Segundo a Associação Brasileira do Sono (ABS) mais de 70 milhões de brasileiros sofrem de insônia, uma condição médica que pode se agravar e fazer com que o paciente também seja acometido por outras doenças, como o estresse, dores de cabeça, ansiedade e muito mais. Dito isso, quando vemos que remédios para dormir, em especial o Zolpidem, estão virando moda entre adolescentes e jovens adultos, surge uma preocupação em relação aos efeitos prejudiciais.
Atualmente, o Zolpidem e o CBD são vendidos nas farmácias brasileiras e precisam de prescrição médica, mas existem grandes diferenças nas formas de consumo, recomendações médicas, cuidados e benefícios com o tratamento de cada uma das substâncias. Ainda assim, em ambos os casos, é necessária uma consulta com um profissional da saúde habilitado para que o tratamento seja conduzido de forma responsável e linear.
Como funciona o Zolpidem no tratamento da insônia
O Zolpidem é uma substância hipnótica (para indução do sono) usada para o tratamento da insônia no Brasil e no mundo, e vem ganhando cada vez mais atenção não apenas pelo seu rápido funcionamento (realidade para uma parcela dos pacientes), mas também por sua popularidade. A substância pode ser encontrada em alguns produtos comercializados em farmácias, como o Stilnox, Zolpaz, Nuit Flash ou Lune SL, por exemplo, ou na forma de genérico sob a designação “hemitartarato de zolpidem” e, para qualquer um dos casos, é vendido somente com prescrição médica e retenção da receita pela farmácia.
A substância age diretamente no centro do sono no cérebro, causando sedação rápida e melhorando a qualidade do sono. Para casos mais graves, o efeito “sedativo” é muito bem-vindo, mas seu uso é recomendado por curtos períodos de tempo devido aos possíveis efeitos colaterais.
Quais os efeitos colaterais do Zolpidem
Segundo reportagem do G1 sobre a popularidade dos produtos, cerca de 5% dos indivíduos que tomam o fármaco pode sofrer com um quadro de sonambulismo e amnésia, consequências que são evidenciadas por dezenas de tweets de usuários que, ao fazerem o uso tiveram ações bastantes inusitadas, como a compra de produtos, cortes de cabelo, entre outras.
Esses são apenas alguns dos efeitos colaterais que mostram como a substância pode agir em quem faz o uso, em especial se não é feito seguindo as recomendações médicas, como a de tomar a medicação quando já está pronto para dormir. Apesar de cada corpo ter um tempo de absorção do medicamento, a do Zolpidem normalmente gira em torno de 30 minutos.
Ainda na mesma reportagem, a neurologista Dalva Poyares, da Associação Brasileira de Medicina do Sono, fala sobre casos reais que já viu em seu consultório: “Tem quem faça compras, pegue o carro, se alimente, ligue para os outros, poste nas redes sociais… No dia seguinte, a pessoa não se lembra direito de ter feito essas coisas”. Esses comportamentos, quando associados ao fato de a substância causar dependência e tolerância nos pacientes, geram preocupação em alguns especialistas.
Dependência e tolerância com o uso de Zolpidem
O Zolpidem é encontrado em produtos amplamente estudados e comercializado, e, portanto, são considerados seguros, desde que o uso seja feito de acordo com as recomendações médicas. Ainda assim, sua venda acontece apenas com a prescrição médica, pois, embora o risco de dependência seja baixo, quando e se tomado em doses mais altas ou por mais tempo do que o prescrito, pode causar um potencial abuso, quadro que pode se agravar entre indivíduos com histórico anterior de abuso de drogas ou de álcool.
Mesmo que não seja uma droga comum de se abusar, justamente por vir acompanhada de uma série de recomendações médicas, alguns podem fazê-lo justamente por conta de seus efeitos sedativos, conforme mencionamos, enquanto outros podem se tornar dependentes dele para dormir. Quando um indivíduo que toma esse medicamento para insônia se acostuma ou tolera suas doses, ele pode tomar mais medicamento para poder adormecer, mas esses são sinais que indicam que o paciente deveria buscar ajuda médica para entender como prosseguir.
Mudanças na receita do Zolpidem
A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no mês de maio de 2024 uma alteração na receita para prescrição e venda do medicamento Zolpidem. De acordo com a Anvisa, seu uso aumentou consideravelmente, ocasionando em relatos de uso irregular e abuso do remédio. A partir de 1º de agosto de 2024:
- Todos os medicamentos com Zolpidem só poderão ser vendidos com Notificação de Receita B (azul).
- Os médicos precisam ter um cadastro para prescrição com Receita B – caso não tenham, é necessário se registrar junto às autoridades sanitárias locais.
