A relação entre cannabis e saúde hepática tem despertado cada vez mais o interesse de pesquisadores, médicos e pacientes. Com o crescimento do uso medicinal da planta e o aumento das prescrições de produtos à base de canabinoides, é natural que surjam dúvidas como: a maconha faz mal ao fígado? CBD pode ajudar quem tem gordura hepática? THC e álcool juntos sobrecarregam o fígado?
Neste artigo, vamos explorar o que a ciência diz sobre o impacto da cannabis no fígado, abordando riscos, potenciais terapêuticos e estudos recentes. Se você está considerando iniciar um tratamento com cannabis ou quer entender melhor os efeitos da planta nesse órgão vital, este conteúdo é para você.
A relação entre cannabis e saúde hepática
Para entender o impacto da cannabis na saúde do fígado, é importante lembrar que o órgão é responsável por metabolizar quase todas as substâncias que ingerimos — incluindo os canabinoides como THC e CBD. Ou seja, o fígado é quem quebra essas moléculas e regula sua permanência no organismo.
Estudos mostram que o sistema endocanabinoide também está presente no fígado e participa de funções como metabolismo lipídico, inflamação e regeneração celular. A ativação dos receptores CB1 e CB2, especialmente em situações de desequilíbrio, pode contribuir para o desenvolvimento de esteatose hepática (gordura no fígado), fibrose ou inflamações crônicas — mas também pode oferecer benefícios terapêuticos.
A cannabis faz mal ao fígado?
Estudos observacionais apontam que o uso recreativo crônico e em altas doses de cannabis pode causar alterações nos níveis de enzimas hepáticas, especialmente em usuários com predisposição a doenças do fígado. No entanto, ainda não há consenso se isso representa um risco real para a maioria das pessoas saudáveis.
Por outro lado, pesquisas com produtos medicinais à base de CBD mostram que, em doses terapêuticas e controladas, não há evidência sólida de toxicidade hepática — exceto em casos raros, geralmente ligados ao uso de formulações mal padronizadas ou sem prescrição médica.
Cannabis e consumo de álcool: interação e riscos

O consumo combinado de álcool e cannabis pode representar riscos adicionais para a saúde hepática, especialmente em contextos de uso recreativo e frequente. Tanto o álcool quanto os canabinoides, como o THC, são metabolizados pelo fígado e podem sobrecarregar o órgão quando ingeridos em grandes quantidades ou de maneira contínua. Estudos já mostraram que essa combinação pode intensificar processos inflamatórios e alterar enzimas hepáticas, agravando condições pré-existentes.
Por outro lado, um estudo recente publicado na revista Nature Molecular Psychiatry em 2024 apontou que o CBD pode ter efeitos protetores em pessoas que consomem álcool. Segundo os pesquisadores, o canabidiol demonstrou reduzir o desejo compulsivo pela bebida e modular vias de neuroinflamação associadas ao uso excessivo de álcool. Isso sugere que o CBD pode ser um aliado no tratamento de transtornos por uso de álcool, com potencial para proteger o fígado dos danos causados pela ingestão crônica.
Confira mais detalhes no artigo sobre CBD e álcool.
A maconha pode piorar a esteatose hepática (gordura no fígado)?
A resposta depende do contexto. Alguns estudos sugerem que o uso de cannabis está associado a menor prevalência de obesidade e resistência à insulina, fatores de risco para gordura no fígado. Porém, o excesso de THC pode ativar o receptor CB1 e estimular o acúmulo de lipídios hepáticos, agravando a esteatose em determinados perfis.
Em resumo: a cannabis pode ser benéfica ou prejudicial para o fígado dependendo do canabinoide dominante, da dose, da frequência de uso e do estado de saúde da pessoa.
Benefícios potenciais da cannabis para a saúde hepática
- Efeitos anti-inflamatórios do CBD em doenças hepáticas
O CBD (canabidiol) possui propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, que vêm sendo estudadas em doenças como hepatite, colestase e fibrose hepática. Pesquisas com animais indicam que o CBD pode ajudar a reduzir a inflamação e o estresse oxidativo no fígado, promovendo proteção contra danos celulares.
