O tabaco acompanha a história de diversas civilizações. Há milhares de anos, a folha era utilizada por tribos sul-americanas durante rituais religiosos. Com o passar do tempo, o tabaco se difundiu por todos os continentes e explorado como uma alternativa terapêutica. Atualmente, a indústria tabagista se expandiu e o potencial econômico impacta diretamente a economia brasileira e mundial.
Vem com a gente entender um pouco mais desse mercado e seus impactos na saúde e na indústria brasileira.
História do tabaco no Brasil e no mundo
A palavra tabaco teve origem no século IX no continente asiático, e deriva do termo árabe tabbâq, que se referia a plantas fumadas em cachimbos com o formato de tubos de bambus. Essa terminologia foi designada a todos os produtos procedentes das folhas de um vegetal chamado Nicotiana tabacum.

Essa planta pode ultrapassar dois metros de altura e possui folhas grandes e ovais, que variam de 50 a 60 centímetros de comprimento e apresentam extremidades arredondadas ou pontiagudas.
Essas folhas contêm uma substância chamada de nicotina, a principal responsável pelo desenvolvimento da dependência ao tabaco. A substância atua no sistema nervoso central aumentando os níveis de um neurotransmissor chamado dopamina (capaz de provocar sensações de prazer e satisfação).
A trajetória do tabaco no Brasil está profundamente conectada à formação do país. Introduzido ainda no período colonial, o cultivo do tabaco se consolidou como uma das primeiras atividades econômicas de exportação. Ao longo dos séculos, ele passou de mercadoria de escambo e uso ritualístico para um dos produtos industriais mais lucrativos da história recente.
Hoje, o Brasil figura entre os maiores produtores e exportadores de tabaco do mundo, com papel fundamental na economia de estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná — especialmente no cultivo da variedade Virgínia, usada principalmente na produção de cigarros industrializados.
O consumo interno, por outro lado, passou por significativas transformações, com quedas sucessivas nos índices de tabagismo ao longo dos últimos anos, impulsionadas por políticas públicas mais rigorosas, campanhas de conscientização e regulamentações sanitárias mais efetivas.

Tradição do tabagismo e seus aspectos históricos
O hábito de fumar é um comportamento difundido nas civilizações há tanto tempo, que é difícil afirmar quando e onde se deu a sua origem, mas sabe-se que o costume carrega diversos significados que foram transformados ao longo da história. Registros arqueológicos apontam que esse comportamento já ocorria há mais de oito mil anos.
Historiadores e arqueólogos afirmam que plantas como o tabaco começaram a ser cultivadas no continente americano por volta de 6000 a.C., e eram consideradas sagradas pelos povos sul-americanos.
Nessa época, o hábito de fumar fazia parte de tradições religiosas de diversas civilizações. O ato era comum em cerimônias de cultos a deuses e seu uso era associado aos processos de cura, aproximação com o sagrado, contato com as divindades e momentos de expansão de consciência. Foi apenas após a colonização da América, que o hábito de fumar se propagou para outras culturas, que atribuíram novos significados a esse comportamento.
A partir do século XIX, esse hábito passa a ser associado a um estilo de vida sofisticado. As mídias sociais expunham a prática como um luxo das personalidades mais glamurosas, políticos e empresários fumavam durante reuniões importantes, Hollywood integrou o hábito em seus personagens mais elegantes. Nesse contexto, as influências midiáticas da época inspiraram todo o seu público a aderir a prática e o cigarro se tornou um objeto de aspiração.
