Você já provou vinho com cannabis? As vinícolas francesas e californianas tem experimentado essa nova – ou nem tão nova assim – bebida com a erva mais emblemática e talvez problemática no mundo.
Vamos explorar um pouco mais desse mercado que vem sendo desbravado, principalmente após alguns países flexibilizarem as legislações em relação à maconha, como é o caso dos EUA, Alemanha e até mesmo o Brasil, com a descriminalização do uso pessoal.
Como é produzido o vinho com cannabis?
A fusão entre vinho e cannabis pode parecer algo inovador, mas, na verdade, esse casamento começa a ganhar mais atenção conforme as experiências de vinícolas ao redor do mundo se expandem.
A combinação entre a tradição do cultivo de uvas e as propriedades da cannabis é mais do que apenas uma tendência: é uma busca por novas formas de proporcionar experiências sensoriais únicas aos consumidores. Mas como exatamente se produz um vinho com cannabis? Vamos entender os principais passos dessa produção!
1. Cultivo das uvas
O primeiro passo é o cultivo das uvas, o que, para vinícolas, é um processo que já possui toda uma tradição e ciência por trás. No caso do vinho com cannabis, a viticultura não muda, o foco está na harmonização dos sabores, aromas e texturas, e, para isso, o terroir — o conjunto de fatores ambientais e geográficos que influenciam as uvas — continua sendo fundamental.
A diferença vem após a colheita, com a introdução de um ingrediente novo: a cannabis. Ela não substitui o vinho, mas é adicionada para proporcionar novos efeitos e sensações aos consumidores.
As plantas de cannabis usadas para a infusão geralmente são cultivadas com cuidado, e a escolha da cepa é feita com base em sua composição de canabinoides, principalmente o CBD e o THC. Esses compostos são os responsáveis pelos efeitos psicoativos e terapêuticos que podem influenciar a experiência do vinho.
2. Infusão no vinho
O processo de infusão da cannabis no vinho é feito de maneira similar a como se faria uma infusão de ervas. A planta de cannabis, que já passou pelo processo de secagem, é adicionada ao vinho durante a fermentação ou após a fermentação, dependendo do método utilizado pela vinícola.
Algumas vinícolas preferem macerar a cannabis com o vinho, permitindo que seus compostos se misturem bem, enquanto outras optam por misturá-la após a produção, sem afetar as características originais do vinho.
Vale ressaltar que a cannabis não é simplesmente “misturada” ao vinho, mas sim extraída para garantir que os canabinoides presentes sejam liberados de forma eficaz. Isso pode ser feito através de um processo de extração, que envolve a decarboxilação dos compostos da cannabis, uma técnica que ativa os canabinoides, especialmente o THC, que precisa ser aquecido para liberar seus efeitos.
3. Maceração e descanso
Após a infusão, o vinho precisa passar por um período de maceração e descanso. Esse tempo é necessário para que os sabores e os efeitos da cannabis se integrem ao vinho, resultando em uma bebida equilibrada e agradável. Durante essa etapa, a vinícola realiza testes rigorosos para garantir que o vinho não perca suas qualidades sensoriais — como o sabor, o aroma e a textura — enquanto se mistura com a cannabis.
O tempo de maceração pode variar dependendo do tipo de vinho (tinto, branco ou rosé) e da intensidade desejada da cannabis no produto final. Em alguns casos, o vinho pode ser deixado em barris de madeira para obter mais complexidade e sofisticação no sabor, ao mesmo tempo que preserva os efeitos relaxantes ou estimulantes da cannabis.
4. Envelhecimento do vinho com cannabis
Assim como os vinhos tradicionais, os com cannabis podem passar por um processo de envelhecimento, que pode durar meses ou até anos, dependendo do tipo de vinho e do perfil de sabor desejado. O envelhecimento ajuda a suavizar os taninos e a combinar melhor os sabores da uva e da cannabis, criando um equilíbrio perfeito entre os ingredientes.
Em vinícolas mais experimentais, é possível que o envelhecimento seja feito em garrafas de vidro escuro, para preservar a qualidade da cannabis. Esse cuidado é necessário, já que a luz intensa pode degradar os compostos canabinoides e afetar o sabor do vinho.
5. Engarrafamento do vinho
O processo final de produção é o engarrafamento, onde o vinho é filtrado para remover qualquer resíduo de cannabis ou impurezas e, finalmente, engarrafado para ser comercializado. A garrafa de vinho com cannabis pode ser similar a uma garrafa de vinho tradicional, mas algumas marcas inovadoras optam por designs diferenciados, para refletir o caráter único da bebida.
Com tudo isso, o vinho com cannabis ganha a mesma sofisticação e dedicação que qualquer outro vinho. No entanto, seu diferencial está nos efeitos relaxantes ou revigorantes da cannabis, que podem proporcionar uma experiência única aos consumidores.
