Quando alguém pergunta se a maconha faz mal, o que exatamente está querendo saber? Se ela causa dependência? Se traz danos físicos ao corpo? Se afeta a saúde mental? Ou se causa prejuízo social? A verdade é que “fazer mal” pode ter várias interpretações — e entender isso é o primeiro passo para responder à pergunta com mais responsabilidade.
Diferentes substâncias causam diferentes tipos de impactos, e esses efeitos variam de acordo com a frequência de uso, o contexto social, a idade da pessoa e outros fatores. Por isso, quando comparamos a maconha com outras substâncias como cigarro, álcool ou drogas ilícitas, precisamos analisar evidências científicas e não apenas mitos ou percepções construídas ao longo da história.
Maconha faz mal ou o cigarro é pior?

Essa é uma das comparações mais comuns, especialmente porque ambas são frequentemente fumadas. Mas os efeitos são bem diferentes. O cigarro industrializado contém mais de 7 mil substâncias tóxicas, incluindo alcatrão e monóxido de carbono, além claro do tabaco. É responsável por mais de 8 milhões de mortes por ano no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Já a maconha não apresenta essa carga de toxicidade química industrial. Embora a fumaça da queima contenha substâncias que podem ser irritantes, os estudos não mostram a mesma correlação com doenças pulmonares severas ou câncer como ocorre com o tabaco. Além disso, outras formas de consumo — como vaporização e óleos — reduzem esse impacto.
Outro fator importante é que, em geral, os usuários de cigarro fumam muitas vezes ao dia, enquanto o uso de cannabis tende a ser mais pontual. Portanto, em termos de saúde pulmonar e toxicidade, o cigarro é consideravelmente mais nocivo do que a maconha.
E o álcool? Ele é mais perigoso que a maconha?
O álcool é uma substância legal e amplamente aceita socialmente, mas está entre as drogas mais nocivas segundo estudos como o do professor David Nutt, publicado na revista The Lancet. Ele avaliou substâncias com base em danos ao indivíduo e à sociedade, e o álcool liderou o ranking.
O uso abusivo de álcool está ligado a cirrose hepática, câncer, violência doméstica e acidentes de trânsito. Já a maconha, embora possa impactar a cognição em jovens e causar dependência em alguns usuários, não está associada ao mesmo nível de mortalidade ou danos sociais.
Aliás, pesquisas como o estudo que a Kaya Mind analisou, sobre sobre CBD e álcool têm mostrado que os canabinoides podem inclusive atenuar alguns efeitos nocivos do álcool. Isso abre caminho para novas abordagens terapêuticas.
Como a maconha se compara com outras drogas ilícitas?
Comparada com drogas como cocaína, crack, metanfetamina e heroína, a maconha é amplamente considerada menos nociva. O relatório Global Drug Survey 2017 apontou que a maconha foi uma das substâncias com menor índice de procura por atendimento médico de urgência, mesmo entre usuários frequentes.
Além disso, a cannabis não apresenta risco de overdose fatal, ao contrário de opioides e outras substâncias. E diferentemente das drogas sintéticas perigosas como o K2, K4 e K9, a maconha não está associada a surtos psicóticos extremos ou internações em massa.
Quando se fala em “malefício social”, a guerra às drogas e o proibicionismo acabam sendo mais prejudiciais do que o consumo da planta em si. Dados do Anuário de Growshops, Headshops e Marcas 2024 mostram que o Brasil gastou mais de R$ 6,1 bilhões apenas com o encarceramento de pessoas ligadas ao comércio de drogas — muitas delas enquadradas por portar pequenas quantidades.
Por que ainda acham que a maconha faz mal?
A resposta está na história do proibicionismo e em décadas de campanhas de desinformação. A maconha foi associada à marginalidade, ao crime e à perda de controle mental — narrativas que não se sustentam à luz das evidências atuais.
Campanhas como a “Reefer Madness” nos EUA ou a repressão sistemática no Brasil deixaram marcas profundas na percepção pública. Mesmo com o avanço de pesquisas e a legalização em diversos países, o estigma ainda persiste.
Felizmente, esse cenário vem mudando com mais acesso à informação, mudanças na legislação e novas políticas públicas. É o que analisamos em mais detalhes neste conteúdo sobre políticas de drogas e o que precisa mudar.
Quais são os riscos reais da maconha?
É claro que, como qualquer substância, a maconha não é isenta de riscos. O uso em adolescentes pode impactar o desenvolvimento cognitivo. Em adultos, o uso crônico pode levar a dependência leve ou moderada em uma parcela dos usuários.
Pessoas com histórico de transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia, devem ter cuidado redobrado, especialmente com produtos ricos em THC. Já o uso medicinal e terapêutico da cannabis tem se mostrado promissor para diversas condições, desde dores crônicas até distúrbios do sono e ansiedade.
Vale destacar que os efeitos da cannabis podem variar muito conforme o tipo de produto, via de administração e perfil do usuário. Além disso, interações com outras drogas podem potencializar ou reduzir seus efeitos, como explicamos neste conteúdo sobre interações entre a maconha e outras drogas.
Educação e políticas públicas baseadas em evidência
Um dos caminhos mais promissores para reduzir os danos reais de qualquer substância é investir em informação e regulação. A legalização da maconha em diversos países mostrou que é possível diminuir o mercado ilegal, controlar a qualidade dos produtos e proteger grupos mais vulneráveis.

Descriminalizar não significa incentivar o uso, mas tratar a questão como saúde pública. Políticas baseadas em evidências são capazes de gerar impacto real, como mostram os exemplos do Uruguai, Canadá e de alguns estados dos EUA.
No Brasil, a descriminalização do porte de maconha foi debatida no Supremo Tribunal Federal, o que representa uma virada histórica na forma como tratamos essa questão. Acompanhe os desdobramentos e entenda o impacto dessa decisão neste artigo completo da Kaya Mind.
Dizer que a maconha “faz mal” sem considerar o contexto, a comparação com outras substâncias e as evidências científicas é um erro comum — mas que precisa ser superado. Quando colocada lado a lado com cigarro, álcool e drogas ilícitas, a maconha é, em muitos aspectos, significativamente menos nociva.
Seja pelo impacto na saúde, seja pelo custo social, a discussão sobre a cannabis precisa ser atualizada. E isso passa por educação, regulação e abandono dos mitos proibicionistas que ainda sustentam políticas ineficazes.
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