O tabaco acompanha a história de diversas civilizações. Há milhares de anos, a folha o era utilizada por tribos sul-americanas durante rituais religiosos. Com o passar do tempo, o tabaco se difundiu por todos os continentes e explorado como uma alternativa terapêutica. Atualmente, a indústria tabagista se expandiu e o potencial econômico impacta diretamente na economia brasileira e mundial.
O que é tabaco e para que serve?
A palavra tabaco teve origem no século IX no continente asiático, e deriva do termo árabe tabbâq, que se referia a plantas fumadas em cachimbos com o formato de tubos de bambus. Essa terminologia foi designada a todos os produtos procedentes das folhas de um vegetal chamado Nicotiana tabacum.
Essa planta pode ultrapassar dois metros de altura e possui folhas grandes e ovais, que variam de 50 a 60 centímetros de comprimento e apresentam extremidades arredondadas ou pontiagudas.
As folhas contêm uma substância chamada de nicotina, a principal responsável pelo desenvolvimento da dependência do tabaco. A substância atua no sistema nervoso central aumentando os níveis de um neurotransmissor chamado dopamina (responsável pelas sensações de prazer e satisfação).
Há milhares de anos, povos de diversas culturas costumavam fumar as folhas para obter os efeitos da substância. Quando administrada por meio de cigarros, a nicotina é absorvida rapidamente pelo organismo, chega ao cérebro em apenas sete segundos, provocando efeitos agradáveis e temporários.
O hábito de fumar tabaco se mantém até hoje, porém diferentes significados foram atribuídos a essa tradição ao longo do tempo, principalmente porque já se sabe que o tabagismo causa inúmeros prejuízos à saúde. As maneiras de fumar se modificaram, mas charutos, rapés, cachimbos, tabaco para mascar, tabaco para enrolar, narguilés, cigarros industrializados e cigarros eletrônicos coexistem ao redor de todo o mundo e contam com a presença indispensável da substância.
Faz mal fumar tabaco?
Ao mesmo tempo em que a indústria tabagista e seu potencial econômico se expandiam, estudos científicos investiam em identificar os riscos da substância a saúde. A nicotina é uma substância altamente prejudicial e provoca forte dependência. A disseminação da nicotina se dá para todos os tecidos do corpo, tais como pulmão, cérebro e outros, e prejudica diretamente a saúde, podendo ser a principal causa de problemas cardiovasculares, câncer, hipertensão arterial, trombose e doenças no sistema respiratório.
As evidências em relação aos riscos do tabagismo, levaram a Resolução da Diretoria Colegiada n.º 46 de 2009, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. A Organização Mundial da Saúde aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, sendo responsável por 428 mortes diárias no Brasil.
Origem do tabaco
O hábito de fumar é um comportamento difundido nas civilizações há tanto tempo, que é difícil afirmar quando e onde se deu a sua origem, mas sabe-se que o costume carrega diversos significados que foram transformados ao longo da história. Registros arqueológicos apontam que esse comportamento já ocorria há mais de 8 mil anos. Historiadores e arqueólogos afirmam que plantas como o tabaco começaram a ser cultivadas no continente americano por volta de 6000 a.C., e eram consideradas sagradas pelos povos sul-americanos.
Nessa época, o hábito de fumar fazia parte de tradições religiosas de diversas civilizações. O ato era comum em cerimônias de cultos a deuses e seu uso era associado aos processos de cura, aproximação com o sagrado, contato com as divindades e momentos de expansão de consciência. Foi apenas após a colonização da América, que o hábito de fumar tabaco se propagou para outras culturas, que atribuíram novos significados a esse comportamento.
O costume se alastrou pela Europa por volta do século XVI, quando Jean Nicot, embaixador da França em Portugal, estudou as propriedades do tabaco e as nomeou de Nicotiana. O embaixador indicou a planta para o tratamento da enxaqueca da rainha Catarina de Medicis, a tendência rapidamente se propagou por todo o continente, e os europeus passaram a explorar o uso medicinal do tabaco, apelidando-o de “erva santa”.
Não há evidências que o tabaco chegou na Europa antes do descobrimento da América. Diversas pesquisas apontam que após o a chegada de Cristóvão Colombo continente americano, os europeus se interessaram pelos hábitos dos nativos, que acreditavam que a fumaça tinha poderes mágicos e terapêuticos. Foi a partir desse marco que o tabaco se difundiu por todos os continentes.
