O Jornal da USP divulgou uma matéria apontando o uso do canabidiol para epilepsia. A planta pode ajudar a impedir a progressão da doença, segundo apontam as pesquisas realizadas em ratos geneticamente selecionados, obtendo como resultado um bloqueio do desenvolvimento de novas crises.
Além desse estudo, existem outras evidências científicas que apontam os benefícios da cannabis medicinal para tratamento da doença. Vamos entender como ela pode ajudar no tratamento e como você pode encontrar profissionais qualificados para realizar o tratamento.
Tratamento com canabidiol para epilepsia realmente funciona?
A resposta é sim, segundo as pesquisas científicas. A Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria publicou uma revisão sistemática apontando os efeitos do canabidiol na frequência de crises epilépticas.
Foram realizadas buscas em bases de dados, incluindo a PubMed, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) para realizar a coleta de dados-alvo, analisando os indivíduos estudados, diagnósticos, tipos de crise epiléptica, frequência das crises antes e após o tratamento com CBD e métodos aplicados. A pesquisa concluiu que esses estudos demonstraram melhora na frequência das crises após o uso do CBD, com percentual de redução variando entre 43,9%. Os efeitos adversos encontrados incluem sonolência, hiporexia, diarreia, vômitos e alterações comportamentais.
Outro estudo publicado pela Scielo mostrou a aprovação do CBD como tratamento adjuvante para as síndromes de Dravet, Lennox-Gastaut e esclerose tuberculosa – que já possuem medicamentos à base de cannabis disponíveis no SUS em São Paulo. A eficácia em outro tipo de epilepsia fármaco-resistentes ainda não fora estudada, mas a pesquisa avança a passos largos.
Para se ter uma ideia, a cannabis medicinal é utilizada para tratar inúmeras condições médicas, incluindo:
- Transtorno de ansiedade;
- Depressão;
- Alzheimer;
- Parkinson;
- Problemas relacionados ao sono;
- Certos tipos de câncer;
- Glaucoma.
Esses são apenas alguns exemplos que podem usar a planta como alternativa natural para tratamento. Para isso, é necessário se consultar com um médico prescritor de cannabis, cadastrado pela Anvisa e ativo. O Kaya Doc é uma plataforma que conecta pacientes a médicos para facilitar a jornada em busca de maior qualidade de vida.
Benefícios do canabidiol para epilepsia
O uso do canabidiol no tratamento da epilepsia tem se mostrado promissor, especialmente para pessoas que não têm resposta adequada aos medicamentos convencionais. Estudos e experiências clínicas apontam para a capacidade do CBD de reduzir a frequência e a intensidade das crises epilépticas, especialmente em formas mais graves da doença, como a epilepsia refratária. Vamos descobrir quais são os principais benefícios do canabidiol para epilepsia:
- Redução da frequência das crises: Para muitas pessoas com epilepsia, as crises podem ser imprevisíveis e debilitantes, afetando significativamente a qualidade de vida. O canabidiol tem demonstrado, em vários estudos, a capacidade de diminuir o número de crises, ajudando os pacientes a viver com mais tranquilidade.
- Melhora na qualidade de vida: Além de controlar as crises, o CBD pode melhorar aspectos da vida cotidiana, como o sono e o humor. Isso é particularmente importante, pois as crises epilépticas podem afetar o sono, gerando um ciclo de cansaço e irritabilidade.
- Menos efeitos colaterais: Os tratamentos convencionais para a epilepsia, como os anticonvulsivantes, podem causar efeitos colaterais significativos, como sonolência, ganho de peso e dificuldades cognitivas. Isso torna o CBD uma alternativa atraente, especialmente para aqueles que não conseguem tolerar os efeitos colaterais dos medicamentos tradicionais.
Além dos benefícios existem outras nuances que perpassam um tratamento com CBD, como a quantidade de THC e a dosagem ideal para cada paciente. Sobre isso, vamos explorar um pouco mais.