- Cannabis e fibrose hepática
Modelos pré-clínicos sugerem que a ativação do receptor CB2 — estimulada por alguns canabinoides — pode reduzir o avanço da fibrose hepática, promovendo efeitos protetores. Esses dados abrem caminho para a criação de tratamentos à base de cannabis para pacientes com doenças hepáticas crônicas.
- Cannabis como alternativa segura a medicamentos hepatotóxicos
Outra vantagem da cannabis medicinal é que ela pode ser usada como alternativa a medicamentos com alta carga tóxica hepática, como anti-inflamatórios, opioides ou benzodiazepínicos. Isso pode ser particularmente relevante para pacientes com histórico de doenças do fígado que precisam de alívio para dor, ansiedade ou insônia.
Em nossa página sobre melhores práticas na prescrição de canabidiol explicamos como médicos podem utilizar o CBD com segurança.
O que dizem os estudos clínicos mais recentes sobre saúde hepática
Estudos publicados em bases como PubMed e Frontiers in Pharmacology têm investigado o papel dos canabinoides na saúde hepática com mais profundidade.

- Cannabidiol Alleviates Liver Injuries in Alcoholics With High-Fat Diets
Este estudo investigou os efeitos do CBD em lesões hepáticas induzidas por dieta rica em gordura e álcool, demonstrando que o CBD pode prevenir a esteatose hepática e o estresse oxidativo. - Cannabidiol Alleviates Carbon Tetrachloride-Induced Liver Fibrosis in Mice
- Pesquisa que mostrou que o CBD reduziu os níveis de AST e HA, além de diminuir a infiltração inflamatória e a deposição de colágeno em tecidos hepáticos, indicando que o CBD alivia significativamente a fibrose hepática induzida por CCl₄.
- The Protective Role of Cannabidiol in Stress-Induced Liver Injury
- Este estudo concluiu que o CBD ativa a via CB2R/α-SMA para modular a inflamação e fibrose hepática, além de aliviar o estresse oxidativo em lesões hepáticas induzidas por estresse. The Role of Cannabidiol in Liver Disease: A Systemic Review
- Revisão abrangente que enfatiza a riqueza de dados ligando o CBD a doenças hepáticas, discutindo detalhadamente os receptores através dos quais o CBD pode exercer seus efeitos.
Embora ainda faltem estudos clínicos de longo prazo, a tendência científica aponta para um potencial promissor da cannabis em tratamentos complementares para doenças do fígado.
Cuidados no uso de cannabis por pacientes com doenças hepáticas
- Evitar automedicação. O fígado metaboliza os canabinoides, e pacientes com problemas hepáticos devem ser acompanhados por médicos capacitados.
- Preferir formulações com CBD dominante e baixo teor de THC, especialmente em quadros inflamatórios.
- Monitorar enzimas hepáticas periodicamente durante o tratamento.
- Evitar o uso conjunto com álcool ou substâncias hepatotóxicas.
Conheça as ferramentas de prescrição médica da Kaya Mind para uso responsável e seguro da cannabis medicinal.
Depende de como, quanto e para quem. A cannabis medicinal pode sim ter benefícios para o fígado, especialmente quando usada de forma orientada e com foco terapêutico. O CBD se destaca por seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, enquanto o THC exige mais atenção, principalmente em pacientes com predisposição a doenças hepáticas.
Com mais estudos sendo conduzidos, o futuro aponta para uma melhor compreensão dos mecanismos da cannabis no fígado e o desenvolvimento de protocolos clínicos seguros.
Quer acompanhar os avanços científicos e entender como a cannabis pode transformar a saúde no Brasil? Acesse gratuitamente o Anuário da Cannabis Medicinal 2024
É médico ou profissional da saúde e quer prescrever com segurança? Cadastre-se no Kaya Doc e tenha acesso a ferramentas exclusivas para prescrição segura, conteúdo científico e acompanhamento de pacientes.