar que o processo de germinação envolve manter as sementes úmidas para que elas brotem, e para isso, um local escuro é essencial. Algumas pessoas fazem o uso de alguns utensílios como papel-toalha, algodão e vasilhas. Após colocar as sementes nesses recipientes, sobre um papel toalha úmido, as regam com cuidado e as depositam em um ambiente escuro para que o processo dê início. No geral, essa etapa não ultrapassa 48 horas, e elas já podem ser colocadas em seus respectivos vasos.
O crescimento da planta
O ciclo de vida da maconha é bem específico, e no geral conta com duas fases: o período vegetativo e o período de floração.
Período vegetativo: Nesse momento, a maconha cresce, desenvolve suas raízes, galhos e folhas. Essa etapa costuma durar de 8 a 16 semanas e antecede a produção de flores. Geralmente, nessa fase, quem opta pelo cultivo indoor deixa a luz disponível por aproximadamente 18 horas e a planta no escuro por 6 horas.
Em ambientes externos, a maconha depende da iluminação natural e das condições climáticas. Nesse caso, períodos do ano com dias mais longos e iluminados são ideais para o desenvolvimento da planta.
Período de floração: Com as folhas e galhos já desenvolvidos, começa o processo de floração, que dura em torno de 8 a 12 semanas. É nessa fase que os canabinoides, terpenos, pistilos e tricomas são desenvolvidos, e a planta precisa de menos tempo de exposição à luz. Geralmente, 12 horas no escuro e 12 horas de iluminação são suficientes para que concluir essa etapa com eficácia, levando bem a sério os momentos em que ela precisa de luz, e os em que a escuridão é necessária.
Tempo de colheita
Conforme vão ganhando mais experiência, os cultivadores optam por seu tempo e método de colheita preferencial. No entanto, há dois sinais importantes de se analisar para identificar que esse momento está chegando.
- Os pistilos (formações alongadas e parecidas com o cabelo) mudam de coloração e vão escurecendo com o passar do tempo. Pistilos escurecidos indicam que esse ciclo já pode ser iniciado
- Os tricomas (estruturas bem pequenininhas e cheias de resina) ficam na superfície da flor da maconha, e é legal observá-los detalhadamente com a ajuda de uma lupa. Grande parte dos cultivadores optam por colher as flores quando a maioria dos tricomas estão bem brancos, e ainda há alguns levemente esverdeados.
Secagem
Depois da colheita, é bem importante que a planta seque em um ambiente adequado. Para isso, o ideal é um local seco, escuro, e com uma temperatura favorável. Nos primeiros três dias, é sugerido um ambiente a 20ºC, e após esse período a temperatura pode ser reduzida. É recomendado que o ar circule em torno da planta, como se fosse uma secagem lenta, pois acelerar esse processo implica na perda de alguns compostos importantes das flores. Para checar se o processo já terminou, ao tentar quebrar um galho, um barulho de estalo seco indica que a etapa chegou ao fim.
Cura e armazenamento
Por último e não menos importante, o cuidado no processo de cura e armazenamento é essencial para manter a qualidade da planta. É importante guardar em potes de vidro herméticos, que ajudam a conservar os sabores e aromas. Após um tempo, cerca de dois ou três dias, você pode abrir os potes para promover a circulação do ar. Ao finalizar essa etapa, é só usufruir o melhor que a planta tem a te oferecer, com consciência, informação e responsabilidade!
A importância do auto cultivo da cannabis
Podemos perceber que a cannabis é uma planta que apresenta composição, estrutura e desenvolvimento complexo. Nessa mesma direção, seus múltiplos potenciais e seus diferentes usos também são cercados de debates que dividem opiniões. No entanto, é inegável que o mercado da cannabis tem se expandido nos últimos anos, assim como a percepção sobre a necessidade de seu uso terapêutico no âmbito da saúde.
Cultivar cannabis não é uma tarefa e nem uma decisão fácil, mas esperamos que investimentos em pesquisas e informações adequadas possam garantir o acesso, a autonomia, o direito e a liberdade das pessoas optarem por possibilidades que façam sentido para cada uma delas.