Em contraste com as evidências dos danos à saúde provocado pelo tabagismo, até o século XVII, o uso do tabaco era voltado exclusivamente para fins medicinais. Com a revolução industrial e o avanço do capitalismo, no século XVIII, a planta passou a ser utilizada com outros propósitos.
A partir do século XIX, o hábito de fumar passa a ser associado a um estilo de vida sofisticado. As mídias sociais expunham a prática como um luxo das personalidades mais glamurosas, políticos e empresários fumavam durante reuniões importantes, Hollywood integrou o hábito em seus personagens mais elegantes. Nesse contexto, as influências midiáticas da época inspiraram todo o seu público a aderir a prática e o cigarro se tornou um objeto de aspiração.
O consumo recreativo e sem nenhuma atribuição religiosa se propagou, e as fábricas de cachimbos e charutos dos mais variados materiais se espalharam por toda a Europa. Em 1880, os Estados Unidos produziram a primeira máquina responsável pela produção de 200 unidades de cigarro por minuto. A partir daí, fumar já era um hábito comum na vida dos povos ocidentais, e o potencial econômico do setor aumentava exponencialmente.
No Brasil, o histórico referente as atribuições religiosas e cerimoniais dado ao hábito de fumar também permeava os séculos passados, mas especialmente no nosso território, o tabaco tomou conta e direcionou um setor que tem apresentado um enorme potencial econômico e agrícola. Vamos conferir a história do tabaco no Brasil.
Histórico do tabaco e do fumo no Brasil
O tabaco faz parte da história brasileira desde os tempos em que as tribos indígenas dominavam o território. Segundo registros históricos, a folha é natural de países que fazem fronteira com o Brasil, e já era reconhecida por tribos indígenas que habitavam o local. Foi por meio das migrações indígenas que o tabaco chegou nas terras brasileiras.
Assim como em outras culturas, os índios também exploravam o potencial terapêutico da folha e considerava sua natureza milagrosa e curativa. No período da colonização, os portugueses que desembarcaram no Brasil se depararam com essa tradição e buscaram conhecer e lucrar com os benefícios da planta.
Inicialmente, adquiriram tabaco via escambo (modelo de troca de mercadorias estabelecido entre os portugueses e indígenas). Nessa época, os colonizadores que se instalaram no Brasil utilizaram pequenas propriedades para produzir tabaco em um modelo de produção doméstica que servia como um pequeno complemento a renda familiar.
Com a imigração em massa, as plantações de tabaco se tornaram uma fonte cada vez mais lucrativa. Em 1984, após a independência do país, o português Francisco José Cardoso abriu a primeira fábrica no território, a Charutos Juventude, em São Félix, no Recôncavo Baiano. Pouco tempo depois, dezenas de fábricas foram inauguradas.
O surgimento da indústria de cigarros se dá no século XX, após a popularização dos charutos. As fábricas atendiam tanto as demandas internas, relacionadas ao mercado agrícola, quanto as externas, que envolviam a exportação.
Até os dias atuais, a produção da indústria tabagista brasileira não parou de crescer, e ocupa uma posição alta no ranking de grandes produtores mundiais de tabaco. Apesar das lei antifumo e das diversas campanhas de alerta aos ricos a saúde, nosso país é o segundo maior produtor de tabaco do mundo. Do total do tabaco plantado em 103 países, mais de 10% são cultivados em terras brasileiras, predominantemente nos estados da região Sul.