- Os fabricantes devem ajustar as embalagens dos medicamentos para tarja preta, conforme exigido na Lista B1.
- Medicamentos que já estão em circulação nas farmácias, mesmo sendo tarja vermelha, poderão ser vendidos até o final do prazo de validade, desde que apresentada a Notificação de Receita B.
A relação entre CBD e insônia
Existem poucos estudos em larga escala sobre o uso de CBD para distúrbios do sono e muitos casos empíricos, mas há algumas evidências de que os produtos de CBD podem ser um tratamento efetivo para a insônia.
O CBD é um dos mais de 100 fitocanabinoides da cannabis e seu efeito é devido ao fato de que afeta uma rede de receptores em todo o corpo que controla funções ligadas à dor, memória e metabolismo a fim de atingir o equilíbrio do corpo, chamado de homeostase. Essa rede é chamada de sistema endocanabinoide e desempenha um papel na regulação de substâncias químicas relacionadas ao sono, como a serotonina.
Como usar o CBD no tratamento da insônia
Com relação ao seu uso para o tratamento da insônia, o CBD parece ser dependente da dosagem quando se trata de dormir, o que significa que certas dosagens podem ajudar os usuários a adormecer mais rapidamente, enquanto outras podem impedir o sono. Até que os especialistas determinem a melhor dosagem de CBD para dormir, a resposta pode depender da sua própria tolerância, além de vários outros fatores como: peso, química corporal pessoal e a natureza de seus problemas de sono. O que funciona para algumas pessoas pode não funcionar para outras.
Evidências mostram que, diferente do que muitos pensam, o CBD tem efeitos energizantes, em especial quando tomado em doses baixas. No entanto, em doses mais altas, o CBD parece ter efeitos mais sedativos. O fato de os canabinoides poderem ter efeitos opostos com base na quantidade consumida torna necessária a dosagem precisa e recomendada por um profissional da saúde habilitado. Um estudo de 2018 com 27 indivíduos saudáveis mostrou que 300 miligramas (mg) de CBD tomados 30 minutos antes de dormir não tiveram efeito no ciclo do sono, porém em outro estudo semelhante, 600 mg de CBD tiveram um efeito sedativo em pacientes saudáveis.
Devido as pequenas amostras de pessoas no estudo, sabemos que não é possível considerar nenhum deles como evidências conclusivas, mas esses resultados sugerem que, para pessoas com distúrbios do sono, doses mais moderadas de CBD ainda podem ser mais úteis do que doses maiores. Já para as pessoas saudáveis – aquelas que não precisam de muita ajuda extra para dormir – são necessárias doses muito mais altas de CBD, se é que qualquer dose. Existem também estudos em curso para entender por que algumas pessoas com insônia podem precisar de doses mais baixas de CBD para ativar os hormônios do sono, e se isso teria qualquer relação com algum tipo de deficiência endocanabinoide associada à insônia.
Como funciona o CBN (canabinol) e qual sua relação com os distúrbios do sono
O canabinol (CBN) é um dos muitos canabinoides, que são um grupo das moléculas encontrados na planta cannabis. O CBN é formado à medida que a planta envelhece e outro canabinoide, chamado tetrahidrocanabinol (THC), começa a se decompor. Alguns fatores que levam a esse processo são: alto tempo de armazenamento, altas temperaturas e exposição ao oxigênio podem estimular a formação de CBN. Mas, mesmo que derivado do THC, o CBN é sua própria molécula e não contém THC ou qualquer outro composto psicotrópico que possa criar um evento que altere a mente ou que possa criar um resultado ‘positivo’ em um teste de drogas. Isso significa, portanto, que não tem propriedades intoxicantes.
Embora os produtos de cannabis como o CBN sejam promissores para ajudar as pessoas a adormecer mais rapidamente e permanecer dormindo durante a noite, são necessárias pesquisas adicionais de alta qualidade para entender os efeitos potenciais dos canabinoides no sono de forma isolada. Atualmente, as pesquisas mais extensas foram feitas com produtos com o CBD isolado ou com o extrato completo.
Porém, por meio de pesquisas científicas e algumas empíricas, tornou-se amplamente aceito que certos terpenos auxiliam no relaxamento e no sono, como o beta cariofileno, cedrol, linalol e alfa pineno especificamente, e estes, quando combinados a produtos com CBN, parecem estimular os efeitos mais sedativos.
De forma científica, não é possível afirmar que há evidências publicadas suficientes para apoiar as reivindicações relacionadas ao uso de CBN e distúrbios do sono, sendo que seriam necessários ensaios controlados randomizados para substanciar as alegações feitas pelos fabricantes de produtos de cannabis contendo CBN. Ainda assim, para a maioria dos pacientes que fazem o uso, a experiencia é positiva.
