Originária de cactos nativos do México, sudoeste dos Estados Unidos e da América do Sul, a mescalina vem sendo estudada por seus possíveis benefícios terapêuticos, principalmente relacionados a transtornos mentais. Apesar de ser um alucinógeno potente, ela é pouco explorada pela comunidade acadêmica.
Se você tem interesse em saber quais são os seus principais efeitos, os riscos do consumo e como ela vem sendo aplicada de forma medicinal, continue com a gente até o final desta leitura!
Origem da mescalina
A mescalina é um alcaloide psicodélico que ocorre naturalmente em várias espécies de cactos. A principal fonte de mescalina é o cacto conhecido como peiote (Lophophora williamsii), embora também possa ser encontrada em outras espécies de cactos, como o San Pedro (Echinopsis pachanoi) e o cacto de Peyote (Echinopsis peruviana).
Historicamente, o peiote tem sido utilizado por várias culturas indígenas da América do Norte, como os Huicholes, os Raramuri e os Navajos, em rituais religiosos e cerimônias de cura. Para essas culturas, o peiote é considerado uma planta sagrada, e seu uso em contextos cerimoniais é visto como uma maneira de alcançar estados alterados de consciência, facilitar a comunicação com entidades espirituais e promover o autoconhecimento.
A mescalina, o principal composto psicodélico encontrado no peiote, possui uma estrutura química semelhante à da serotonina, o que lhe permite interagir com receptores específicos no cérebro. Essa interação provoca alterações na percepção sensorial, alucinações visuais e auditivas, e intensificação das emoções. Os efeitos incluem:
- Euforia;
- Distorção da percepção do tempo;
- Sensação de conexão profunda com o ambiente e com os outros.
No contexto legal moderno, a mescalina é frequentemente uma substância controlada, e seu uso recreativo é proibido em muitos países. No entanto, algumas exceções existem para usos religiosos específicos. Além disso, o crescente interesse na pesquisa sobre os efeitos terapêuticos das substâncias psicodélicas tem mantido o peiote e a mescalina como tópicos de estudo importantes, dado seu histórico de uso tradicional e suas propriedades únicas.
Quais plantas possuem mescalina?
Além do peiote, que é a fonte mais conhecida de mescalina, outras plantas também contêm esse alcaloide. Entre elas estão:
San Pedro (Echinopsis pachanoi)
É um cacto coluna que cresce principalmente nas regiões andinas da América do Sul, especialmente no Peru e na Bolívia. Ele pode atingir alturas de até 6 metros e tem uma forma cilíndrica com costelas verticais. Este cacto é conhecido por seu uso em rituais xamânicos e cerimônias espirituais, onde a mescalina é valorizada por suas propriedades psicodélicas e visão expandida.
Em contextos tradicionais, o San Pedro é consumido em infusões, geralmente após ser fervido para extrair seus compostos ativos. O uso do San Pedro é uma prática ancestral que remonta a milhares de anos.
Cacto de Peyote (Echinopsis peruviana)
Embora frequentemente confundido com o peiote (Lophophora williamsii), o cacto de Peyote (Echinopsis peruviana) é uma espécie distinta encontrada nos Andes. Ele é semelhante em aparência ao San Pedro, mas geralmente menor e com espinhos mais pronunciados.
Como o San Pedro, o cacto de Peyote também contém mescalina e é utilizado em contextos cerimoniais e rituais. Seu uso é menos documentado em comparação com o peiote e o San Pedro, mas também possui um histórico de aplicação em práticas espirituais.
Lophophora diffusa
O Lophophora diffusa é uma planta relacionada ao peiote, encontrada principalmente no México e no sudoeste dos Estados Unidos. É menor e menos espesso do que o peiote, com uma forma semelhante, mas frequentemente com espinhos mais discretos. Assim como o peiote, o Lophophora diffusa contém mescalina e tem sido utilizado tradicionalmente em práticas indígenas para alcançar estados alterados de consciência e para propósitos cerimoniais. Sua presença e uso são menos comuns do que o peiote, mas ainda é um componente importante nas tradições que envolvem a mescalina.
Essas plantas, todas contendo mescalina, desempenham papéis significativos nas tradições espirituais e medicinais das culturas indígenas, cada uma contribuindo para a compreensão e prática do uso ritual da substância.
É proibido o uso de mescalina no Brasil?
No Brasil, a mescalina não é nativa, mas alguns cactos que contêm mescalina, como o San Pedro, podem ser encontrados em cultivo devido ao interesse em plantas psicodélicas e ornamentais.
O peiote também não é nativo do Brasil e seu cultivo é mais restrito. Portanto, enquanto a mescalina pode ser encontrada no país por meio do cultivo dessas espécies específicas, ela não ocorre naturalmente no Brasil.
Na Lista F2 de substâncias psicotrópicas, divulgada pela Anvisa, a mescalina é considerada uma substância proibida, ainda que seu uso venha sendo estudado para tratamentos de depressão, ansiedade e outras patologias ligadas à saúde mental.
Quais são os efeitos da mescalina?
