O tratamento da depressão sempre foi objeto de estudo da comunidade científica. Por volta da década de 80, a Fluoxetina, famosa pelo nome popular “Prozac” chegou as farmácias e revolucionou o mercado de antidepressivos. Mesmo com a evolução dessa classe de fármacos, a Fluoxetina ainda é prescrita com muita frequência e usuários de cannabis se preocupam com possíveis interações entre o medicamento e os canabinoides. Mas para compreender como os fluoxetina e a cannabis interagem quando usadas em conjunto, é necessário considerar diversas variáveis.
A cannabis e as interações entre fármacos
A cannabis possui efeitos relaxantes que são considerados satisfatórios por grande parte dos seus usuários. Mas esses efeitos positivos dependem de uma série de fatores. Primeiramente, é importante considerar que a cannabis é uma planta muito heterogênea e várias cepas compõe a espécie. Essas cepas, também chamadas de subespécies, são caracterizadas por diferentes níveis de canabinoides. Algumas plantas possuem mais THC e outras mais CBD, bem como as inúmeras variações entre os as substâncias presentes na maconha. Essas variações são uma das responsáveis pelas reações e interações distintas que o consumo da planta pode provocar. Diante disso, é difícil prever como esses efeitos vão se manifestar em cada pessoa.
Além disso, o contexto e das particularidades de cada indivíduo também são variáveis que podem interferir ainda mais nos efeitos desencadeados pela substância. A situação fica ainda mais séria quando o usuário toma medicamentos controlados para o combate de sintomas de ansiedade e depressão.
É diante desse contexto que as interações medicamentosas são de extrema importância para a manutenção da nossa saúde, e devem ser um cuidado delicado durante o consumo da cannabis.
Há uma variedade de interações entre drogas e outras substâncias que pode ser prejudicial a saúde, mas estimar a amplitude dos danos também é uma tarefa extremamente difícil. Algumas pessoas fazem uso de antidepressivo e de cannabis e não apresentam nenhum tipo de prejuízo, enquanto outras pessoas experienciam desconfortos com o uso conjunto das substâncias. Nesse sentido, vamos compreender como a fluoxetina atua e os motivos que faz com que esse fármaco possa oferecer alguns riscos quando se trata de cannabis.
Como a Fluoxetina (Prozac) age no nosso organismo
Várias denominações são atribuídas ao mesmo fármaco, que causou um impacto significativo desde que foi desenvolvido.
A Fluoxetina, o prozac e a pílula da felicidade são diferentes nomenclaturas para representar um medicamento antidepressivo da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina, isso significa que ela atua diretamente no cérebro para regular os níveis de serotonina – um neurotransmissor responsável por equilibrar o humor, apetite, entre outras funções.
O fármaco foi descoberto por Eli Lilly and Company, em 1972, e chegou ao mercado na década de 1980. O medicamento se popularizou com uma velocidade impressionante e foi predominantemente indicado para o tratamento da depressão, associada ou não à ansiedade, mas também é incluído no combate de sintomas da bulimia nervosa, do transtorno obsessivo-compulsivo, e do transtorno disfórico pré-menstrual. A popularização do Prozac levou a milhares de prescrições e ficou conhecida como “pílula da felicidade”.
A fluoxetina é administrada via oral e absorvida pelo trato gastrointestinal. É distribuída pelos tecidos, até chegar ao Sistema Nervoso Central onde efetua sua ação. Os seus efeitos começam a ser registrados entre 2 a 4 semanas após o início do tratamento. Esse tempo de espera até que seus efeitos comecem são considerados um fator de proteção contra a dependência do medicamento. Apesar disso, não é recomendado que o tratamento seja interrompido de forma abrupta.
A fluoxetina é considerada um medicamento seguro e eficaz, mas que não está livre de efeitos colaterais ao longo prazo. Eventos adversos podem ser associados a múltiplos fatores e é difícil estimar exatamente a sua causa. Por esse motivo, é muito importante estar atento a contraindicações que podem ser consultadas na bula do fármaco e explicadas por um profissional de saúde.
