Quando falamos em substâncias psicoativas, o imaginário coletivo muitas vezes associa o termo a riscos, dependência e efeitos colaterais severos. Mas e se disséssemos que existe uma substância considerada por especialistas como a droga recreativa mais segura do mundo? De acordo com o Global Drug Survey 2017, essa é a posição ocupada pelos cogumelos com psilocibina, também conhecidos como “cogumelos mágicos”. A dúvida é: o cogumelo é a droga mais segura para ser consumido?
Mas como assim seguros? E em que contexto essa segurança é avaliada? Neste artigo, vamos explorar o que a ciência diz sobre os cogumelos psicodélicos, o porquê de sua boa reputação quando comparados a outras substâncias e o que isso significa do ponto de vista da saúde pública, da regulamentação e do uso consciente.
Cogumelos mágicos: o que são?
Antes de mergulhar nos dados e na ciência, vale um breve panorama: os cogumelos psicodélicos são espécies naturais que contêm psilocibina e psilocina, compostos que agem no cérebro humano alterando a percepção da realidade, o humor e o comportamento. São usados há milhares de anos em contextos ritualísticos e medicinais por diferentes culturas — e só recentemente a ciência moderna voltou sua atenção para eles com mais seriedade.
Hoje, com o avanço das pesquisas e a redescoberta dos usos terapêuticos dos psicodélicos, os cogumelos ganham cada vez mais espaço em discussões que envolvem saúde mental, autocuidado e até espiritualidade. Mas será que, no meio disso tudo, dá pra dizer que são mesmo seguros?
Cogumelo é a droga mais segura para consumo?
Segundo o Global Drug Survey 2017, sim. O relatório, que é considerado o maior estudo independente sobre uso de drogas no mundo, analisou o comportamento de mais de 120 mil pessoas em 50 países. Entre os dados mais impressionantes está o que aponta os cogumelos com psilocibina como a substância com menor índice de atendimentos médicos de emergência: apenas 0,2% dos usuários relataram ter buscado auxílio médico após o consumo.

Para ter uma ideia, outras substâncias populares apresentaram números muito maiores:
Esses dados sugerem que, mesmo entre os usuários recreativos — que consomem as substâncias fora de contextos clínicos ou supervisionados —, os cogumelos apresentam menos complicações de saúde imediatas.
Mas o que justifica essa diferença? De maneira geral, os especialistas explicam que os cogumelos possuem um baixo potencial de toxicidade física, não provocam dependência química e seus efeitos, apesar de intensos, tendem a passar sozinhos após algumas horas.
O que a ciência diz sobre o cogumelo ser a droga mais segura?
Com o avanço das pesquisas em psicodélicos nos últimos 10 anos, universidades como Johns Hopkins, Imperial College London, Yale e USP têm concentrado esforços para estudar os impactos da psilocibina no cérebro humano.
Estudos publicados em periódicos como Neuropsychopharmacology, Nature e Frontiers in Psychiatry reforçam que a psilocibina, quando administrada em doses controladas, pode oferecer benefícios para transtornos como depressão, ansiedade, TEPT e até vício em nicotina e álcool. E o mais importante: esses efeitos positivos têm sido observados com baixíssima ocorrência de efeitos colaterais graves.
Um exemplo recente é o estudo da Yale School of Medicine (2021), que demonstrou que a psilocibina produziu conexões neurais mais duradouras no cérebro de pacientes com depressão severa. Já a Johns Hopkins vem liderando pesquisas com psilocibina para cuidados paliativos, com foco na redução da ansiedade em pacientes terminais.
Mas vale um alerta: o ambiente onde o cogumelo é consumido é determinante para o tipo de experiência que será vivida. Muitos dos casos de emergências relatadas em hospitais estão mais ligados à ingestão irresponsável (doses muito altas, contextos inseguros, histórico de doenças mentais) do que à substância em si.
Por que os cogumelos estão voltando ao debate?
Existem diversos motivos pelos quais os cogumelos estão ganhando popularidade nos últimos anos — e eles vão muito além da curiosidade ou da tendência “naturalista”.
- Demanda por terapias alternativas: Há uma crise global de saúde mental e muitos pacientes buscam tratamentos que vão além dos antidepressivos convencionais.
- Estudos cada vez mais robustos: As evidências científicas sobre segurança e eficácia estão se multiplicando, inclusive com apoio de governos e empresas farmacêuticas.
- Mudança na percepção cultural: O estigma em torno dos psicodélicos está diminuindo, e eles deixam de ser vistos como “drogas perigosas” para ocuparem o lugar de ferramentas de autoconhecimento e cura.
O Brasil está acompanhando esse movimento?
Sim, mesmo que a passos lentos. Em 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu a primeira autorização para um estudo clínico com psilocibina no país. Além disso, diversas universidades brasileiras estão promovendo seminários, grupos de pesquisa e simpósios sobre psicodélicos.

Na prática, a comercialização e o cultivo continuam proibidos, mas há uma clara movimentação no campo científico, e o Brasil começa a acompanhar a transformação que já ocorre nos EUA, Canadá, Reino Unido e países da União Europeia.
A legalização e descriminalização da cannabis medicinal, ainda que limitada, abriu caminhos importantes para o debate sobre o uso terapêutico de substâncias antes estigmatizadas. E os cogumelos psicodélicos estão no centro dessa nova onda de estudos, legislação e possibilidades terapêuticas.
O cogumelo é a droga mais segura – ou uma das drogas – que existem para consumo, especialmente se comparado a substâncias como álcool, cocaína ou mesmo medicamentos de tarja preta.
Mas essa segurança está condicionada a informação, ambiente, preparação e acompanhamento. O uso de psilocibina — seja em contexto terapêutico ou pessoal — não é brincadeira. Ele exige respeito à substância, cuidado com a saúde mental e disposição para refletir sobre os próprios limites.
Se a ciência está indicando um novo caminho, cabe a cada pessoa — e sociedade — decidir como trilhá-lo com consciência, responsabilidade e ética.
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