Nos últimos anos, a Grécia vem se destacando entre os países europeus que avançaram na discussão sobre a cannabis. Em meio a um contexto de crise econômica e busca por novas fontes de crescimento, o país mediterrâneo decidiu investir na cannabis medicinal e industrial como forma de inovação, geração de empregos e atração de investimentos estrangeiros.
Mas como funciona, de fato, a regulamentação da cannabis na Grécia? Quais produtos são permitidos e o que ainda é proibido? Entenda a seguir o panorama completo — da legalização medicinal ao papel do cânhamo industrial, e os desafios que ainda impedem o uso recreativo.
Um breve histórico: da proibição à reabertura para o cânhamo
A relação da Grécia com a cannabis é antiga. Registros históricos mostram que o cânhamo era cultivado no país desde o século XIX, principalmente para a produção de cordas, tecidos e óleos. No entanto, o cultivo foi proibido em 1936, quando o país adotou políticas antidrogas alinhadas ao contexto internacional da época.
Durante décadas, qualquer forma de uso da planta foi considerada ilegal. A mudança começou apenas em 2016, quando o governo grego autorizou novamente o cultivo de cânhamo industrial com teor de THC inferior a 0,2%, alinhando-se às diretrizes da União Europeia.
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Esse foi o primeiro passo para a construção de um mercado regulado e sustentável — um modelo que hoje combina política agrícola, economia verde e inovação farmacêutica.
Cannabis medicinal na Grécia: avanços e limitações
A cannabis medicinal foi legalizada na Grécia em 2017, tornando o país um dos primeiros da região a adotar uma política de uso terapêutico. O decreto permitiu o uso de medicamentos à base de cannabis sob prescrição médica, destinados a pacientes com condições específicas como dor crônica, epilepsia, esclerose múltipla, náusea e ansiedade.
Em 2018, uma nova lei ampliou o programa, autorizando o cultivo, produção e distribuição de cannabis medicinal no território nacional, com licenças concedidas pelo Ministério da Saúde e Ministério do Desenvolvimento Rural e Alimentação.
Atualmente, os medicamentos podem ser adquiridos em farmácias mediante prescrição, e há diversas empresas licenciadas para produção local, incluindo investimentos estrangeiros do Canadá, Israel e Alemanha.
O primeiro produto de cannabis medicinal grega chegou oficialmente às farmácias em 2023, marcando um novo capítulo para o país.
O ministro da Saúde, Thanos Plevris, afirmou que “a Grécia entra em uma nova era no tratamento de doenças crônicas, com segurança, controle e benefícios econômicos para o país”.
Como funciona o sistema de licenciamento e cultivo
O modelo grego de regulamentação é considerado rigoroso, porém atrativo para investidores. As empresas que desejam atuar na produção de cannabis medicinal precisam obter duas autorizações principais:
- Licença de instalação, concedida para construir e equipar as instalações;
- Licença de operação, liberada após inspeção e comprovação de conformidade com normas europeias de segurança, rastreabilidade e controle de qualidade.
Os produtos devem conter THC e CBD em proporções controladas, e a comercialização é restrita a farmácias autorizadas. O uso recreativo continua proibido.
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Até 2025, a Grécia já havia concedido mais de 50 licenças de cultivo e processamento de cannabis medicinal, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, consolidando-se como um dos polos mais promissores do setor na Europa Oriental.
O papel do cânhamo industrial
O cânhamo industrial (com menos de 0,2% de THC) é o segmento mais consolidado da cannabis grega. Desde 2016, agricultores e pequenas empresas têm expandido o cultivo para produção de fibras, bioplásticos, alimentos, cosméticos e suplementos alimentares.
O país possui condições climáticas ideais para o cânhamo — sol intenso, solo fértil e baixa umidade — o que favorece colheitas sustentáveis e de alta qualidade.
Hoje, a Grécia exporta sementes, óleos e flores secas de cânhamo, abastecendo principalmente mercados da União Europeia. O governo também incentiva projetos de pesquisa em parceria com universidades e cooperativas agrícolas, integrando o setor à estratégia de transição ecológica e economia circular.
Se você quer conhecer mais sobre como funciona o cânhamo industrial, nesse artigo completo nós te ensinamos o que é o cânhamo, para que serve e como usar!
E o uso recreativo?
Apesar do avanço medicinal e industrial, o uso recreativo da cannabis permanece ilegal na Grécia. A posse para uso pessoal, entretanto, foi descriminalizada em 2013 — ou seja, pequenas quantidades não resultam mais em prisão, mas podem gerar advertência, multa ou medidas educativas.
Ainda assim, o país mantém uma postura conservadora em relação à liberalização total. A legislação continua sob forte influência da Igreja Ortodoxa e de setores políticos tradicionais, que associam o consumo recreativo à dependência e à criminalidade.
No entanto, especialistas apontam que a consolidação do mercado medicinal pode abrir caminho para discussões mais amplas sobre regulamentação recreativa nos próximos anos — seguindo o exemplo de países europeus como Alemanha, Luxemburgo e Malta.
Impactos econômicos e sociais da cannabis na Grécia
A regulamentação da cannabis tem sido vista como um novo motor econômico em meio à recuperação financeira do país após a crise de 2008. Segundo estimativas do governo, o setor pode gerar até €2 bilhões em investimentos estrangeiros diretos e mais de 10 mil novos empregos nos próximos anos.
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Além disso, o cultivo de cânhamo vem impulsionando pequenas comunidades agrícolas, principalmente nas regiões da Tessália e Macedônia Central, onde antigas áreas rurais estão sendo revitalizadas.
A cannabis também se tornou tema de debate cultural e político, com crescente apoio popular — especialmente entre jovens e profissionais da saúde.
Perspectivas futuras
Com um mercado medicinal em expansão e um setor industrial sustentável, a Grécia se posiciona como referência no Mediterrâneo. O país combina tradição agrícola, investimento estrangeiro e regulação europeia, o que o torna estratégico para o comércio internacional de cannabis.
O próximo desafio será equilibrar o crescimento econômico com políticas públicas de saúde e educação sobre o uso da planta. A consolidação de pesquisas clínicas e a possível revisão da lei de posse também devem ser temas importantes até 2026.
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A Grécia mostra que é possível transformar desafios em oportunidades. De país em crise a polo emergente da cannabis medicinal e industrial, ela representa um exemplo de como a regulação responsável pode gerar inovação, emprego e desenvolvimento sustentável.
Embora o uso recreativo ainda esteja fora do radar, a abertura ao diálogo e os avanços legais já colocam o país no mapa das nações que enxergam a cannabis como uma ferramenta de progresso — e não mais como tabu.
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