Embora seja reconhecida pelos seus resultados satisfatórios, uma preocupação constante de psiquiatras, psicólogos e outros profissionais de saúde, é o excesso de prescrição responsável e o diagnóstico adequado. Na era do desenvolvimento de inúmeros psicofármacos, sintomas de depressão são frequentemente associados ao desequilíbrio de neurotransmissores. Mas é importante lembrar que embora esse fator seja realmente preponderante na evolução do transtorno, não se pode afirmar que ele é a causa ou a consequência da depressão. Por essa razão, é fundamental que fatores ambientais, culturais, sociais e genéticos sejam também levados em consideração. A psicoterapia e a intervenção medicamentosa é a combinação mais eficaz do tratamento da depressão e outros distúrbios.
A interação entre a fluoxetina e a cannabis
A fluoxetina é considerada um medicamento de baixa interação com a cannabis. No entanto, a interação entre a fluoxetina e a cannabis pode variar de pessoa para pessoa e depender de vários fatores, incluindo a dose do medicamento, a frequência de uso de maconha e a sensibilidade individual a essas substâncias.
Alguns estudos sugerem que o uso de fluoxetina junto com cannabis pode aumentar o risco de efeitos colaterais, como ansiedade, paranoia, tonturas e alterações no humor. Apesar das substâncias apresentarem mecanismos de ação bem diferentes, tanto cannabis quanto a fluoxetina podem afetar os níveis de serotonina no cérebro. Diante disso, a combinação de substâncias pode provocar a desregulação entre os neurotransmissores.
É importante que qualquer pessoa que esteja usando fluoxetina e esteja considerando o uso concomitante de cannabis discuta essa combinação com seu médico. O especialista pode avaliar os riscos e benefícios específicos para o caso individual e fornecer orientações apropriadas, de forma a não prejudicar o tratamento.
Além disso, é fundamental lembrar que a cannabis pode interagir com outros medicamentos e substâncias, e essas interações podem variar. Sempre é aconselhável seguir as orientações médicas e informar seu profissional de saúde sobre qualquer uso de substâncias, incluindo a maconha, durante o tratamento com medicamentos com antidepressivos e ansiolíticos, incluindo a fluoxetina ou medicamentos de outras categorias.
Outros medicamentos para depressão:
Inibidores IMAO: Os IMAO atuam inibindo a enzima monoamina oxidase, que normalmente quebra neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina. Ao inibir essa enzima, os IMAO aumentam a disponibilidade desses neurotransmissores no cérebro. São uma categoria mais antiga, potente e perigosa, pois elevam os níveis de neurotransmissores. Apesar dos efeitos colaterais significativos, ainda são prescritos, pois alguns pacientes não respondem a outros medicamentos. Normalmente, não são a primeira escolha dos especialistas, sendo reservados geralmente para situações em que os inibidores seletivos não surtiram efeito. Exemplos de medicamentos deste grupo incluem tranilcipromina, moclobemida, fenelzina, iproniazida e outros
Tricíclicos: Esse grupo representa um avanço significativo no tratamento da depressão, pois atuam na inibição da recaptação de noradrenalina, dopamina e serotonina. Embora demonstrem eficácia comparável aos inibidores seletivos, seus efeitos colaterais são relatados com mais frequência, o que determina que a sua utilização seja indicada apenas em situações específicas – geralmente, quando os inibidores seletivos não obtiveram o efeito desejado. Exemplos de medicamentos dessa categoria incluem clomipramina, amitriptilina, nortriptilina e outros
Os inibidores seletivos: Esse grupo atua inibindo seletivamente a recaptação da serotonina. Eles bloqueiam a proteína transportadora que normalmente retira a serotonina da sinapse neuronal, permitindo que a serotonina fique mais tempo disponível nas sinapses. Devido aos efeitos colaterais mais amenos, os profissionais geralmente optam por essa categoria após o diagnóstico. Exemplos de substâncias dessa classe incluem escitalopram, paroxetina, sertralina, fluoxetina, venlafaxina e outros.
Além desses fármacos, o uso dos compostos da cannabis tem apresentado resultados satisfatórios no combate aos sintomas de depressão e ansiedade, o que indica que que uma nova geração de terapias vem sendo desenvolvida e promete trazer inovações nesse campo. Esse campo emergente de pesquisa sobre o potencial terapêutico da cannabis e de psicodélicos vem proporcionando insights valiosos sobre como compostos como o CBD e a psilocibina pode influenciar o equilíbrio neuroquímico associado ao bem-estar mental.