Dosagem do canabidiol para epilepsia
A dosagem de canabidiol para o tratamento da epilepsia pode variar significativamente de acordo com fatores como a idade do paciente, o tipo de epilepsia, a gravidade das crises, o peso corporal e a resposta individual ao tratamento. Não existe uma dose padrão única, e é crucial que o uso de CBD seja supervisionado por um médico, que pode ajustar a dosagem de acordo com as necessidades e a evolução do paciente.
Em estudos clínicos, a dosagem de CBD para epilepsia geralmente começa de forma baixa, com o objetivo de minimizar o risco de efeitos colaterais, e depois é aumentada gradualmente até que a dose ideal seja alcançada. Para epilepsia, especialmente em casos refratários (quando os medicamentos tradicionais não controlam as crises), as doses mais comuns variam entre 5 mg a 20 mg de CBD por quilo de peso corporal por dia.
Como o canabidiol é capaz de tratar crises convulsivas?
O mecanismo exato de como o CBD age para reduzir ou prevenir as convulsões ainda está sendo estudado, mas há várias teorias baseadas em pesquisas científicas que explicam como ele pode ajudar. Vamos entender isso de forma mais clara:
1. Interação com o sistema endocanabinoide
O sistema endocanabinoide é uma rede de receptores e substâncias químicas que regulam várias funções no corpo, como o sono, a dor, o humor e a atividade elétrica cerebral. Esse sistema tem um papel importante na modulação da excitabilidade neuronal — ou seja, na capacidade dos neurônios de transmitir sinais elétricos.
O CBD interage com os receptores do sistema endocanabinoide, principalmente com os receptores CB1 e CB2. Embora o CBD não se ligue diretamente aos receptores CB1, ele pode influenciar a atividade desses receptores de forma indireta, modulando a atividade elétrica do cérebro e ajudando a regular a excitabilidade dos neurônios. Em situações em que a atividade elétrica cerebral está descontrolada (como nas crises convulsivas), o CBD pode ajudar a normalizar essa atividade.
2. Redução da excitação neuronal excessiva
As crises convulsivas ocorrem quando há uma atividade elétrica anormal e excessiva nos neurônios do cérebro, que acabam se disparando de forma descontrolada.
O CBD pode ajudar a reduzir essa excitação excessiva ao aumentar a atividade de certos canais iônicos, como os canais de potássio e sódio, que ajudam a regular a transmissão de sinais elétricos no cérebro. Ao estabilizar essa atividade elétrica, o CBD pode prevenir ou diminuir a intensidade das crises.
3. Ação no GABA (Ácido Gama-Aminobutírico)
O GABA é um neurotransmissor inibitório que tem um efeito calmante sobre o cérebro. Em muitos casos de epilepsia, o equilíbrio entre neurotransmissores excitatórios e inibitórios no cérebro está desequilibrado, com uma maior atividade excitatória, o que facilita a ocorrência de crises. O CBD pode aumentar a atividade do GABA, melhorando a capacidade do cérebro de suprimir a excitabilidade excessiva dos neurônios e, assim, reduzindo as crises.
4. Efeito anti-inflamatório e neuroprotetor
Além de regular a atividade elétrica do cérebro, o CBD possui propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras. A inflamação no cérebro pode estar relacionada a uma série de distúrbios neurológicos, incluindo a epilepsia. O CBD pode ajudar a reduzir essa inflamação, promovendo a proteção dos neurônios e ajudando a prevenir danos cerebrais causados pelas convulsões frequentes.
5. Ação sobre os canais de cálcio
O CBD também pode interagir com canais de cálcio no cérebro, que são responsáveis pela transmissão dos sinais elétricos entre os neurônios. A modulação desses canais pode ajudar a diminuir a atividade elétrica excessiva, prevenindo ou controlando as crises convulsivas.
6. Diferente de outros medicamentos
Uma das vantagens do CBD é que ele atua de maneira diferente dos medicamentos anticonvulsivantes tradicionais, que frequentemente têm efeitos colaterais significativos, como sonolência, alterações de humor ou dificuldades cognitivas. O CBD, por sua vez, tende a ter um perfil de efeitos colaterais mais leve, tornando-se uma opção atraente para muitos pacientes, especialmente aqueles que não respondem bem aos tratamentos convencionais.
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