Os benefícios do tratamento da insônia com cannabis
Em geral, os pacientes relatam melhoras com o uso dos derivados da cannabis para uma série de distúrbios do sono, inclusive a insônia. O CBD é um dos responsáveis parciais dos receptores de serotonina, um anti-inflamatório e um modulador. Isso significa que o CBD pode efetivamente “diminuir o volume” tanto da dor quanto da ansiedade, e tem propriedades que ajudam a melhorar o humor e que podem ser auxiliares no tratamento da depressão e da ansiedade, como:
- Não causa efeitos colaterais graves e é considerado seguro para a maioria dos casos;
- Produto natural e com possibilidade de ser comprado no Brasil como óleo completo ou com o canabinoide isolado;
- Pode ser usado para ajudar na indução do sono, porém pacientes relatam melhora na continuidade do sono também;
- O número de evidências cientificas e empíricas aumenta todos os dias, pois a aceitação da população e da comunidade médica cresce todos os dias;
- Além do CBD, outros fitocanabinoides como o CBN parecem ter um efeito positivo no tratamento de distúrbios do sono.
O fato de se conectar com os receptores do sistema endocanabinoide o torna um aliado no tratamento de diversas condições médicas, que muitas vezes estão correlacionadas a insônia, seja como um dos agravantes ou não. Algumas das condições médicas que possuem evidências do tratamento com cannabis são:
- Estresse
- Ansiedade
- Depressão
- Parkinson
- Alzheimer
- Câncer
- Psoríase
- Glaucoma
- Artrite reumatoide e muitas outras;
Principais diferenças entre CBD e Zolpidem
A realidade é que as substâncias agem de forma totalmente diferente e, portanto, a comparação não seria correta para julgar qual é melhor, uma vez que depende de cada caso e, claro, do mais importante: a recomendação de um profissional da saúde habilitado. Isso porque em ambas as substâncias existe a necessidade de verificar a interação medicamentosa e o organismo de cada indivíduo.
Mesmo que cada corpo funcione de uma maneira, existem algumas diferenças relatadas por quem faz uso tanto da cannabis, quanto do medicamento. Vamos abordar essas diferenças:
Mecanismo de ação:
- O Zolpidem é um hipnótico que atua como antagonista seletivo dos receptores de benzodiazepina no complexo receptor GABA-A, aumentando a atividade do neutrotransmissor GABA e produzindo efeitos inibitórios no cérebro, o que leva à sedação e indução do sono. A rápida absorção no sistema nervoso central contribui para o seu potencial de dependência.
- A maconha contém tetraidrocanabinol (THC) que atua nos receptores canabinóides do cérebro (CB1 e CB2). Seu efeito é mais variado, podendo ser estimulante ou sedativo, geralmente menos intenso em termos de sedação e euforia, se comparado ao Zolpidem.
Perfil de uso:
- O Zolpidem é geralmente prescrito para o tratamento de insônia e deve ser usado a curto prazo. O uso prolongado ou doses mais altas do que o recomendado podem levar rapidamente à tolerância, onde o usuário precisa de doses maiores para obter o mesmo efeito, e à dependência física e psicológica.
- Embora a cannabis também possa levar à dependência, seu uso recreativo ou medicinal tende a ser mais controlado em termos de frequência e quantidade. Além disso, seus efeitos são menos previsíveis e menos intensos em termos de sedação imediata, reduzindo o risco de abuso em comparação ao Zolpidem.
Tempo de ação e efeitos adversos:
- O Zolpidem tem um início de ação rápido e uma meia-vida curta, o que significa que seus efeitos são sentidos rapidamente, mas também desaparecem rapidamente, levando os usuários a tomar doses repetidas para manter os efeitos, aumentando o risco de dependência.
- Já a maconha tem uma variedade de formas de consumo, cada uma com diferentes tempos de início e duração de efeito. Os efeitos são menos propensos a levar a uma necessidade urgente de redosagem.
Consequências da dependência:
- O Zolpidem pode levar a sintomas de abstinência severos, incluindo insônia rebote, ansiedade e convulsões, o que pode perpetuar o ciclo de uso e abuso.
- A dependência de maconha é geralmente considerada menos severa, com sintomas de abstinência mais leves, como irritabilidade, insônia e perda de apetite.
Porém, mesmo com efeitos e objetivos diferentes, tanto o CBD quanto o Zolpidem estão em alta, mas por motivos distintos. Enquanto o Zolpidem tem sido usado para causar os efeitos de alucinação, o CBD vem atraindo pacientes que buscam uma alternativa mais natural aos tradicionais medicamentos indutores de sono.