Diversos registros arqueológicos exibem a importância do consumo do rapé para algumas etnias e culturas e apontam a relevância dessa prática para os nossos ancestrais. Assim como o kumbaya, a cannabis, o tabaco, e outras ervas, o rapé tem sua história pautada em referências sagradas que também embarcavam conhecimento popular e curativo.
O que é e para que serve o rapé?
O rapé é uma substância extraída das folhas de tabaco e misturada com cascas de árvores e outras ervas. Os materiais são moídos até se tornarem um pó bem fino, com a textura semelhante à de canela em pó.
Seu uso é relatado por diferentes povos há muitos séculos, e é associado a medicina sagrada de diversas culturas, especialmente por algumas tribos indígenas.
O uso ritualístico do rapé era voltado para o contato com o divino, propósitos curativos, busca de harmonia, relaxamento e autoconhecimento. Seu consumo era administrado por líderes religiosos que inspiravam a confiança da tribo.

A expansão do consumo do rapé e do tabaco para outros continentes ocorreu a partir da chegada dos europeus as Américas, que difundiram as práticas para além do uso ritualístico.
As propriedades terapêuticas e curativas do rapé envolvem um conhecimento multidisciplinar e popular, que depende diretamente dos componentes utilizados na fabricação do composto. Muitas das plantas que já foram utilizadas na produção do rapé realmente são usadas como fitoterápicos no tratamento de diversas condições de saúde, e o uso milenar dessa tradição faz parte da história desses povos.
É fundamental abordar essa abordagem com cautela, honrando as tradições culturais e preservando-as como instrumento de salvaguarda do conhecimento ancestral.
Estudos científicos têm mostrado que independente da etnia, todos os povos valorizam a ação terapêutica do rapé, que depende diretamente da composição do produto.
Grande parte das plantas utilizadas na produção do rapé, realmente são de interesse da área da farmacologia. Esses compostos variam de cultura para cultura, mas no geral o tabaco, que possui em sua formulação a Nicotina tabacum é um dos ingredientes centrais do rapé.
O rapé costuma ser comercializado em composições variadas, o que reflete a expressão de cada cultura, segue alguns exemplos:
- Murici: o rapé murici é extraído das cascas de árvore murici, uma matéria-prima comum no tratamento do trato gastrointestinal na medicina indígena.
- Canela de Velho: tradicional entre os nativos da Etinia Huni Kuin, esse tipo de rapé era usado para o equilíbrio geral entre a mente e o corpo.
- Jurema Preta: produzido a partir da casca da raiz da árvore de jurema-preta, usado especialmente em casos de problema na pele, para promover a regeneração celular
- Cacto: derivado da planta, Cactus grandiflorus, o rapé cacto é repleto de significado e tradição provinda de tribos da região nordeste do país
- Mulateiro: rapé forte derivado das cinzas do tronco de Mulateiro (Calcophyllum spruceanum) utilizado por diversas etnias como fonte de limpeza energética e conexão.
- Tsunu: Com cores bem escuras, a base do Tsuni são tabacos extrafortes e cinzas das cacas da árvore Tsusu, sendo indicado para quem aprecia ervas mais potentes.
As misturas podem ser encontradas nas principais tabacarias e e-commerces, e geralmente vem embaladas em pequenas latinhas.
Qual o efeito do rapé?
Cada mistura promove um efeito particular, que pode variar entre relaxamento, entusiasmo, agitação e concentração. Diante disso, é bom tomar cuidado com misturas, pois mais de um tipo de rapé de uma vez pode despertar diferentes efeitos e resultar em sensações desconfortáveis. A duração dos efeitos pode variar bastante, dependendo da tolerância de cada organismo.
Como se usa o rapé

A estrutura do rapé é feita para que ele seja inalado (ou seja, aspirar/cheirar o produto). Os povos que consumiam rapé com bastante frequência, misturavam as ervas e as trituravam com a ajuda de um pilão, até que a mistura se tornasse um pó.
Atualmente, os consumidores costumam colocar uma quantidade do pó na palma de sua mão (preferencialmente bem higienizada e seca), e em seguida consumir o rapé. Mas no passado, era mais comum que o rapé fosse consumido com o auxílio de objetos específicos.
Os pajés, líderes das tribos e comunidades ou pessoas mais experientes costumavam soprar um utensílio cilíndrico, chamado de tepí, ou tipi, que se encaixava nas narinas da pessoa que ia consumir, para que o pó chegasse até as cavidades respiratórias e provocasse os efeitos desejados.
Rapé faz mal?
O consumo de rapé era muito difundido no Brasil até o século XX. Com o passar do tempo, muita gente se pergunta se o rapé é prejudicial à saúde. Vamos entender:
Como é produzido a partir das folhas de tabaco, o rapé também possui nicotina em sua composição, uma substância reconhecida por causar dependência e inúmeros prejuízos à saúde. No entanto, a concentração de nicotina varia muito de fabricante para fabricante.

Além disso, é muito importante que o consumidor esteja atento a qualidade do produto e a sua composição, pois nem sempre é possível controlar quais substâncias foram envolvidas na produção do produto e se algum elemento pode ocasionar ainda mais agravantes à saúde.
Qualquer produto inalado, chega ao cérebro com uma velocidade acelerada e provoca efeitos no sistema nervoso. Por esse motivo, é fundamental que os consumidores conheçam a origem e a qualidade da substância, de forma a evitar qualquer dano.
Como o rapé é utilizado pelas vias aéreas, seu uso frequente pode prejudicar a mucosa interna das narinas e até potencializar lesões e irritações.
O rapé não produz fumaça, o que evita danos diretos causados pela combustão. No entanto, a escassez de estudos científicos no que se refere ao consumo da substância faz com que não possamos de fato afirmar o nível de danos causados ao pulmão e outros órgãos do sistema respiratório, em contraste com o cigarro ou outros fumígenos.
O uso de substâncias pode desencadear reações diferentes em cada organismo e o mal-estar depende de uma série de fatores. Especialistas alertam que fora do contexto religioso, a substâncias devem ser usadas com cautela, a fim de evitar vícios, sofrimento e danos emocionais.
É sempre importante salientar que há grupos de riscos para esse tipo de consumo: pessoas com problemas cardíacos, gestantes, ou pacientes acometidos por transtornos psiquiátricos podem ser acometidos por efeitos adversos muito mais arriscados, então é sempre bom estar atento a esses quadros e também a possíveis combinações entre substâncias.
A falta de conhecimento científico acerca das misturas faz com que não exista grandes fontes seguras que comprovem os benefícios e os maléficos do rapé. Sabe-se que historicamente, o contato direto entre as vias aéreas e diversas ervas promovia a sensação de alívio e bem-estar para alguns sintomas. Mas ao longo prazo, é difícil estimar a magnitude dos malefícios.
Mas afinal, o rapé é droga?
A compreensão e definição de droga, tanto quanto sua criminalização ou regulamentação, depende da legislação de cada país. No Brasil, o uso do rapé não é considerado ilegal. Nesse caso, seu consumo é regulamentado e segue as normas de comercialização estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).