A cannabis é uma planta milenar que não possui apenas uso recreativo. Muitas evidências científicas vêm mostrando a importância da planta para tratar condições incluindo câncer, epilepsia, autismo, ansiedade, depressão, dentre outros. Desse modo, surgiram as associações de cannabis para facilitar o acesso de forma segura e dentro das leis. 

Acompanhe com a gente a história do surgimento das associações no Brasil e como elas se encontram no presente momento, dentro do cenário brasileiro e suas regulamentações vigentes.

Como surgiram as associações de cannabis no Brasil? 

Em 2014, um caso foi capaz de mudar o curso da história da maconha no Brasil: a família de uma menina de 5 anos de idade com epilepsia refratária, chamada Anny Fischer, reconheceu os benefícios do uso medicinal da cannabis e lutou na justiça para conseguir importar o óleo derivado da planta, com sucesso.  

Isso fez com que outros pacientes buscassem informações sobre as vantagens terapêuticas da cannabis e, então, desejassem ter acesso a esses medicamentos para tratar suas condições médicas. Assim, surgiu a primeira associação de cannabis no Brasil que visa facilitar o acesso a produtos derivados dessa planta e conscientizar a sociedade sobre seus benefícios: a AMA+ME.   

Conheça alguns exemplos de associações de cannabis no Brasil 

Após a criação da AMA+ME surgiram outras associações que vamos citar abaixo: 

• ABRA Cannabis,  
• Apepi, 
• ABRACE Esperança,  
• ACuCa,  
• Cultive,  
• Cannab,  
• Accura,  
• Santa Cannabis e muitas outras.  

A dedicação dessas famílias, pacientes e associações fez com que a Anvisa publicasse RDCs (Resoluções de Diretoria Colegiada) para permitir o uso medicinal da cannabis no Brasil. Desde então, pacientes com condições médicas que podem ser benéficas à base da planta podem ter acesso a esse tratamento no país, sob receita médica e aprovação da agência reguladora, mas o preço que se paga é alto, pois apenas a importação é autorizada.  

Qual a função das associações de cannabis no Brasil?  

As associações continuaram funcionando para levar os remédios à base de cannabis para aqueles que não têm condições financeiras suficientes para arcar com os custos de um tratamento importado e mantiveram a ideia de disseminar os conhecimentos sobre esse uso.  

Duas delas, inclusive, conseguiram liminares na justiça para cultivar a maconha para fins medicinais e democratizar o acesso aos remédios derivados da planta. A ABRACE tem a maior plantação de maconha legal do Brasil para comercializar óleos e a Cultive tem um habeas corpus coletivo para 21 de seus associados.   

Em 2021, surgiu a FACT (Federação das Associações de Cannabis Terapêutica), que engloba um grupo de associações a fim de organizar o movimento a favor da maconha para uso medicinal e lutar por uma regulamentação justa e inclusiva a respeito da planta. Segundo a Federação, há mais de 20 mil pacientes associados a essas instituições que estão espalhadas por todas as regiões do Brasil. 

Veja algumas das associações mais importantes do mercado:

AMA+ME

Foi a primeira associação de cannabis a surgir no Brasil. A AMA+ME visa facilitar o acesso a produtos derivados dessa planta e conscientizar a sociedade sobre seus benefícios, assim, oferece orientações sobre a regulamentação atual, dá palestras sobre o assunto e incentiva pesquisas em torno do uso medicinal da cannabis.

Apepi

Fundada em 2014, no Rio de Janeiro, por Margarete Brito e Marcos Lins Langenbach, que entraram em contato com o potencial medicinal da planta quando descobriram que poderia controlar as convulsões de sua filha. Assim, criaram a APEPI, que promove o acesso ao uso medicinal da cannabis e dissemina informações para desmistificar a planta.

 ABRACE

A ABRACE tem a maior plantação de maconha legal do Brasil, além de ter laboratórios para a produção do medicamento de canabidiol — ela foi a primeira a conseguir essa autorização para cultivo no país. Além de oferecerem os medicamentos a preços mais acessíveis, a Abrace também oferece workshops com orientações para pacientes e médicos sobre o tema.

Cultive

Cidinha e Fabio são fundadores da Cultive e descobriram os benefícios medicinais da cannabis quando viram que poderia ser uma alternativa de tratamento para sua filha, que é acometida pela Síndrome de Dravet. Assim, criaram a Cultive, que realiza atividades educativas e pedagógicas para disseminar informações sobre a planta e tornar os medicamentos mais acessíveis. Hoje, essa associação tem um habeas corpus coletivo para 21 de seus associados poderem realizar o auto cultivo.

Santa Cannabis 

Com sede em São Paulo e Santa Catarina, a Santa Cannabis surgiu em 2019 depois de Pedro Sabaciauskis lutar por um tratamento à base de cannabis para a sua avó, acometida com Parkinson. Os bons resultados do tratamento o inspiraram a criar uma associação que pudesse ajudar outros amigos e famílias para ter acesso ao óleo medicinal e, hoje, auxilia esses pacientes, bem como pesquisa e divulga os benefícios da medicina canabinoide e atende famílias em situações de vulnerabilidade social e econômica.

Outras associações de cannabis medicinal brasileira:

• ACuCa
• ABRA Cannabis
• Cannab
• Accura

Como fazer parte de uma associação de cannabis medicinal? 

Para fazer parte de uma associação de pacientes medicinais, é necessário consultar um profissional de saúde para obter uma prescrição médica para o uso do óleo – algumas organizações não têm esse requisito.  

Em seguida, é importante localizar uma associação que atenda em seu estado e, então, entrar em contato para entender todas as documentações essenciais.  

Cenário atual das associações de cannabis no Brasil  

De acordo com o Anuário da Cannabis Medicinal 2024 da Kaya, ao menos 67 associações foram criadas em 2023. Muitas delas oferecem acesso gratuito para pessoas em situação vulnerável, além de promover a educação sobre o uso e produção artesanal de fitoterápicos.  

Outras associações focam na disseminação de informações, apoio à pesquisa, assistência jurídica e também incentivo ao auto cultivo. Esse crescimento apontado na pesquisa da Kaya é reflexo do impacto positivo das primeiras autorizações judiciais obtidas, fortalecendo o engajamento dos cidadãos na defesa da saúde. 

Ainda segundo o mapeamento da Kaya, em setembro de 2024, ao menos 259 associações já possuem CNPJ ativo no país, destacando os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Destas, São Paulo é considerada a principal, ampliando a liderança em relação ao número total de associações, com cerca de 32%. 

No Brasil, segundo os dados da Kaya apontados no Anuário, 40 associações de pacientes possuem autorização judicial para cultivo da planta, e estão espalhadas pelo país: 

• Sudeste: 23 associações; 
• Nordeste: 11 associações; 
• Sul: 4 associações; 
• Centro-Oeste: 2 associações; 
• Norte: Nenhuma associação. 

Essas autorizações se dão por meio de habeas corpus, como falamos anteriormente. Com um tamanho de mercado chegando à R$ 852 milhões no Brasil em 2024, e com mais de 672 mil pacientes, esperamos que o número de associações cresça mais a cada ano.