Países | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 |
China | 2.883.900 | 2.806.700 | 2.392.090 | 2.242.177 |
Brasil | 867.300 | 675.500 | 819.000 | 762.266 |
Índia | 746.700 | 761.300 | 799.960 | 749.907 |
EUA | 326.200 | 285.100 | 322.100 | 241.870 |
Zimbábue | 171.000 | 172.000 | 181.643 | 132.200 |
Indonésia | 193.700 | 196.100 | 152.319 | 181.095 |
Paquistão | 120.000 | 116.100 | 117.750 | 106.722 |
Argentina | 109.100 | 93.600 | 117.154 | 104.093 |
Malawi | 120.400 | 84.900 | 82.964 | 55.356 |
Turquia | 75.000 | 70.000 | 80.000 | 80.200 |
Itália | 52.400 | 48.400 | 46.060 | 59.299 |
Subtotal | 5.614.700 | 5.309.900 | 5.172.941 | 4.755.185 |
Outros | 1.370.600 | 1.354.300 | 1.328.705 | 1.339.690 |
Total | 6.985.300 | 6.554.200 | 6.439.765 | 6.094.875 |
Diante do crescimento expressivo e da popularização do setor, a tradição de fumar se consolidou nas mais diversas culturas, atravessa gerações e faz parte da realidade de populações de todos os continentes e culturas. No entanto, é de extrema importância a conscientização sobre os danos que a substância provoca. Atualmente, os significados do hábito de fumar envolvem uma série de fatores, mas o hábito é muito presente na vida das pessoas inseridas em diferentes contextos.
Desde então, esse costume possui um impacto econômico grandioso, e envolve um setor em pleno desenvolvimento e expansão. Apesar da potência econômica, nas últimas décadas, estudos têm reforçado o caráter prejudicial do tabaco. Ao contrário do que era proposto antigamente, o tabagismo contribui diretamente para o desenvolvimento de diversas doenças, sendo o principal associado a causa de mortes em todos os países.
O crescimento da cultura do tabaco e da indústria tabagista
A desinformação e falta de estudos científicos acerca dos danos causados pelo uso do tabaco, fez com que ele se tornasse uma indústria e fonte de renda em todo o mundo. A partir de 1900, as indústrias de tabaco dos Estados Unidos crescem tão ou mais rapidamente que a automobilística, e inaugurou marcas populares de cigarros.
O setor marcou presença nas importações e exportações. Novos aparatos surgem, máquinas de enrolar cigarro, caixas de fósforo se tornam objetos comuns e vendidos em larga escala. O comércio do tabaco se difundiu e se popularizou, e lojas específicas para o consumo de produtos para fumar se expandiram pelos continentes. O consumo de outras ervas acontecia de forma simultânea e com o advento da tecnologia novas maneiras de fumar invadiram a realidade das gerações mais jovens, e conquistaram um espaço expressivo nos estabelecimentos voltados para esse setor.
Atualmente, cigarros tradicionais, tabaco para enrolar, fumos variados, acessórios para o uso de cannabis, concentrados, resinas, kumbayas, e outras alternativas dominam esse comércio e possuem um impacto econômico grandioso e em larga escala. Com a modernização e a variedade de opções disponíveis, outros tipos de estabelecimentos surgiram. As tabacarias convencionais dividem espaço com as contemporâneas “headshops”, e o consumo de outras substâncias resultou na inauguração de diversas “growshops”. Essas categorias se diferenciam e seguem os padrões exigidos pelas atuais tendências.
Tipos de Tabaco
No Brasil, o tabaco no formato de cigarro industrializado é uma versão muito popular. Ele já vem enrolado no papel, com o filtro embutido e são fáceis de serem encontrados.
No entanto, rapés, cigarros eletrônicos, narguiles, tabacos para mascar são outras formas de consumo em que a matéria-prima é utilizada, e assim como a versão mais popular, também causam profundos malefícios a saúde.
Atualmente, o tabaco para enrolar, que seria a versão em que o fumo é vendido solto, e pronto para ser enrolado artesanalmente ou consumido em dispositivos como charutos e pipes, também são uma alternativa que vem se difundindo. Essa modalidade se popularizou principalmente por ser considerada uma alternativa orgânica, que consequentemente é vista como mais natural. Entretanto, apesar de tabacos orgânicos não contarem com agrotóxicos, não podem ser considerados livre de danos ou menos prejudiciais.
Tabaco orgânico: Verdades e mitos
Outra forma cada vez mais comum se fumar tabaco, é a partir do fumo vendido solto, muitas vezes chamado de Tabaco para enrolar. Esse nome se dá em função na necessidade de preparar o cigarro artesanalmente, com acessórios adquiridos separadamente.
Essa modalidade tem sido reconhecida por se tratar de uma maneira mais natural e saudável de consumir a substância, e por vezes a nomenclatura “orgânica” passa a sensação de menos prejudicial. Na realidade, não é exatamente assim que as coisas funcionam.
