O universo da pesquisa científica tem ganhado mais espaço nos últimos anos em relação à cannabis. Mudanças nas regulamentações em diversos países, incluindo EUA, Alemanha e até mesmo no Brasil, mostram um cenário mais promissor e receptivo para os pesquisadores de cannabis.
Uma das maiores dores de quem está no campo científico é a visibilidade e publicação de seus estudos. Muitas editoras científicas cobram valores exorbitantes para publicar os artigos, mas o movimento de acesso aberto vem se mostrando uma grande oportunidade para pesquisadores de cannabis mostrarem o seu trabalho, ainda mais quando falamos de um assunto que ainda sofre muitos preconceitos, como a maconha.
Cenário dos pesquisadores de cannabis no Brasil
Segundo o Anuário da Cannabis Medicinal 2024, publicada pela Kaya, 1.710 estudos científicos foram publicados nos últimos 10 anos no PubMed com as palavras-chave “cannabis” e “canabidiol”.
O ano de 2020 apresentou maior crescimento, de 23,4%, em relação ao ano anterior. Em 2023, houve uma retração de 7%, mas 2024 já se mostra mais promissor, com uma representatividade de 60% somente no primeiro semestre.
Em relação aos temas mais pesquisados, incluem-se:
- Saúde mental – 29
- Prevenção e/ou redução de danos – 21
- Interação com outras substâncias – 16
- Performance física – 11
- Saúde geral – 9
Além desses dados, 62% dos estudos são testes controlados e aleatórios, 12% são estudos clínicos e 26% meta-análises. Dentre essas pesquisas, existem 40 instituições que possuem autorização para conduzir estudos com cannabis e seus derivados e já são 89 autorizações concedidas pela Anvisa, desde 2015, para realizar pesquisas com cannabis.
Diversas universidades, como a USP, tem produzido essas pesquisas. O Jornal da USP divulgou uma matéria contanto que quatro professores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto estão entre os dez mais produtivos na área.
A UFS também é uma das universidades que pesquisam a temática. Os pesquisadores estão investigando os efeitos do uso medicinal da planta na saúde do ser humano. A UNICAMP é um dos grandes nomes quando o assunto é pesquisa sobre canabidiol, além de outras instituições relevantes no Brasil.
Como os pesquisadores de cannabis podem divulgar os seus estudos?
A pesquisa científica sobre a cannabis tem ganhado destaque no cenário internacional, à medida que mais estudos comprovam seus potenciais terapêuticos, bem como os impactos sociais e econômicos de seu uso. Contudo, a divulgação desses estudos, especialmente no contexto de um tema que ainda desperta controvérsias, exige responsabilidade, clareza e aderência às normas científicas, éticas e legais.
No Brasil, como em muitos outros países, os pesquisadores enfrentam desafios tanto na condução de seus estudos quanto na comunicação dos resultados para o público acadêmico, as agências de fomento e a sociedade em geral. Por esse motivo, vamos dar algumas dicas de como divulgar a sua pesquisa.
1. O padrão ouro das publicações acadêmicas e científicas
Para a maioria dos pesquisadores de cannabis, a publicação de resultados em periódicos acadêmicos continua sendo a principal forma de divulgação. No entanto, a escolha do periódico adequado é crucial. Os pesquisadores devem selecionar revistas especializadas em temas relacionados à cannabis, saúde pública, farmacologia e ciências biomédicas, que tenham impacto acadêmico e alcance internacional.
- Revistas indexadas: É fundamental que o estudo seja submetido a revistas indexadas em bases de dados como PubMed, Scopus e Web of Science. Isso garante que o artigo tenha maior visibilidade e credibilidade.
- Revistas de acesso aberto: Publicar em revistas de acesso aberto (open access) aumenta a acessibilidade do estudo, permitindo que ele chegue a um público mais amplo, incluindo profissionais da saúde, pesquisadores de outras áreas e o próprio público leigo.
Além disso, ao submeter o artigo, os pesquisadores devem garantir que o estudo siga rigorosamente as diretrizes éticas e científicas exigidas, cumprindo com as normas de metodologia científica e de boas práticas de pesquisa.
2. Apresentações em congressos e conferências científicas
Participar de congressos e conferências científicas, nacionais e internacionais, é outra ferramenta importante para a divulgação de estudos. Além de permitir que os pesquisadores apresentem seus achados diretamente a outros especialistas, esses eventos oferecem oportunidades para trocar experiências, estabelecer parcerias e promover discussões produtivas.
No caso da cannabis, já existem eventos especializados, como o Cannabis Science Conference e o International Cannabinoid Research Society (ICRS) Annual Symposium, que reúnem cientistas e profissionais da área de cannabis. Participar de tais conferências é uma excelente maneira de mostrar o impacto do seu trabalho, divulgar novas descobertas e aumentar o reconhecimento na comunidade científica.
