O mercado da cannabis no Brasil, ainda que não seja totalmente regulamentado, vem se desenvolvendo e ganhando atenção de investidores, empresários, empreendedores e outros entusiastas. Alguns modelos de negócio relacionados à planta já fincaram suas raízes no país e colaboram com os impactos positivos dessa indústria, sendo eles econômicos, sociais e ambientais.
O potencial do mercado da maconha do país é, na verdade, muito maior do que se testemunha hoje e as perspectivas para o futuro da pauta canábica no Brasil não desanimam, apesar de não serem garantidas. Existe uma clara maior aderência à pauta da cannabis no âmbito científico, empresarial, financeiro, sanitário, governamental e social no país, mas o avanço das regulamentações depende de uma série de fatores importantes.
Quanto o mercado da cannabis movimenta no Brasil?
Hoje, o único mercado de cannabis regulamentado no Brasil é o medicinal, apesar de haver movimentações em relação ao mercado de cannabis para pets e cânhamo para fins industriais. Para entender o tamanho do setor atual, a Kaya Mind balizou informações e dados obtidos internamente e de instituições de renome para realizar uma estimativa de mercado de 2018, 2019, 2020 e 2021, e, dessa forma, fazer uma projeção que contemple o que deve ocorrer até o final de 2022 e os patamares a serem alcançados no ano de 2023 e 2024.
Para o final de 2022, foi estimado que o mercado pode chegar a R$ 363,9 milhões. Em 2023, projeta-se um pouco menos que o dobro, totalizando R$ 655,1 milhões, e, no ano seguinte, quase R$ 1 bilhão, com R$ 917,2 milhões. Esses são os valores referentes à um mercado com a regulamentação atual, ou seja, apenas voltada para o uso medicinal e restrita no que diz respeito ao cultivo da planta no país. O estudo também aponta que o esse total é subdimensionado, já que se considerou apenas os medicamentos importados por meio da Anvisa e disponíveis nas farmácias, sendo que há outras formas de acesso ao uso medicinal de cannabis no Brasil – via associações e judicializações, por exemplo.
Isso acontece porque a acessibilidade dos produtos à base de cannabis vem aumentando com a disseminação de informações e as novas RDCs que são publicadas pela Anvisa. Mesmo com tentativas de ameaças aos avanços regulatórios, como a recente decisão do CFM que, depois de gerar repercussão negativa, foi suspensa, é inevitável que haja um crescimento.
Além dessa movimentação financeira, estima-se que há mais de 180 mil pessoas que fazem tratamento à base de cannabis hoje no país e que foram realizadas mais de 100 mil autorizações para importação de medicamentos à base de cannabis. Também são mais de 1900 produtos disponíveis para venda no Brasil – aqui, você pode descobrir alguns deles. Esses números mostram que, mesmo que a regulamentação de cannabis medicinal no Brasil seja restrita, já existe uma indústria estabelecida em território nacional e que tem grandes potenciais caso seja mais abrangente.
Possibilidades dentro do mercado da cannabis no Brasil
O mercado da cannabis tem amadurecido nos países onde há regulamentação e, no Brasil, mesmo com limitações jurídicas, a planta também tem se tornado foco de negócios e empresários. O potencial do mercado da cannabis no Brasil, no entanto, ainda não foi explorado em sua totalidade; são muitas possibilidades que essa indústria oferece em um país tão grande e rico como o Brasil, mas que só serão possíveis caso o cultivo se torne legal.
O Brasil tem por volta de 212 milhões de habitantes e um território de 8.516.000 km², além de ter cinco zonas climáticas diferentes, sendo a predominante a intertropical. A vastidão de recursos naturais, bem como a qualidade do solo, também define o país. Essas características mostram como existem oportunidades importantes para a cannabis no Brasil, tanto em sua forma medicinal, recreativa ou industrial.
A indústria de maconha medicinal como é hoje, ainda que imatura, já apresentou parte de seu potencial no país: empresas se mostram cada vez mais interessadas a adentrar nesse mercado e muitas surgem com o objetivo de facilitar o acesso a médicos prescritores e aos medicamentos importados. O crescente interesse dos profissionais de saúde também mostra como a indústria tem evoluído, assim como a maior demanda por medicamentos à base de cannabis por parte dos pacientes.
Como atuar no mercado da cannabis no Brasil hoje
Como dito anteriormente, apenas o mercado medicinal da cannabis tem alguma regulamentação no país, ou seja, é apenas possível atuar nesse mercado. Existe uma série de empresas nesse setor que já exploram as regulamentações em vigor e a tendência é que as limitações sejam cada vez menores e que, assim, novas marcas surjam daqui para frente.
Além do mercado medicinal, existem segmentos periféricos que também podem ser uma porta de entrada para a cannabis no Brasil. As tabacarias, headshops e growshops, por exemplo, vendem acessórios para o consumo e plantio da erva; os investimentos financeiros, como fundos, criptomoedas e até NFTs, também já têm foco na planta; eventos investem na disseminação de informação sobre a cannabis e muitos outros modelos de negócio fazem parte desse mercado de alguma forma.