| Países | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 |
| China | 2.883.900 | 2.806.700 | 2.392.090 | 2.242.177 |
| Brasil | 867.300 | 675.500 | 819.000 | 762.266 |
| Índia | 746.700 | 761.300 | 799.960 | 749.907 |
| EUA | 326.200 | 285.100 | 322.100 | 241.870 |
| Zimbábue | 171.000 | 172.000 | 181.643 | 132.200 |
| Indonésia | 193.700 | 196.100 | 152.319 | 181.095 |
| Paquistão | 120.000 | 116.100 | 117.750 | 106.722 |
| Argentina | 109.100 | 93.600 | 117.154 | 104.093 |
| Malawi | 120.400 | 84.900 | 82.964 | 55.356 |
| Turquia | 75.000 | 70.000 | 80.000 | 80.200 |
| Itália | 52.400 | 48.400 | 46.060 | 59.299 |
| Subtotal | 5.614.700 | 5.309.900 | 5.172.941 | 4.755.185 |
| Outros | 1.370.600 | 1.354.300 | 1.328.705 | 1.339.690 |
| Total | 6.985.300 | 6.554.200 | 6.439.765 | 6.094.875 |
Tipos de tabaco
O mercado brasileiro oferece diferentes tipos de tabaco, que variam em sabor, intensidade e preço. Os principais são:
- Tabaco de corda: mais rústico e intenso, é a opção mais barata. Requer que o consumidor desfie o produto antes do uso.
- Tabaco tipo Virgínia: mais claro e suave, tem sabor mais leve e é o mais comum entre os fumantes de enrolar. Costuma ter um valor de mercado intermediário.
- Misturas médias a fortes: compostas por diferentes tipos de tabaco, possuem os preços mais altos e oferecem uma experiência de sabor mais encorpada.
- Tabacos importados: com valores mais elevados por conta dos custos de logística, mas ainda competitivos em nichos premium.
A escolha por um ou outro tipo está diretamente relacionada ao poder de compra e ao perfil de consumo, mas um fator é determinante: o preço.
No Brasil, o tabaco no formato de cigarro industrializado é uma versão muito popular. Ele já vem enrolado no papel, com o filtro embutido e são fáceis de serem encontrados.
No entanto, rapés, cigarros eletrônicos, narguiles, tabacos para mascar são outras formas de consumo em que a matéria-prima é utilizada, e assim como a versão mais popular, também causam profundos malefícios a saúde.
Atualmente, o tabaco para enrolar, que seria a versão em que o fumo é vendido solto, e pronto para ser enrolado artesanalmente ou consumido em dispositivos como charutos e pipes, também são uma alternativa que vem se difundindo. Essa modalidade se popularizou principalmente por ser considerada uma alternativa orgânica, que consequentemente é vista como mais natural. Entretanto, apesar de tabacos orgânicos não contarem com agrotóxicos, não podem ser considerados livre de danos ou menos prejudiciais.
Tabaco orgânico: Verdades e mitos
Outra forma cada vez mais comum se fumar tabaco, é a partir do fumo vendido solto, muitas vezes chamado de Tabaco para enrolar. Esse nome se dá em função na necessidade de preparar o cigarro artesanalmente, com acessórios adquiridos separadamente.
Essa modalidade tem sido reconhecida por se tratar de uma maneira mais natural e saudável de consumir a substância, e por vezes a nomenclatura “orgânica” passa a sensação de menos prejudicial. Na realidade, não é exatamente assim que as coisas funcionam.
É real que o tabaco para enrolar orgânico possui menos aditivos e conservantes que podem causar prejuízos a saúde. Porém, apesar dessa característica, o tabaco, independente da sua forma, conta com a presença de nicotina, e outras inúmeras substâncias tóxicas.
Além disso, o contato com a fumaça, derivada da queima, também contém substâncias tóxicas e é prejudicial. Então, não se pode afirmar que essa forma de consumo é livre da danos. A Organização Mundial da Saúde, se manifestou e garante que: “O tabaco é prejudicial em todas as suas formas e não existe um nível seguro de exposição”.

Crescimento da indústria do tabaco
A desinformação e falta de estudos científicos acerca dos danos causados pelo uso do tabaco, fez com que ele se tornasse uma indústria e fonte de renda em todo o mundo. A partir de 1900, as indústrias de tabaco dos Estados Unidos crescem tão ou mais rapidamente que a automobilística, e inaugurou marcas populares de cigarros.