O consumo de vinho com cannabis é permitido no Brasil?
A legislação sobre cannabis no Brasil tem sido um tema quente de debate, e a produção de produtos com cannabis está longe de ser liberada de forma ampla. No entanto, a legalidade do consumo de vinho com cannabis no país segue uma linha bem específica e bastante restrita.
No Brasil, a cannabis ainda é amplamente proibida para fins recreativos – ocorreu a descriminalização do uso pessoal em junho de 2024, no qual pode portar até 40 gramas ou 6 plantas fêmeas, mas o uso em locais públicos não é permitido, além de outras questões que você poderá ver no vídeo abaixo, onde a CEO da Kaya, Maria Riscala, explicou detalhadamente.
O consumo de qualquer substância que contenha THC, o composto psicoativo da cannabis, continua sendo ilegal. Isso significa que, até o momento, a produção e o consumo de vinho com cannabis, especificamente aqueles que utilizam THC como ingrediente, não são permitidos.
No entanto, o uso medicinal da cannabis tem ganhado algum espaço nos últimos anos. O CBD, um canabinoide não psicoativo, é legal para fins terapêuticos, desde que prescrito por um médico. O que isso significa para o vinho com cannabis? Algumas vinícolas já começaram a experimentar com vinhos que contenham apenas CBD, o que poderia se alinhar mais facilmente à legislação brasileira, já que não há efeitos psicoativos.
É importante lembrar que a produção de vinho com cannabis no Brasil ainda é algo muito experimental e não há um mercado robusto para esse tipo de bebida no país. Isso pode mudar no futuro, conforme as legislações ao redor do mundo se ajustam, mas, por enquanto, o consumo de vinho com cannabis no Brasil ainda é uma prática restrita.
Quais são os efeitos da cannabis no vinho?
Os efeitos da cannabis no vinho são uma das maiores razões pelas quais essa combinação tem ganhado popularidade entre os entusiastas. O que acontece quando a cannabis se mistura ao vinho? Vamos explorar como ela pode afetar o sabor, a experiência sensorial e até o próprio estado emocional do consumidor.
1. Efeitos psicoativos quando contém THC
Quando o vinho contém THC, o principal composto psicoativo da cannabis, os efeitos podem ser bem semelhantes aos de consumir cannabis de outras formas. O THC pode induzir sensações de euforia, relaxamento profundo e até alterações na percepção do tempo e do espaço. Esses efeitos podem ser sutis ou intensos, dependendo da quantidade de THC presente no vinho.
É importante destacar que o THC pode intensificar a sensação de “alto” que algumas pessoas buscam com o consumo de cannabis, o que pode adicionar um elemento totalmente novo à experiência do vinho. No entanto, esses efeitos podem variar muito de pessoa para pessoa, com alguns experimentando uma sensação mais leve e outros podendo ficar mais sonolentos ou desconcentrados.
2. Efeitos terapêuticos quando contém CBD
Já o CBD é um canabinoide que não possui efeitos psicoativos, mas é amplamente reconhecido por suas propriedades terapêuticas. No vinho, o CBD pode ajudar a promover:
- Relaxamento;
- Reduzir a ansiedade;
- Melhorar a qualidade do sono;
- Aumentar o foco;
- Aliviar dores leves.
Para quem busca uma experiência mais tranquila, sem os efeitos de “embriaguez”, o vinho com CBD pode ser uma excelente opção.
O CBD também pode melhorar o sabor do vinho, criando uma experiência sensorial mais complexa. Ele pode suavizar os taninos do vinho tinto, por exemplo, criando um equilíbrio melhor entre a acidez, o doce e o amargo. Além disso, seu efeito calmante pode proporcionar uma sensação de bem-estar sem os riscos associados ao THC, como a desorientação ou a ansiedade.
Combinação com outros sabores e aromas
A cannabis tem o poder de adicionar camadas extras de sabores e aromas ao vinho. Cada cepa de cannabis tem seu próprio perfil aromático, que pode incluir notas de frutas, ervas e até especiarias. Quando combinada com os sabores do vinho, essa mistura pode criar uma experiência gustativa única e diversificada, capaz de surpreender até os mais experientes enólogos.
A harmonização entre os sabores do vinho e da cannabis é um campo ainda novo, mas promete se expandir à medida que mais pesquisas e produções forem realizadas. E, sem dúvida, será uma experiência única para os apreciadores de vinhos e os entusiastas da cannabis!
O vinho com cannabis está em uma fase de experimentação, tanto na produção quanto no consumo. Embora a legislação no Brasil ainda seja restritiva, a ideia de misturar cannabis com vinho já começa a ganhar o mundo, criando uma nova perspectiva de sabores e efeitos para os consumidores. Se você é fã de cannabis e vinho, vale a pena ficar atento a essa tendência inovadora!