É real que o tabaco para enrolar orgânico possui menos aditivos e conservantes que podem causar prejuízos a saúde. Porém, apesar dessa característica, o tabaco, independente da sua forma, conta com a presença de nicotina, e outras inúmeras substâncias tóxicas.
Além disso, o contato com a fumaça, derivada da queima, também contém substâncias tóxicas e é prejudicial. Então, não se pode afirmar que essa forma de consumo é livre da danos. A Organização Mundial da Saúde, se manifestou e garante que: “O tabaco é prejudicial em todas as suas formas e não existe um nível seguro de exposição”.
Na última seção do artigo (O Tabaco Orgânico: Verdades e Mitos) o artigo destaca que o consumo de tabaco “orgânico” também causa danos comparado ao tabaco convencional, e que a rotulagem “orgânica” passa a “sensação” ao consumidor de ser menos prejudicial.
Concordo parcialmente, pois se analisarmos pela perspectiva de redução de danos, o consumo de fumígenos derivado do tabaco cultivado organicamente, os danos são consideravelmente menores quando comparado ao consumo de fumígenos (cigarros industrializados) produzidos com tabaco não-orgânico (cultivo agrícola convencional) mais os aditivos, conservantes, resíduos de agrotóxicos e excesso de fertilizantes minerais.
Oi Leonardo, tudo bem? Sabe nos dizer se existe algum estudo nesse sentido? Procuramos por aqui evidências de que o tabaco orgânico é menos prejudicial e não encontramos, porém sempre abertos a revisar a informação desde que a gente tenha as evidências para isso 🙂 Obrigada por seu comentário, esse mercado ainda tem muito a ser construído e pesquisado e é muito mais legal quando fazemos em conjunto!
Oi Maria! Não tenho conhecimento de estudos clínicos no que concerne à redução de danos em relação ao consumo de tabaco orgânico X convencional, já li relatos de consumidores em relação ao consumo do tabaco orgânico ser menos prejudicial à saúde no que tange a inalação de aditivos, conservantes e resíduos de agrotóxicos quando comparado ao uso do cigarro industrializado ou o tabaco convencional ou natural. No entanto existem estudos científicos agronômicos e ambientais evidenciando a sustentabilidade nos sistemas de cultivo de tabaco orgânico e os impactos ambientais positivos em relação ao cultivo convencional. (redução da exposição dos agricultores/produtores ao uso de agrotóxicos nas lavouras, conservação do solo/água/ar.
https://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/2857
https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/61299524/LIVRO_-_OS_DESAFIOS_JURIDICO-AMBIENTAIS_DO_USO_DE_AGROTOXICOS20191122-48199-g74vc9-libre.pdf?1574436354=&response-content-disposition=inline%3B+filename%3DOS_DESAFIOS_JURIDICO_AMBIENTAIS_DO_USO_D.pdf&Expires=1681995315&Signature=d74rgUNgK-mJOb54wceITPm~Go7khfB7lbpmE43RvuMccY~Sb3hfSTFyc7EMnw94~R~AjSm-4DxYKZz3643TaSxXaZm9miMrn1NYnCCNCQODKYZCehsOeMYEKKPbilRqllnJ-OX4vQTC2ocz0xu1YK-WP4I6USnwd7bimW2v4VGWYDnrhE01Hp6aSLjZ9D~dRjHkQW9NQnwSerM2JzwavoARNiYo~2eZQ2w2-He5rday3gXbF2~wZcIdHxkCAI7lbLmXqOhaDQigN9FOuYIvyFdZtF1x64txMnCE88KcF-LLzk2GuVSfDklHZDJMFMCzw0Z6KuDnZRn1lbQChptxow__&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA#page=171
https://www.gaz.com.br/a-aposta-e-no-tabaco-organico-em-camaqua/
https://repositorio.unisc.br/jspui/handle/11624/2550
https://repositorio.ufsm.br/handle/1/21301
Oi, Leonardo, muito bom o seu ponto! Realmente o tabaco orgânico pode não ser comprovadamente menos prejudicial à saúde das pessoas, porém sua produção é realmente mais sustentável para o meio ambiente. Obrigada pelo comentário!