O setor marcou presença nas importações e exportações. Novos aparatos surgem, máquinas de enrolar cigarro, caixas de fósforo se tornam objetos comuns e vendidos em larga escala. O comércio do tabaco se difundiu e se popularizou, e lojas específicas para o consumo de produtos para fumar se expandiram pelos continentes. O consumo de outras ervas acontecia de forma simultânea e com o advento da tecnologia novas maneiras de fumar invadiram a realidade das gerações mais jovens, e conquistaram um espaço expressivo nos estabelecimentos voltados para esse setor.
E como se encontra o consumo atualmente?
Apesar da redução no número de fumantes no Brasil — atualmente cerca de 11,8% dos adultos fumam algum produto de tabaco, segundo a Vigitel 2023 — a indústria do setor continua a movimentar bilhões de reais.
Em 2022, a produção brasileira destinada ao consumo interno de todas as formas de tabaco movimentou cerca de R$ 22,2 bilhões, segundo dados da Afubra. Só o mercado de tabaco para enrolar à mão alcançou R$ 567,7 milhões em 2024, conforme estimativa do Anuário de Growshops, Headshops e Marcas da Kaya.
Ainda segundo a mesma análise, 1.092.958 pessoas fumaram diariamente tabaco de enrolar em 2023, sendo que a maioria está concentrada na região Sudeste — que representa mais de 40% do consumo total, embora a prevalência proporcional seja maior nas regiões Sul e Centro-Oeste.
Outro dado relevante é que 18 milhões de brasileiros maiores de idade fazem uso adulto de algum derivado do tabaco, o que indica que o potencial de mercado permanece expressivo — mesmo em um contexto de políticas de redução de danos e consumo.
A indústria de tabaco ainda é lucrativa?
A resposta é: sim. A lucratividade da indústria do tabaco no Brasil está mantida por dois pilares principais:
- Força da exportação: o Brasil exportou 455 mil toneladas de tabaco para mais de 110 países em 2024, com faturamento que ultrapassa US$ 2,9 bilhões.
- Segmentação de consumo: produtos como tabaco de enrolar, cigarros eletrônicos (ainda que proibidos oficialmente), charutos e acessórios seguem atraindo públicos específicos, com perfis e motivações diversas.
Mesmo com a queda do hábito de fumar cigarros industrializados, a busca por alternativas como cigarros enrolados à mão cresceu por motivos econômicos e culturais. Isso mostra uma reconfiguração do consumo — não seu desaparecimento.
Faz mal fumar tabaco?
A nicotina é uma substância altamente prejudicial e provoca forte dependência. A disseminação da nicotina se dá para todos os tecidos do corpo, tais como pulmão, cérebro e outros, e prejudica diretamente a saúde, podendo ser a principal causa de problemas cardiovasculares, câncer, hipertensão arterial, trombose e doenças no sistema respiratório.
As evidências em relação aos riscos do tabagismo, levaram a Resolução da Diretoria Colegiada n.º 46 de 2009, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar.
O uso do tabaco está diretamente associado a uma série de doenças graves, entre elas:
- Câncer de pulmão, boca, garganta e bexiga;
- Doenças cardiovasculares;
- Doenças respiratórias crônicas, como DPOC e bronquite crônica;
- Complicações em cirurgias e cicatrizações.
Estima-se que o tabagismo seja responsável por mais de 8 milhões de mortes por ano no mundo, segundo a OMS. No Brasil, a média é de 428 mortes por dia relacionadas ao consumo de tabaco.
Apesar dos esforços de regulamentação e das campanhas educativas, a indústria enfrenta o desafio de equilibrar sua operação legal com práticas éticas e informativas. Os produtos precisam seguir critérios de qualidade e apresentar informações verdadeiras sobre seus riscos, sem apelos publicitários enganosos.
