O uso da maconha na adolescência é um tema que costuma gerar debates acalorados — e não é à toa. Essa é uma fase em que o corpo e o cérebro passam por transformações intensas, e qualquer substância psicoativa pode ter efeitos significativos nesse processo. E, apesar de toda a desinformação que circula por aí, o mais importante é entender o que a ciência já sabe sobre o assunto.
Neste artigo, vamos te mostrar o que realmente acontece quando adolescentes usam cannabis, quais os riscos apontados por estudos recentes e porque a regulamentação da maconha pode ser uma ferramenta de proteção e não o contrário.

O que dizem os estudos sobre o uso da maconha na adolescência?
Antes de mais nada: a maconha não mata neurônios — esse é um dos mitos mais repetidos por décadas e que já foi desmentido pela ciência. O que realmente preocupa no uso precoce da cannabis é o impacto que ela pode ter em um cérebro ainda em desenvolvimento.
Um estudo publicado em 2021 no JAMA Psychiatry, chamado “Association of Cannabis Use During Adolescence With Neurodevelopment”, acompanhou quase 800 adolescentes ao longo de cinco anos. O resultado mostrou que há uma associação entre o uso repetido de cannabis e o afinamento do córtex pré-frontal, região do cérebro ligada ao controle de impulsos, tomada de decisões e comportamento social.
Esse afinamento foi mais intenso justamente nas áreas com alta densidade de receptores canabinoides (CB1), o que sugere que o THC, principal composto psicoativo da planta, pode interferir no processo natural de amadurecimento cerebral durante essa fase da vida.
Ou seja, o estudo não afirma que a cannabis “estraga” o cérebro, mas que o consumo constante na adolescência pode alterar a trajetória de desenvolvimento neurológico, especialmente em regiões relacionadas à atenção, memória e comportamento impulsivo.
Efeitos da maconha no cérebro adolescente
Durante a adolescência, o cérebro está em pleno processo de neurodesenvolvimento. Existe uma explosão na criação de neurônios e sinapses, que depois são “aparadas” com o tempo para formar conexões mais eficientes. Quando substâncias externas entram nessa equação (como o THC) isso pode afetar o equilíbrio.

Entre os efeitos da maconha na adolescência, estudos apontam:
- Maior risco de desenvolver síndrome amotivacional;
- Aumento da impulsividade;
- Redução na função executiva (planejamento, foco e tomada de decisões);
- Maior propensão à ansiedade e depressão;
- Alterações em áreas do cérebro responsáveis por memória e controle emocional.
Importante destacar que esses efeitos não são garantidos para todo mundo. O impacto varia de acordo com frequência de uso, genética, contexto social e outros fatores.
Cannabis na adolescência: riscos x desinformação
Uma das principais consequências do proibicionismo é a desinformação. Em vez de educar os jovens sobre os riscos do uso precoce da cannabis, a política proibicionista apenas os empurra para um mercado clandestino, sem controle de qualidade ou orientação adequada.
Diferente do que muita gente pensa, a maconha na adolescência não deve ser tratada com pânico moral, mas sim com educação baseada em evidências.
–> Se você se interessa pelo tema, vale conferir nosso conteúdo sobre proibicionismo e suas consequências, que mostra como esse modelo ainda afeta negativamente a saúde pública.
O que dizem os especialistas
O neurocientista Sidarta Ribeiro, em entrevista à Kaya Mind, explicou que o uso precoce da cannabis, principalmente em grandes quantidades, pode desorganizar a atividade neural. Segundo ele, os adolescentes estão passando por uma fase de reorganização mental, e o excesso de estímulos pode mais atrapalhar do que ajudar:
“O THC promove neurogênese e sinaptogênese, o que em excesso pode ser prejudicial em cérebros ainda em formação.”
Essa desorganização pode levar a quadros de desmotivação, lapsos de memória, alteração de humor e até aumento da chance de transtornos psiquiátricos em indivíduos mais vulneráveis.
Por que a regulamentação é parte da solução
Se a gente sabe que a maconha na adolescência pode trazer riscos, por que permitir sua legalização?
Justamente para proteger os mais vulneráveis. A legalização permite:
- Controle da idade mínima para consumo;
- Campanhas de educação sobre riscos reais;
- Qualidade dos produtos e dosagens padronizadas;
- Redução da exposição ao tráfico e outras drogas;
- Apoio à redução de danos para quem já consome.
É o que já acontece em países como Uruguai, Canadá e Alemanha, que adotaram modelos de regulação inteligente e observaram queda no consumo entre adolescentes após a legalização.
Cannabis e esquizofrenia na adolescência: há relação?
Esse é um dos temas mais polêmicos — e mais mal interpretados também. Alguns estudos mostram que adolescentes com predisposição genética à esquizofrenia podem ter seu quadro antecipado ou agravado pelo uso de cannabis. Mas isso não significa que a maconha causa esquizofrenia.
A relação é de risco aumentado em pessoas vulneráveis, não de causa direta.
–> Se esse tema te interessa, recomendamos a leitura do nosso artigo sobre cannabis e saúde mental, que aprofunda essas questões com mais calma.
O que fazer se um adolescente já faz uso?
O mais importante é não reagir com pânico ou repressão. O diálogo aberto, aliado à busca por profissionais de saúde (como psicólogos e psiquiatras), pode ajudar muito mais do que o medo ou a proibição.
Em alguns casos, o uso já indica algum sofrimento emocional ou falta de apoio social. A cannabis, como qualquer substância, pode ser usada como forma de escape. Entender o contexto é essencial.
FAQ sobre o uso da maconha na adolescência
- Maconha na adolescência faz mal? Pode fazer, principalmente se o uso for frequente e começar muito cedo. O cérebro dos adolescentes ainda está em formação, e estudos mostram que o THC pode afetar áreas ligadas à memória, atenção e controle de impulsos.
- Qual o efeito da maconha no cérebro durante a adolescência? O uso recorrente de cannabis pode acelerar o afinamento do córtex pré-frontal, área responsável por decisões e comportamento social. Isso pode gerar impulsividade, desmotivação e dificuldades cognitivas.
- Adolescente pode fumar maconha medicinal? A cannabis medicinal só deve ser usada com prescrição médica, especialmente na adolescência. Existem casos específicos em que o uso é indicado, mas sempre com acompanhamento profissional.
- É verdade que maconha causa esquizofrenia? Não diretamente. Mas adolescentes com predisposição genética ou histórico familiar de transtornos mentais podem ter maior risco de desenvolver sintomas se começarem a usar cannabis muito cedo.
- Fumar maconha na adolescência atrasa o desenvolvimento? Sim, pode haver impactos no neurodesenvolvimento, especialmente nas funções cognitivas e emocionais. É por isso que a regulação da cannabis deve incluir proteção para menores de idade.
- Quais os riscos da maconha na adolescência? Alterações no desenvolvimento cerebral. Aumento da impulsividade e desmotivação. Maior risco de ansiedade ou depressão. Redução na capacidade de atenção e memória.
- O que diz o estudo do JAMA sobre maconha na adolescência? O estudo acompanhou 799 adolescentes por 5 anos e identificou uma relação entre o uso frequente de cannabis e o afinamento do córtex pré-frontal — região que controla decisões e comportamento.
- Por que regular a cannabis ajuda a proteger adolescentes? Porque a regulação permite controlar idade mínima, educar sobre riscos reais, evitar produtos adulterados e reduzir o contato com o tráfico. Em países que legalizaram, o uso entre jovens caiu.


