De acordo com o Jornal da USP, apenas 9% do plástico global é reciclado e essa porcentagem é ainda menor no cenário brasileiro. Embora tenha aspectos positivos e negativos, o plástico comum leva até 500 anos para se decompor no meio ambiente, tornando o plástico de cânhamo uma opção muito mais sustentável e viável.
Mesmo que o cânhamo seja uma excelente alternativa, existem muitos entraves que dificultam o seu uso em diversos países, incluindo o Brasil, como a falta de conhecimento, o preconceito em relação à maconha e o conservadorismo por parte de governantes. Vamos debater mais a respeito do bioplástico e seus benefícios para o planeta!
O que é plástico de cânhamo?
O plástico de cânhamo é um tipo de plástico feito a partir da celulose do cânhamo, uma planta que é da mesma família da maconha, mas com uma quantidade mínima de THC (o composto psicoativo). O cânhamo tem sido cultivado há milênios por suas fibras fortes e versáteis, usadas para produzir tecidos, cordas, papel, alimentos, dentre outros itens.
O seu crescimento é rápido e de baixo custo, além de possuir enorme potencial no Brasil por suas condições de clima favoráveis – e esse é um dos motivos que faz com que o cânhamo seja uma excelente opção.
8,3 bilhões de toneladas métricas de plástico foram criados nas últimas seis décadas no Brasil e a maior parte dos plásticos são feitos de petróleo, substância que destrói o meio ambiente. É importante lembrar que quando falamos de “plástico de cânhamo”, estamos nos referindo a um material biodegradável, sustentável e ecológico que pode substituir plásticos derivados do petróleo, como os plásticos tradicionais que dominam hoje as indústrias de embalagens, utensílios e outros produtos.
Agora, vamos voltar no tempo e entender o contexto histórico do plástico de cânhamo!
História do plástico de cânhamo
Ele surgiu de uma necessidade crescente de materiais alternativos mais ecológicos e sustentáveis, uma preocupação que começou a ganhar força no início do século 20. Na década de 1940, o cientista e inventor Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, foi um dos pioneiros no uso do cânhamo para fabricar plásticos. Ele acreditava que o cânhamo poderia ser uma solução inovadora para diversos problemas industriais e ambientais.
Em 1941, Ford demonstrou um protótipo de um carro que usava plásticos à base de cânhamo em várias partes da sua estrutura. A ideia era que o cânhamo não só fornecesse matéria-prima para plásticos, mas também que fosse um recurso renovável e mais sustentável em comparação com os plásticos derivados de petróleo.
Esse carro ficou conhecido como o “carro de cânhamo” ou “carro sustentável” porque algumas partes da carroceria eram feitas de plásticos reforçados com fibras de cânhamo, que eram mais leves e fortes do que os plásticos convencionais.
No entanto, a popularidade do plástico de cânhamo começou a declinar quando o cânhamo passou a ser proibido nos Estados Unidos durante a década de 1930, juntamente com uma campanha mais ampla contra a maconha. Isso, em parte, foi impulsionado por uma série de políticas e campanhas que associavam o cânhamo à maconha e, por consequência, ao crime e à “moralidade deteriorada”.
O cânhamo foi, então, colocado sob um embargo legal, e o plástico de cânhamo perdeu espaço no mercado, sendo substituído por materiais derivados do petróleo, mais baratos e de fácil produção em massa.
Cânhamo no Brasil
No Brasil, o cânhamo enfrentou desafios semelhantes aos de outros países, com a planta sendo associada à maconha e, por isso, sendo proibida em boa parte do século 20. Contudo, a partir dos anos 2000, com a crescente pressão por alternativas mais ecológicas e sustentáveis, começou a ser reabilitado como uma cultura com potencial industrial.
Hoje, o Brasil ainda enfrenta um caminho regulatório desafiador para permitir o cultivo amplo do cânhamo, mas o país tem avançado na conscientização e em projetos piloto voltados para o uso industrial do cânhamo, incluindo sua aplicação na produção de plásticos mais sustentáveis.