As autoridades sanitárias, por sua vez, seguem com medidas rígidas: proibição do fumo em locais fechados, regulamentação dos pontos de venda, advertências nas embalagens e restrições quanto à propaganda. Isso, aliado ao aumento da carga tributária, tem contribuído para a queda no consumo.
Ainda assim, a redução do tabagismo não impede a expansão do mercado — apenas exige adaptações, inovações e atenção ao comportamento do consumidor.




Na última seção do artigo (O Tabaco Orgânico: Verdades e Mitos) o artigo destaca que o consumo de tabaco “orgânico” também causa danos comparado ao tabaco convencional, e que a rotulagem “orgânica” passa a “sensação” ao consumidor de ser menos prejudicial.
Concordo parcialmente, pois se analisarmos pela perspectiva de redução de danos, o consumo de fumígenos derivado do tabaco cultivado organicamente, os danos são consideravelmente menores quando comparado ao consumo de fumígenos (cigarros industrializados) produzidos com tabaco não-orgânico (cultivo agrícola convencional) mais os aditivos, conservantes, resíduos de agrotóxicos e excesso de fertilizantes minerais.
Oi Leonardo, tudo bem? Sabe nos dizer se existe algum estudo nesse sentido? Procuramos por aqui evidências de que o tabaco orgânico é menos prejudicial e não encontramos, porém sempre abertos a revisar a informação desde que a gente tenha as evidências para isso 🙂 Obrigada por seu comentário, esse mercado ainda tem muito a ser construído e pesquisado e é muito mais legal quando fazemos em conjunto!
Oi Maria! Não tenho conhecimento de estudos clínicos no que concerne à redução de danos em relação ao consumo de tabaco orgânico X convencional, já li relatos de consumidores em relação ao consumo do tabaco orgânico ser menos prejudicial à saúde no que tange a inalação de aditivos, conservantes e resíduos de agrotóxicos quando comparado ao uso do cigarro industrializado ou o tabaco convencional ou natural. No entanto existem estudos científicos agronômicos e ambientais evidenciando a sustentabilidade nos sistemas de cultivo de tabaco orgânico e os impactos ambientais positivos em relação ao cultivo convencional. (redução da exposição dos agricultores/produtores ao uso de agrotóxicos nas lavouras, conservação do solo/água/ar.
https://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/2857
https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/61299524/LIVRO_-_OS_DESAFIOS_JURIDICO-AMBIENTAIS_DO_USO_DE_AGROTOXICOS20191122-48199-g74vc9-libre.pdf?1574436354=&response-content-disposition=inline%3B+filename%3DOS_DESAFIOS_JURIDICO_AMBIENTAIS_DO_USO_D.pdf&Expires=1681995315&Signature=d74rgUNgK-mJOb54wceITPm~Go7khfB7lbpmE43RvuMccY~Sb3hfSTFyc7EMnw94~R~AjSm-4DxYKZz3643TaSxXaZm9miMrn1NYnCCNCQODKYZCehsOeMYEKKPbilRqllnJ-OX4vQTC2ocz0xu1YK-WP4I6USnwd7bimW2v4VGWYDnrhE01Hp6aSLjZ9D~dRjHkQW9NQnwSerM2JzwavoARNiYo~2eZQ2w2-He5rday3gXbF2~wZcIdHxkCAI7lbLmXqOhaDQigN9FOuYIvyFdZtF1x64txMnCE88KcF-LLzk2GuVSfDklHZDJMFMCzw0Z6KuDnZRn1lbQChptxow__&Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA#page=171
https://www.gaz.com.br/a-aposta-e-no-tabaco-organico-em-camaqua/
https://repositorio.unisc.br/jspui/handle/11624/2550
https://repositorio.ufsm.br/handle/1/21301
Oi, Leonardo, muito bom o seu ponto! Realmente o tabaco orgânico pode não ser comprovadamente menos prejudicial à saúde das pessoas, porém sua produção é realmente mais sustentável para o meio ambiente. Obrigada pelo comentário!