3. Apoio de agências de fomento e instituições de pesquisa
No Brasil, a pesquisa sobre cannabis é fortemente influenciada por políticas públicas e por agências de fomento que incentivam estudos científicos. Algumas das principais agências de fomento que podem apoiar esses estudos incluem:
- CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico): Financia projetos de pesquisa científica e tecnológica, incluindo aqueles voltados para o estudo da cannabis e seus usos terapêuticos.
- FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo): Oferece apoio financeiro a projetos de pesquisa no estado de São Paulo, incluindo estudos sobre cannabis e seus derivados.
- CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior): Oferece bolsas e programas de apoio a pós-graduandos e pesquisadores em diversas áreas do conhecimento, incluindo ciências da saúde.
Além dessas agências, diversas universidades brasileiras e internacionais estão criando centros de pesquisa dedicados à cannabis. Buscar parcerias com essas instituições pode proporcionar recursos e aumentar a visibilidade do seu estudo.
4. Divulgação em mídias digitais e redes sociais
Além da publicação científica tradicional, a internet e as redes sociais têm se tornado canais essenciais para disseminar conhecimento. Plataformas como ResearchGate, LinkedIn, Twitter e até Instagram oferecem oportunidades para que os pesquisadores compartilhem resumos dos seus trabalhos, interajam com outros profissionais e aumentem o alcance de suas pesquisas.
Entretanto, é importante que a comunicação seja feita de maneira responsável. Para isso, o pesquisador deve:
- Evitar jargões técnicos ao se comunicar com o público geral.
- Fornecer fontes confiáveis e referenciar seus estudos de forma clara.
- Manter um tom ético e imparcial, evitando a supervalorização dos resultados.
Além disso, muitos pesquisadores têm utilizado blogs, podcasts e vídeos em plataformas como o YouTube para divulgar seus trabalhos de forma mais acessível e dinâmica.
5. Colaboração com organizações não governamentais (ONGs) e movimentos sociais
No Brasil, diversas organizações não governamentais e movimentos sociais têm lutado pela legalização da cannabis para uso medicinal e para pesquisa. Colaborar com essas entidades pode ajudar a divulgar a pesquisa e, ao mesmo tempo, fortalecer a defesa da cannabis como uma alternativa terapêutica legítima.
Essas organizações podem ajudar na mobilização de eventos, campanhas de conscientização e no apoio às políticas públicas de pesquisa sobre cannabis. Também é possível promover webinars, debates e outras ações educativas em conjunto com essas entidades.
A cannabis vem sendo pesquisada amplamente para tratar diversas condições médicas, como ansiedade, depressão, Alzheimer, Parkinson, glaucoma, dores crônicas, problemas de sono, dentre outras patologias. É crucial entender quais são as formas de divulgar essas pesquisas para quem cheguem ao público geral, e não somente para outros pesquisadores.
Melhores ferramentas open access para divulgar pesquisa
A disseminação de pesquisa científica é um dos pilares para o avanço do conhecimento e para a construção de uma sociedade mais informada e preparada para enfrentar os desafios contemporâneos. A acessibilidade à informação científica, por meio de plataformas de acesso aberto (open access), tem se tornado cada vez mais uma necessidade, tanto para pesquisadores quanto para o público em geral.
Vamos analisar as principais ferramentas de acesso aberto utilizadas em universidades, centros de pesquisa e órgãos de fomento à pesquisa no Brasil:
- Repositórios institucionais: são plataformas criadas por universidades e instituições de pesquisa para armazenar e disponibilizar a produção científica de seus pesquisadores.
- Revistas de acesso aberto: permitem que qualquer pessoa acesse os artigos sem custos. No Brasil, uma das mais conhecidas é a Scielo e a PLOS ONE.
- Plataformas de preprints: Os preprints são versões preliminares de artigos científicos que ainda não passaram pela revisão por pares. Elas permitem que os pesquisadores compartilhem rapidamente seus resultados com a comunidade científica, recebam feedbacks construtivos e gerem discussões sobre o trabalho antes da publicação final.
- Plataformas de compartilhamento acadêmico: ResearchGate e Academia.edu são duas das plataformas mais populares para pesquisadores compartilharem seus trabalhos de maneira interativa e acessível.
- Repositórios de dados de pesquisa: são plataformas onde os pesquisadores podem armazenar e compartilhar seus conjuntos de dados de maneira aberta.
Esperamos que essas dicas possam ajudá-lo no processo de divulgação da sua pesquisa científica. Sempre priorize a qualidade dos dados, usando fontes confiáveis de busca, como base de dados e outras ferramentas que apresentamos acima para oferecer informações fidedignas e confiáveis para a comunidade científica e para a população.