Benefícios do plástico de cânhamo
Não é preciso dizer que o cânhamo é a melhor escolha para a produção de plástico, mas ele possui diversos benefícios que podem ser aplicados em outros tipos de usos.
Sabe quanto tempo o cânhamo demora para se degradar na natureza? Cerca de 3 a 6 meses, enquanto plásticos comuns levam DÉCADAS! Além disso, é um material não tóxico para a saúde, feito a partir da celulose, incluindo as folhas, cascas de sementes e caules de plantas.
O plástico de cânhamo oferece vários benefícios importantes:
- Sustentabilidade: É biodegradável e compostável, reduzindo o impacto ambiental e a poluição, ao contrário dos plásticos convencionais, que demoram centenas de anos para se decompor.
- Baixa pegada de carbono: O cânhamo cresce rapidamente e requer menos pesticidas e fertilizantes, tornando sua produção mais ecológica em comparação com outras culturas e plásticos derivados do petróleo.
- Redução da dependência do petróleo: O plástico de cânhamo oferece uma alternativa renovável aos plásticos petroquímicos, ajudando a diminuir o uso de recursos não renováveis.
- Leveza e resistência: O plástico de cânhamo é forte e leve, tornando-o útil em indústrias como a automotiva, onde é utilizado para reduzir o peso dos veículos e melhorar a eficiência de combustível.
- Versatilidade: Pode ser usado em diversas aplicações, como embalagens biodegradáveis, componentes automotivos, materiais de construção e produtos de consumo, promovendo um uso mais sustentável e consciente de recursos.
Esses benefícios fazem do plástico de cânhamo uma alternativa promissora para um futuro mais sustentável e menos dependente dos plásticos tradicionais.
Por que o cânhamo pode ajudar a salvar o planeta?
Por causa de todos esses benefícios que citamos acima! A cannabis é uma planta muito versátil, podendo ser utilizada para fins medicinais, recreativos e industriais, o que inclui o plástico de cânhamo, os comestíveis, roupas, cordas, dentre tantas outras coisas que podem ser produzidas a partir de uma única planta.
Seu custo é baixo, mais rápido para se desenvolver – principalmente no Brasil – e produz menos efeitos colaterais no planeta! Só aqui já deu para entender porque é a escolha certa, ainda mais no momento em que estamos vivendo com tantas crises climáticas e catástrofes que acompanhamos ao redor do mundo.
Além de tudo isso, o cânhamo reduz o desmatamento, pode ser usado para produzir biocombustíveis, ajuda a manter a saúde do solo, tem potencial para recuperação de áreas degradas e é uma alternativa ao uso intensivo da água. É ou não é a melhor alternativa?
Mas nem tudo são flores nesse universo canábico e vamos entender porque o cânhamo ainda não está sendo utilizado com mais intensidade.
Entraves para o uso do bioplástico de cânhamo
Apesar de todos os benefícios ambientais e industriais do plástico de cânhamo, seu uso ainda não é massivo devido a uma combinação de fatores legislativos, econômicos e sociais. Esses entraves são complexos e não envolvem apenas a planta, mas todo um contexto histórico e político.
Muitos países ainda restringem o cultivo da planta, o que limita a produção de plásticos de cânhamo, além da falta de regulamentações claras que também dificulta a adoção em larga escala. Mas esses não são os únicos motivos.
O cânhamo é muitas vezes visto com desconfiança devido à sua relação com a maconha, o que gera resistência tanto dos consumidores quanto de setores da indústria. Mesmo com dados e pesquisas científicas sendo geradas ao redor do mundo, o estigma da planta prevalece e influencia em diversas esferas.
Quando pensamos em produção, mesmo com o clima favorável no Brasil, torna-se ainda mais cara devido à falta de infraestrutura e tecnologias maduras. Pra finalizar (ou não) a falta de conhecimento sobre os benefícios do cânhamo e o lobby das indústrias petroquímicas dificultam sua aceitação em grande escala.
E com todos esses apontamentos, é possível entender que, mesmo sendo a escolha mais certa e sustentável, a sua aplicação ainda é tímida e pode levar muitos anos para ser implementado no Brasil e no mundo em grande escala.