Existem diversos estudos científicos que apontam os efeitos e características da mescalina, principalmente por conta da sua ampla gama de alterações na percepção, cognição e no emocional. Vamos trazer as principais alterações:
Alterações na percepção sensória:
- Alucinações visuais: A mescalina frequentemente provoca alucinações visuais, que podem incluir distorções de formas e cores, padrões geométricos complexos e experiências visuais vívidas. Estudos demonstram que ela pode alterar a atividade no córtex visual do cérebro, o que contribui para essas alterações perceptivas.
- Alucinações auditivas: Além das alterações visuais, a mescalina pode induzir alucinações auditivas. Os usuários podem ouvir sons ou vozes que não estão presentes no ambiente real. Essas experiências auditivas estão associadas à alteração da percepção sensorial geral.
- Alteração da percepção do tempo e espaço: A mescalina pode fazer com que o tempo pareça desacelerar ou acelerar, e o espaço pode parecer distorcido ou expandido. A alteração na percepção do tempo é um efeito comum de várias substâncias psicodélicas e está associada a mudanças na atividade cerebral nas regiões que regulam a percepção temporal.
Alterações emocionais:
- Euforia e sentimento de bem-estar: Muitas pessoas relatam sentimentos intensos de euforia, alegria e bem-estar durante a experiência com mescalina. Esses sentimentos positivos estão relacionados a alterações na serotonina e em outras substâncias químicas cerebrais que regulam o humor.
- Intensificação das emoções: A mescalina pode intensificar as emoções, tornando os sentimentos positivos mais pronunciados e, em alguns casos, amplificando a tristeza ou a ansiedade. A experiência emocional pode ser muito intensa e emocionalmente reveladora.
Alterações cognitivas:
- Mudanças no pensamento: A mescalina pode levar a alterações na forma como os pensamentos são processados, frequentemente tornando o pensamento mais fluido e menos linear. Isso pode incluir a sensação de ter insights profundos ou revelações pessoais. A alteração na cognição está associada a mudanças na atividade cerebral em áreas responsáveis pelo pensamento e percepção.
- Sentimento de conexão e espiritualidade: Muitas pessoas relatam uma sensação de conexão profunda com o ambiente natural, outras pessoas ou o universo como um todo. Isso pode estar associado a experiências espirituais ou místicas, que são comuns com o uso de substâncias psicodélicas.
Efeitos físicos:
- Dilatação das pupilas: Um efeito físico comum da mescalina é a dilatação das pupilas. Esse efeito é semelhante ao observado com outras substâncias psicodélicas.
- Aumento da pressão arterial e frequência cardíaca: A mescalina pode causar um leve aumento na pressão arterial e na frequência cardíaca, embora esses efeitos sejam geralmente menos pronunciados em comparação com outras drogas psicodélicas.
Os efeitos da mescalina geralmente começam dentro de uma a duas horas após a ingestão e podem durar de 8 a 12 horas, dependendo da dose e da sensibilidade individual. O pico da experiência ocorre geralmente entre 2 a 4 horas após a ingestão.
Esses são alguns dos efeitos relatados e compilados em estudos científicos, como esta pesquisa publicada pela Revista Nature.
Aplicações terapêuticas da mescalina
As aplicações terapêuticas da mescalina estão sendo exploradas, especialmente à luz do crescente interesse na pesquisa sobre psicodélicos. Embora a mescalina não tenha sido estudada tão extensivamente quanto outras substâncias psicodélicas, como o LSD ou a psilocibina, há evidências emergentes e áreas de interesse que sugerem potenciais terapias. Vamos entender como esse alcaloide pode ser benéfico para a saúde:
Tratamento para transtornos de ansiedade e depressão
Estudos iniciais e relatos de casos sugerem que a mescalina pode ter efeitos antidepressivos e ansiolíticos. A experiência psicodélica induzida pela mescalina pode proporcionar insights profundos e uma nova perspectiva sobre questões pessoais e existenciais, o que pode ajudar a reduzir sintomas de depressão e ansiedade. O uso de psicodélicos em geral tem mostrado potencial na terapia assistida para transtornos de humor.
Terapia de traumas e experiências espirituais
A mescalina pode ajudar na terapia de traumas ao permitir que os pacientes revisitem e reavaliem experiências passadas de uma nova perspectiva. A experiência psicodélica pode facilitar uma integração mais profunda de experiências traumáticas, promovendo uma sensação de cura e resolução.
Terapia assistida por psicodélicos e desenvolvimento Pessoal
Esse alcaloide pode facilitar o autoconhecimento e o crescimento pessoal ao permitir aos indivíduos uma visão mais clara de seus padrões de pensamento e comportamento. Essa autoexploração pode ser útil em contextos terapêuticos para promover mudanças positivas na vida e comportamento dos indivíduos.
Esses são alguns exemplos de aplicações terapêuticas da mescalina estudadas cientificamente. Estudos ainda são necessários para comprovar a eficácia desse alcaloide para a saúde do ser humano. Se você tem interesse em descobrir mais sobre estudos científicos sobre cannabis medicinal, a Kaya Mind tem um e-book repleto de informações valiosas!