A ibogaína, uma substância natural com efeitos psicoativos, tem ganhado destaque como alternativa no tratamento da dependência química. Derivada da raiz de uma planta africana, a ibogaína vem sendo estudada por seu potencial terapêutico para ajudar pessoas que enfrentam vícios em drogas como álcool, cocaína e opiáceos. Mas afinal, como ela funciona? Quais são seus efeitos? E como está sua regulamentação no Brasil?
Neste artigo, você vai entender tudo o que precisa saber sobre a ibogaína, com base em estudos científicos e de forma clara e didática.
O que é ibogaína e de onde ela vem?

A ibogaína é um alcaloide psicoativo extraído da raiz da planta Tabernanthe iboga, nativa da África Central, especialmente do Gabão. Por lá, é utilizada há séculos por povos como os Bwiti em rituais espirituais. No Ocidente, o interesse pela planta cresceu na década de 1960, quando Howard Lotsof, um jovem dependente de heroína, relatou ter perdido completamente o desejo de consumir a droga após uma experiência com a ibogaína — sem apresentar sintomas de abstinência.
Desde então, ela passou a ser investigada como uma ferramenta potencial no combate à dependência de substâncias psicoativas.
Principais usos terapêuticos da ibogaína
Embora seja mais conhecida por seu uso no tratamento da dependência química, a ibogaína também tem sido estudada para outros fins terapêuticos. Os principais usos incluem:
- Redução da fissura e abstinência em dependentes de álcool, cocaína, heroína e nicotina;
- Alívio de distúrbios emocionais e psíquicos, como ansiedade e depressão;
- Reequilíbrio de neurotransmissores envolvidos na sensação de prazer e recompensa, como dopamina, serotonina e glutamato.
Como a ibogaína age no cérebro?
Estudos indicam que a ibogaína age em vários sistemas de neurotransmissores ao mesmo tempo:
- Sistema opioide, responsável pela sensação de prazer em usuários de drogas como heroína e morfina;
- Sistema serotoninérgico, ligado ao humor e à ansiedade;
- Sistema nicotínico, relacionado à dependência de nicotina;
- Sistema NMDA, que afeta o aprendizado, a memória e a plasticidade cerebral.
Essa ação múltipla parece “resetar” o sistema de recompensa do cérebro, reduzindo a compulsão pelo uso e a fissura, sem provocar os sintomas clássicos da abstinência.
Estudos sobre ibogaína: o que dizem as pesquisas?
Dois estudos importantes ajudam a entender melhor os efeitos e o potencial da ibogaína:
1. Uso de Ibogaína no Tratamento de Dependência Química (Aquino, 2019 – USP)
Este trabalho de conclusão de curso da Universidade de São Paulo reuniu diversos dados experimentais e apontou que:
- A efetividade da ibogaína em terapias de desintoxicação chegou a 61%, contra 30% de métodos convencionais;
- A substância apresentou baixa taxa de efeitos colaterais, quando usada com acompanhamento médico;
- Os autores recomendam ensaios clínicos mais amplos, para que sua segurança e eficácia sejam reconhecidas oficialmente.
2. O Uso Terapêutico da Ibogaína – Uma Breve Revisão (Silva et al.)
Esta revisão reforça que a ibogaína:
- Reduz a fissura e os sintomas de abstinência com uma única dose;
- Pode ser usada como alternativa ou complemento aos tratamentos tradicionais;
- Mostra resultados especialmente promissores em dependentes de heroína, cocaína e álcool.
Ambos os estudos concluem que a substância tem potencial terapêutico real, mas ainda precisa de regulamentação e padronização para uso seguro em larga escala.
Efeitos da ibogaína: o que esperar
A experiência com ibogaína pode ser intensa e geralmente ocorre em um ambiente controlado, com acompanhamento profissional. Os principais efeitos relatados incluem:
- Alterações de percepção e consciência (semelhantes a um sonho vívido);
- Reflexões profundas sobre a vida e o vício;
- Diminuição da ansiedade e da fissura;
- Redução ou ausência de sintomas físicos de abstinência;
- Em alguns casos, náusea, tontura e sonolência.
O “efeito psicoativo” pode durar de 8 a 36 horas, dependendo da dose, metabolismo e sensibilidade do paciente. Por isso, seu uso deve sempre ser supervisionado por profissionais capacitados.
Ibogaína no Brasil: é legal? Pode ser usada?
A ibogaína não é proibida no Brasil, mas também não é registrada como medicamento pela Anvisa. Isso significa que seu uso é considerado experimental, sendo permitido apenas em contextos clínicos privados e com protocolos próprios.
A Anvisa permite a importação da substância para fins de pesquisa, como estabelece a RDC 204/2006. Ou seja, ela não pode ser vendida em farmácias, e a importação para uso pessoal depende de autorização especial. Na prática, a maioria das clínicas que aplicam o tratamento no Brasil exige que o próprio paciente importe o produto, com valores que podem ultrapassar R$ 5 mil por sessão.
Benefícios e limitações da ibogaína
Benefícios:
- Alta taxa de sucesso na redução da fissura e abstinência;
- Efeitos rápidos e duradouros (em muitos casos, após uma única aplicação);
- Pode atuar como alternativa em casos refratários aos tratamentos convencionais.
Limitações:
- Efeitos adversos leves, mas que exigem monitoramento;
- Não substitui o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico;
- A ausência de regulamentação dificulta o controle de qualidade e segurança;
- Não é recomendada para pessoas com histórico de doenças cardíacas ou psiquiátricas graves.
Conclusão: vale a pena considerar a ibogaína?
A ibogaína é uma alternativa potente e promissora no tratamento da dependência química. Os estudos indicam sua capacidade de reduzir os sintomas de abstinência e ajudar pacientes a se desvincularem do ciclo da adicção — principalmente em combinação com suporte psicológico.
Por outro lado, ainda é necessário avançar em termos de regulamentação, segurança, protocolos clínicos e controle de qualidade. A substância não é milagrosa, e o sucesso do tratamento depende de uma abordagem ampla e multidisciplinar.
Se você quiser saber mais sobre como a ciência está estudando o potencial terapêutico de substâncias naturais, confira também nossos artigos sobre canabidiol e dependência química e alternativas naturais para transtornos mentais.


