Nos países onde há regulamentação da cannabis para uso adulto, medicinal e industrial, novas tendências em torno desses mercados surgem a cada minuto, sendo uma delas as cervejas de maconha. Esses produtos têm ajudado a movimentar diferentes indústrias e, assim, a aquecer a economia, pois atraem olhares de uma geração que não tem mais interesse em consumir bebidas alcoólicas e de usuários de maconha que desejam experimentar novas maneiras de consumir a erva e sentir os efeitos de seus fitocanabinoides.
O interesse e a expectativa de crescimento são tantos que empresas de grande porte, como a Constellation Brands, considerada a terceira maior cervejaria dos EUA, investiu US$ 4 bilhões e obteve 38% de participação na Canopy Growth, uma das maiores companhias de maconha do mundo, para criar um plano de produção de bebidas e outros artigos infusionadas com cannabis. A brasileira Ambev, maior cervejaria das Américas, também já apostou no mercado de bebidas com infusão de CBD, quando sua subsidiária, Labatt Brewing, criou uma joint-venture de US$ 100 milhões com a Tilray, outra gigante da indústria canábica, chamada Fluent Beverage.
O que são cervejas com maconha?
As cervejas com maconha nada mais são do que essas populares bebidas fermentadas a partir de cereais, mas com infusão de THC, CBD e outros elementos da cannabis. A maioria delas são não-alcoólicas, pois a mistura de THC com álcool pode intensificar os efeitos psicotrópicos do fitocanabinoide, o que pode trazer certos riscos para o consumo.
As cervejas com maconha são normalmente usadas para fins recreativos, mas existem bebidas infusionadas apenas com CBD que são consumidas medicinal e terapeuticamente. Apesar de a forma de consumo ser a partir da ingestão, que pode causar efeitos mais duradouros e intensos, as bebidas têm sido vistas de forma positiva por consumidores e especialistas, pois têm doses bem definidas e, portanto, são um método seguro de ingerir os fitocanabinoides da maconha.
Possíveis efeitos das cervejas de maconha
Como dito anteriormente, as cervejas de cannabis são produzidas com baixo ou nenhum álcool, mas passam por uma infusão com os fitocanabinoides da planta. O processo é realizado a partir da fabricação normal da cerveja, pois o álcool é necessário para solubilidade da cannabis, mas essa substância é retirada no final – quanto maior a quantidade de álcool em uma cerveja, como uma IPA, por exemplo, melhor a extração de THC e outros princípios ativos. Para obter os efeitos psicotrópicos do THC, no entanto, é preciso que a planta passe por um processo de descarboxilação antes de infusionada.
Dessa forma, os efeitos sentidos vão segundo a concentração de fitocanabinoides na bebida. Se houver THC, por exemplo, os efeitos serão psicotrópicos, como ocorre no momento de fumar cannabis, enquanto se houver CBD, THC e outros elementos, será possível também sentir benefícios terapêuticos. Normalmente, as cervejas de maconha são produzidas para fins recreativos, mas há bebidas apenas infusionadas com CBD que são usadas medicinalmente.
A diferença entre fumar a planta ou beber uma cerveja com sua infusão, portanto, não é tão grande. Na verdade, o que muda é como o efeito se dá. Assim como qualquer produto com maconha ingerido, a cerveja de maconha também causará efeitos mais tardios e duradouros, mas o risco de consumir bebidas infusionadas com fitocanabinoides é menor que consumir cannabis através de comidas, pois têm dosagens mais bem delimitadas. No caso das comidas, algumas não têm essas características especificadas por serem produzidas de forma caseira, enquanto as cervejas e outras bebidas passam por um processo mais complexo para conter os fitocanabinoides da planta, tornando a produção em casa menos comum.
Cervejas com maconha x Cerveja com álcool
De acordo com pesquisas recentes, a venda de cervejas tem diminuído em alguns países, enquanto a de cervejas sem álcool tem crescido. Isso acontece porque os jovens têm se mostrado cada vez menos interessados pelos efeitos e consequências do álcool, principalmente onde há regulamentação da cannabis já em vigor, como em algumas regiões dos Estados Unidos em que foi possível observar esse comportamento após a legalização.
As cervejas com maconha são bem menos prejudiciais à saúde do que essas bebidas com álcool. O consumo de álcool pode causar obesidade, depressão, perda de memória, problemas irreversíveis no fígado e pâncreas, aumento de pressão arterial, parada cardíaca, pneumonia, câncer e muito mais.
