Há algumas décadas, drogas desenvolvidas artificialmente se popularizaram e ganharam uma legião de entusiastas. Geralmente, essas drogas são elaboradas a partir de alguns componentes naturais, que são adulterados ou produzidos sinteticamente com diferentes insumos e potências. Entre essas substâncias, as drogas K ficaram conhecidas por serem inspiradas em componentes derivados da maconha. Mas a associação entre às duas substâncias pode ser extremamente perigosa.
Atualmente, o uso das drogas K2, K4, K9 e outras têm chamado atenção devido a sua popularização e uso entre a população vulnerável, que tem reportado cada vez mais tendências aditivas ao fazer o uso. Reportagens por todo o país tem divulgado uma diversidade de informações, inclusive muitas vezes referindo a algumas dessas drogas como “maconha sintética”, por esse motivo, desenvolvemos um conteúdo completo para que você entenda o que são e porque as drogas K não devem ser chamadas de maconha.
O que são as drogas K?
As drogas K são elementos produzidos em laboratório a partir de misturas de produtos químicos industriais com moléculas sintéticas de tetrahidrocanabinol, o THC, substância encontrada na maconha natural. A ideia inicial dos cientistas, era obter medicamentos com funções terapêuticas a partir da manipulação de componentes da cannabis sativa, também conhecida como maconha, mas a produção dessas substâncias se expandiu e tomou conta do mercado ilegal.
A cannabis é repleta de propriedades terapêuticas e seu uso medicinal tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Era esperado que estudos mais profundos sobre os seus compostos e benefícios ocorressem. No entanto, as manipulações/adulterações de seus componentes, acabaram surtindo em drogas que podem ter efeitos devastadores.
Nesse caso, a manipulação desses compostos gerou elementos são muito mais potentes e perigosos do que o THC encontrado na cannabis. Por serem discretas, inodoras, fáceis de transportar e difíceis de identificar, essas substâncias rapidamente se popularizaram, e seu controle se tornou cada vez mais difícil.
Assim como outras drogas sintéticas, esses elementos potencializam reações no cérebro e causam efeitos imprevisíveis. As drogas k, ficaram equivocadamente conhecidas como “maconha sintética” ou “maconha falsa”, mesmo não sendo compostas pelos mesmos elementos e nem produzindo os mesmos efeitos. Dessa forma, associar as drogas K – conhecidas nas ruas como Spice K2, K4, K9 e a maconha – pode trazer inúmeros prejuízos, vamos entender mais detalhes:
Como surgiram as drogas K
Os primeiros canabinoides sintéticos foram desenvolvidos em laboratório na década de 90, na Carolina do Sul, pelo químico americano John W. Huffmann, na expectativa de encontrar possíveis soluções para o sofrimento de pacientes com AIDS e câncer.
Em 1993, o químico sintetizou um composto que passou a ser vendido integrado em folhas de plantas na Alemanha. Esse produto ficou conhecido como Spice, uma das variações das drogas K. A partir desse marco inicial, outras variações dessas drogas começaram a ser produzidas, como por exemplo: o K2, o K4 e o K9. No entanto, os elementos passaram rapidamente a serem usados para fins recreativos, o que gerou uma profunda preocupação, inclusive enfatizada pelo próprio químico, que alertou diversas vezes que o consumo das substâncias poderia ser perigoso.
As variações: K2, K4 e K9
- O K2 foi a primeira versão do produto. Vendido por volta de 2004, era disponibilizado tanto no formato de erva, quanto em líquidos, como odorizadores de ambiente. O K2 entrou no Brasil nos presídios de segurança máxima do interior de São Paulo, pois são muito difíceis de serem identificados, uma vez que não possuem cheiro e costumavam ser embebidos em cartas e papéis.
- O K4 era outra variação bem popular, produzido no formato de selo, eram comercializados com o intuito dos usuários fazerem seu uso sublingual.
- O K9 era vendido na forma de líquido para borrifar em papéis. Costuma ser borrifado no tabaco ou em ervas secas, e concomitantemente fumado.
Além das categorias mais populares, infinidades de variações foram produzidas nos últimos anos. Como são produzidas em laboratório, essas drogas são facilmente adulteradas e inúmeras possibilidades de concentrações e doses podem ser desenvolvidas.
Drogas K NÃO SÃO maconha sintética! Afinal, por que não podemos associar drogas K e maconha?
As drogas K são muito mais potentes e prejudiciais que a cannabis. Há uma preocupação generalizada com a associação entre a maconha e as drogas K. A mistura entre as nomenclaturas pode causar uma impressão falsa de que a maconha e seus canabinoides possuem efeitos semelhantes aos produzidos artificialmente. Essa associação se dá porque o canabinoide sintético se liga ao mesmo receptor do cérebro que a maconha comum, mas em uma potência até 100 vezes maior, o que faz com que seus efeitos sejam inúmeras vezes mais perigosos, prejudiciais e causem dependência.
Apesar de ser chamada de maconha, a substância não tem nenhuma semelhança molecular com a planta. O único ponto em comum com a erva é realmente a capacidade de o canabinoide sintético se conectar com os mesmos receptores cerebrais, mas de forma muito mais potente, o que altera em grande escala o organismo. Além disso, os estímulos causados pelas substâncias são completamente diferentes e as reações ocasionadas pelas drogas k podem ser são muito mais complicadas. O THC da maconha natural estimula os receptores de um modo muito mais ameno que as substâncias sintéticas, tanto que não há registros de mortes por overdose em função do uso recreativo de cannabis, mas existem relatos de óbitos por canabinoides sintéticos.
Mais de 300 variações das drogas K já foram identificadas. Essa infinidade de opções faz com que os efeitos da droga sejam imprevisíveis. Como fazem parte de um mercado sem regulação, é possível que as fórmulas químicas sejam facilmente manipuladas em laboratórios, e a alteração da dose de alguma substância pode resultar em um entorpecente com graves e desconhecidos efeitos. Há registros de casos críticos de intoxicação em função das drogas k, que inclusive pode desencadear quadros psiquiátricos graves, como psicose, crises de ansiedade e de pânico, alucinações, euforia intensa, agitação psicomotora e dependência química. Podem também manifestar diversas condições clínicas, como convulsões, déficit cognitivo e de memória, acidente vascular cerebral, taquicardia, hipertensão, insuficiência renal, infarto agudo do miocárdio, e até mesmo levar à morte.
A cannabis possui propriedades terapêuticas que atuam no tratamento de uma série de condições de saúde e trazem alívio para milhares de pacientes. Atualmente, o uso medicinal da cannabis é permitido no Brasil, e os pacientes conseguem obter medicamentos à base de cannabis com receita médica, em farmácias ou via importação. Associar a maconha com uma substância muito mais danosa, pode interferir tanto no entendimento social acerca das propriedades e dos efeitos da planta, quando em toda a luta em torno das reivindicações da cannabis medicinal.
Vivemos um momento em que o debate político tem sido demarcado por diversas polêmicas entre o acesso à cannabis para fins medicinais e o status ilegal da planta. Esses debates impactam a população como um todo, e interferem na qualidade de vida e na luta de quem necessita e se beneficia das propriedades terapêuticas da cannabis. Em um cenário que envolve tanto desconhecimento e preconceito, o discurso de associação da maconha com substâncias muito prejudiciais é um retrocesso diante das conquistas já obtidas na nossa sociedade. É muito importante que o conhecimento sobre a cannabis e suas propriedades seja democratizado e desestigmatizado a partir de informações de qualidade e com extrema responsabilidade.