Mesmo sem regulamentação, Brasil já foi grande importador de cânhamo
O relatório “Cânhamo no Brasil” apontou que a regulamentação de cânhamo poderia trazer uma série de vantagens para o Brasil no âmbito econômico, industrial e ambiental. De acordo com os dados coletados para o documento, o cânhamo tem 3 vezes mais resistência à tração do que o algodão, além de necessitar de pouca água para seu cultivo – 1 kg de cânhamo utiliza de 2.900 litros de água, enquanto 1 kg de algodão, 10 mil litros – e quase não precisar de nenhum pesticida, fungicida ou herbicida para se desenvolver bem, já que resiste às pragas em um nível acima da média. Mesmo em contradição à lei, que não permitia o uso de derivados da cannabis ou cânhamo, o Brasil tem registros de importações de insumos do cânhamo desde 1999, mas foi só nos anos de 2007 e 2008 que esses números tiveram um aumento significativo.
Nesse período, o estado de São Paulo trouxe de Bangladesh mais de 100 toneladas de cânhamo bruto. Ainda, em 2010 e 2011, também houve um salto considerável – o estado do Paraná importou da Bélgica mais de 40 toneladas de cânhamo em estopas e outras formas não fiadas. No ano de 2021, é possível observar outra ascensão no total de importações, pois os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Santa Catarina compraram uma grande quantidade de fios de cânhamo vindos da China – por volta de 7, 5 e 1,5 toneladas, respectivamente.
Viu-se que, em relação ao volume de cânhamo exportado pelo Brasil por região/bloco econômico, 114,9 toneladas foram provenientes da Ásia, 21,5 toneladas da União Europeia, 4,9 toneladas da América do Norte e 150 kg da América do Sul.
Além dessas informações, o material também mostrou o mercado potencial do cânhamo, já publicado em 2021 com o relatório Impacto Econômico da Cannabis, as indústrias que poderiam ser impactadas pela regulamentação da planta, as diferenças entre o óleo de CBD e o óleo de semente de cânhamo, uma análise sensível sobre a relação entre lucro e quantidade de cultivo de cada parte da planta e mais. Conheça alguns dos principais dados sobre o cânhamo no Brasil:
- Cânhamo tem 3 vezes mais resistência à tração do algodão;
- 1 kg de cânhamo utiliza 2.900 litros de água, enquanto de algodão, 10.000 litros;
- São Paulo importou mais de 100 toneladas de cânhamo bruto entre 2007 e 2008;
- 114,9 toneladas de cânhamo importadas pelo Brasil vieram da Ásia.
Mercado de cannabis para pets pode movimentar bilhões
Assim como os seres humanos, os animais de estimação também podem ter suas condições médicas tratadas pelo uso medicinal da cannabis. Segundo o sexto relatório da Kaya Mind “Cannabis no mercado pet”, caso houvesse uma regulamentação da planta para fins veterinários, o Brasil teria uma movimentação de mercado de até R$ 1,45 bilhão, gerando até R$ 109,5 milhões de arrecadação de impostos.
Além disso, os dados apontaram que mais de 555 mil animais de estimação poderiam ser beneficiados por tratamentos com cannabis no Brasil, sendo 498.629 cães e 56.623 gatos, o que equivale a 15% da população total de cachorros e 12% da de gatos, considerando animais vacinados, com tutores acima dos 24 anos e que vão ao veterinário pelo menos uma vez a cada três meses.
O documento também mostrou que já existem por volta de 230 produtos no mercado que poderiam ser usados pelos pets – esse número corresponde à quantidade mapeada pela Kaya Mind durante a pesquisa. Ainda, foi possível analisar que mais de 120 marcas poderiam atuar nessa indústria, se fosse regulamentado. Conheça alguns dos principais dados sobre o mercado de cannabis para pets no Brasil:
- Tamanho de mercado de até R$ 1,45 bilhão;
- R$ 109,5 milhões de impostos arrecadados;
- Mais de 555 mil animais de estimação poderiam ser tratados com cannabis;
- Por volta de 230 produtos poderiam ser usados pelos pets;
- Mais de 120 marcas internacionais e nacionais que poderiam atuar na indústria.
Tanto homens quanto mulheres têm interesse em cannabis medicinal
De acordo com uma pesquisa realizada na Medical Cannabis Fair 2022, que aconteceu em São Paulo, do dia 3 a 6 de maio, a Kaya Mind estudou o cenário do mercado da cannabis e traçou um perfil sociodemográfico e de comportamento de consumo dos participantes do evento.
Entre os 1.022 entrevistados, viu-se que há um balanço de gênero entre os interessados setor de cannabis medicinal no Brasil, com cerca 50% do público sendo masculino e 49% feminino. Os outros 1% preferiu não declarar. Ainda, foi possível analisar que as mulheres entrevistadas tinham um nível de graduação maior do que os homens; 29,7% do público do gênero feminino tinha pós-graduação, contra 24,5% do público masculino.