Ainda, a Organização Mundial da Saúde estima que 22% das pessoas que consumirem álcool na vida se tornarão dependentes. A mesma instituição fez um estudo, publicado em 2021, que divulgou que o consumo de álcool foi 100% responsável por cerca de 85 mil mortes anuais de 2013 a 2015 nas Américas, onde o consumo per capita é 25% superior à média global – a maioria das mortes foi entre pessoas com menos de 60 anos. Enquanto isso, não há nenhum registro de morte no mundo relacionado à overdose de cannabis e a planta foi cientificamente comprovada como benéfica para o tratamento de diversas condições médicas. Vale dizer, contudo, que o consumo excessivo e irresponsável de qualquer substância não é recomendado e, para fins medicinais, é essencial procurar um profissional de saúde adequado para melhores orientações.
Como ter acesso às cervejas de maconha no Brasil?
O cultivo de cannabis no Brasil não é legalizado, seja para uso adulto, medicinal ou industrial – salvo algumas exceções, como certas associações com permissão para o plantio a fim de produzir derivados de cannabis para fins medicinais e pacientes que receberam autorização para cultivo via habeas corpus. Dessa maneira, como não é possível realizar um manuseio legal da planta em território nacional, a produção de cervejas com maconha e seus fitocanabinoides não é permitida e, portanto essas bebidas estão à venda no mercado de forma regulamentada.
No entanto, algumas cervejarias brasileiras não quiseram perder a oportunidade de surfar na tendência de cervejas com maconha em países regulamentados e, assim, criaram produtos com uma ligação indireta com a planta. Um exemplo são as cervejas com terpenos, elementos que estão presentes em toda a natureza, inclusive na cannabis, e dão aroma às plantas, frutas, flores e, claro, as cepas de maconha. Esses compostos não têm nenhum efeito psicotrópico, mas proporcionam benefícios medicinais importantes ao serem consumidos.
Para simular o perfil terpenoide das diferentes cepas da cannabis, os empreendedores combinam terpenos provenientes de espécies da natureza que podem ser manuseadas no Brasil. Alguns dos terpenos da cannabis, como mirceno, limoneno e pineno, podem ser encontrados, respectivamente, no louro, limão e pinheiro. Assim, dependendo da combinação de terpenos, são criadas cervejas que podem te lembrar o aroma de uma Blue Dream, Purple Haze, Critical Kush e inúmeras outras cepas.
Veja algumas cervejas terpenadas do mercado brasileiro:
- The Terpene Chronics Blueberry Kush — Koala San Brew
- Jamming — Cervejaria Odisseia
- Six Rivers Forest — Cerveja Octupus
- Hemp — Cervejaria Balbúrdia
- Munrá — Cervejaria Mito
- Magic Cake — Cervejaria Mindubier
- Maine Berry Gelato — Everbrew
- Hophood — UX Brew
- Neon Demons — Escafandrista
- Kushed 18 — Cerveja Motim
Cervejaria Balbúrdia é autuada por rótulo da marca HEMP
Não é a primeira vez que a marca HEMP sofre alguma punição pelo seu nome, produzida pela Cerveja Balbúrdia de Blumenau. A marca já havia sido vetada de participar da Oktoberfest Blumenau em 2022, mesmo não levando cannabis e nem princípio com psicoativo na fórmula, porém mesmo assim, foi entendido que sua participação não seria possível no evento.
Em 2023 a marca volta a sofrer uma nova punição, dessa vez pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em Santa Catarina, que solicitou a apreensão dos rótulos em estoque e produção de novas unidades da ‘Balbúrdia Hemp’ por entender que as imagens na bebida seriam alusivas à maconha.
Essa decisão foi dada após uma denúncia realizada pela Cruz Azul no Brasil foi feita em dezembro de 2022 e alegou que a marca fere, com seu rótulo, as “disposições legais da legislação de bebidas em especial quanto a sua composição e rotulagem. Mesmo que não contenha a substância proibida, há o uso de expressões e figuras sugerindo a presença de derivados de “Cannabis” sativa que induz o consumidor ao erro, engano. Além disso, não restou esclarecida que tipo de substância se trata os ‘terpenos’ utilizados, se permitidos para uso como alimentos no Brasil.” segundo trecho da decisão do ministério.
A Cervejaria Balbúrdia emitiu uma nota contestando a decisão e espera a posição do ministério visto que enviou suas considerações. Nenhuma das cervejas de maconha, que estão à venda no Brasil, possuí qualquer composto original da planta em suas composições, e ao mesmo tempo, em que conseguem aproveitar uma tendência mundial e entregar um produto inovador para seus consumidores, também sofrem com perseguições por uma parcela da sociedade e falta de conhecimento dos órgãos legisladores.
Um mercado muito promissor, um novo estilo para linhas artesanais
Com certeza! Seria incrível se já estivessem liberados os canabinóides em bebidas e alimentos, mas já é uma maneira de começar!