Segundo o estudo, também se concluiu que os principais objetivos das pessoas no evento eram conhecer mais sobre o setor (fator considerado em aproximadamente 37,3% das respostas) e conhecer as empresas que já trabalham na área (22,7%). Em seguida, os próximos lugares no ranking eram: fazer negócios (18,6%); entender como esse mercado pode impactar o seu setor (14,7%) e buscar emprego (6,5%).
Quais as maiores empresas de cannabis no mundo?
No mundo, existem empresas de cannabis que já ocuparam posições importantes no mercado, fazendo parte, inclusive, de bolsas de valores de renome. A maioria delas está localizada no Canadá, onde a regulamentação da planta inclui o uso medicinal, adulto e industrial. Veja algumas das maiores delas:
- Canopy Growth
- Tilray + Aphria
- Aurora Cannabis
- Cronos Group
Aqui, você pode entender mais detalhes sobre elas. Por outro lado, no Brasil, mesmo sem uma regulamentação ampla, a Kaya Mind mapeou mais de 700 empresas que atuam no mercado da cannabis hoje. Muitas delas, inclusive, são startups de cannabis, como a Kaya Mind.
Perspectivas para o mercado da cannabis no Brasil
O cenário da cannabis mundo afora mostra como o Brasil ainda engatinha quando se diz respeito à regulamentação da planta. O mercado da maconha nos EUA, mesmo que legalizado em alguns estados, já movimentou bilhões de dólares. Esse crescimento incentiva diversas frentes, como o mercado financeiro, em que se vê ações, fundos de investimento e outros ativos voltados à cannabis surgindo e se valorizando.
Segundo dados coletados e calculados pela Kaya Mind, em território brasileiro, o valor de mercado da maconha pode atingir o total de R$ 26 bilhões no 4º ano após a regulamentação, incluindo os três usos da planta (medicinal, adulto e industrial). Esse patamar é comparável à movimentação do mercado de compras feitas pelo celular, em 2019, ao de produtos de limpeza domésticos e industriais no mesmo ano, e a produção de defensivos agrícolas em 2018. Ainda, deste total, seriam recolhidos R$ 8 bilhões de impostos para o governo, o que possibilitaria investimentos importantes nas áreas da saúde, educação, economia, tecnologia e mais. Só a produção de CBD no Brasil e dos outros fitocanabinoides da cannabis para fins medicinais movimentaria R$ 9,5 bilhões no 4º ano após a implementação da lei.
Caso houvesse uma regulamentação em torno do cultivo e uso do cânhamo, o Brasil poderia se tornar um dos grandes exportadores desse mercado por conta de suas vantagens territoriais e climáticas. As oportunidades no âmbito agrícola seriam várias, já que o cânhamo poderia complementar culturas que são grandes bases para a economia brasileira, e uma gama de possibilidades surgiria para o ramo alimentício, já que a planta oferece matérias-primas nutritivas e relevantes para esse setor. A indústria têxtil, bem como automobilística, civil e tantas outras também seriam afetadas. Para o Brasil, um investimento no mercado de cânhamo significaria R$ 4,9 bilhões movimentados e uma arrecadação de R$ 330,1 milhões em impostos.
Com uma regulamentação que abrangesse o cultivo e uso da planta em sua integralidade, o mercado da cannabis transformaria o cenário para as empresas canábicas e as não-canábicas, a indústria de trabalho e o mercado financeiro. Assim, impactaria a vida de inúmeros indivíduos, desde trabalhadores até grandes empresários. Só em relação ao emprego, seriam geradas por volta de 328 mil oportunidades de trabalho, o que é extremamente importante para o país, já que o Brasil atingiu uma taxa de desemprego de 14,7% em maio de 2021. As consequências indiretas da regulamentação da indústria canábica, portanto, também serão muitas e deverão ser levadas em conta.
Principais indicadores do mercado da cannabis futuro no Brasil
- R$ 26,1 bilhões movimentados com os três usos da cannabis regulamentados
- R$ 8 bilhões de impostos arrecadados com os três usos da cannabis regulamentados
- R$ 9,5 bilhões movimentados com o uso amplo da cannabis medicinal
- 15 mil hectares de cânhamo plantados no país com regulamentação
- R$ 901,3 milhões movimentados no âmbito esportivo com uma regulamentação ampla
- R$ 1,45 bilhões movimentados com o mercado da cannabis para pets em um cenário de alta adesão
- 328 mil empregos formais e informais relacionados à cannabis criados no país
Esses valores se referem à um cenário que contribuiria ainda mais para o desenvolvimento econômico do Brasil e impactaria diversas outras frentes importantes para o país. Entre elas, o acesso amplo aos tratamentos à base da cannabis para quem necessita, de acordo com os direitos básicos de saúde, além da reparação histórica com as populações negras e periféricas que sofrem, há anos, com a guerra às drogas. Ainda, a sustentabilidade do país também estaria em jogo, mudando para melhor, já que o cânhamo, por exemplo, tem um papel importante nas indústrias e seu cultivo contribui para uma manutenção do meio ambiente.
Para entender mais sobre esse desenvolvimento, baixe o relatório “Anuário da Cannabis no Brasil”. É gratuito!