Imagina, em pleno século XXI, descobrir que evoluímos graças à teoria do macaco chapado? É isso mesmo, estudos apontam que o consumo de cogumelos entorpecentes por primatas pré-históricos favoreceu a evolução do cérebro humano.
Por volta de 3 milhões anos atrás, um intrigante acontecimento mudou os rumos da evolução, os hominídeos começaram a expandir o tamanho do cérebro – mas, como isso se deu? Fique tranquilo, vamos contar mais sobre essa história e como as evidências científicas apontam esse fenômeno.
Você conhece a teoria do macaco chapado?
A ideia de que os humanos podem ter evoluído devido ao consumo de psicodélicos é uma teoria controversa, mas fascinante. A popular teoria do “macaco chapado” sugere que nossos ancestrais podem ter consumido substâncias psicodélicas, como cogumelos ou plantas psicoativas, o que teria ajudado no desenvolvimento do cérebro humano. Esse consumo de substâncias pode ter, em certo ponto, acelerado a evolução de algumas capacidades cognitivas e sociais dos hominídeos.
A ideia ganhou destaque com o antropólogo Terence McKenna, que em sua obra Food of the Gods propôs que o uso de cogumelos psicoativos teria sido crucial para a nossa evolução. Segundo McKenna, os humanos primitivos começaram a consumir cogumelos contendo psilocibina, um composto psicodélico, e isso teria estimulado o aumento da atividade cerebral, a ampliação da percepção e, consequentemente, o desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores.
Além da teoria de McKenna, a hipótese se baseia na observação de que os seres humanos compartilham certos comportamentos e fisiologia com os primatas, especialmente no que diz respeito ao consumo de alimentos com propriedades psicoativas. Mas, afinal, qual a conexão entre psicodélicos e a evolução do cérebro humano? Vamos explorar essa questão.
Cogumelos alucinógenos e o cérebro humano
O consumo de cogumelos alucinógenos, como os que contêm psilocibina, pode alterar significativamente a percepção da realidade, afetando o pensamento, as emoções e a consciência. Estudos modernos demonstraram que os psicodélicos podem ter um impacto profundo no cérebro humano, o que levanta a questão: será que esse tipo de substância ajudou no desenvolvimento das capacidades cognitivas dos primeiros humanos?
Vamos entender como os cogumelos alucinógenos podem ter afetado o cérebro:

- Aumento da conectividade cerebral: Pesquisas demonstram que a psilocibina pode promover uma maior conectividade entre diferentes regiões do cérebro. Em um estudo realizado por Robin Carhart-Harris e colegas, observou-se que a psilocibina alterava as redes neurais, fazendo com que áreas do cérebro normalmente desconectadas passassem a se comunicar de forma mais intensa. Isso pode ter potencialmente acelerado o desenvolvimento de capacidades cognitivas em nossos ancestrais.
- Expansão da consciência: Os efeitos psicodélicos podem expandir a percepção, levando a uma maior introspecção e ao pensamento abstrato. Isso pode ter ajudado os primeiros seres humanos a desenvolver a habilidade de resolver problemas complexos, a comunicação simbólica e até mesmo a espiritualidade. A psilocibina pode ter facilitado a formação de novas ideias e a capacidade de ver o mundo de maneiras diferentes, habilidades importantes para a sobrevivência e adaptação ao ambiente.
- Redução da função de “filtro” do cérebro: Quando consumimos substâncias como a psilocibina, a função do cérebro que filtra e organiza as informações sensoriais pode ser reduzida. Isso resulta em uma percepção mais ampla e menos restrita do ambiente. O cérebro humano, ao experimentar essas mudanças, pode ter adquirido uma capacidade maior de processar e integrar informações complexas, que são essenciais para a evolução das habilidades cognitivas.
- Plasticidade cerebral: Outro estudo de Carhart-Harris demonstrou que a psilocibina pode promover a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de formar novas conexões neurais. Essa plasticidade pode ser uma chave importante no processo evolutivo, permitindo que nossos cérebros se adaptassem rapidamente a novas situações e ambientes.
Esses efeitos psicoativos não seriam apenas momentos de “distorção da realidade”, mas poderiam ter servido como catalisadores para o desenvolvimento de novos comportamentos e capacidades cognitivas, preparando nossos ancestrais para a vida social, a resolução de problemas complexos e a adaptação ao mundo ao redor.
Como o consumo de psicodélicos por primatas beneficiou os seres humanos?
O consumo de substâncias psicoativas por primatas não é uma ideia nova. Muitos primatas, como chimpanzés, bonobos e macacos, demonstraram comportamento de consumo de substâncias psicodélicas, como folhas e frutos fermentados, e até cogumelos. Isso levanta uma questão interessante: será que esses comportamentos se originaram como uma forma de explorar as propriedades psicoativas da natureza, algo que nossos ancestrais também poderiam ter feito? Além disso, esse consumo de substâncias pode ter desempenhado um papel crucial na evolução do cérebro humano. Pontuamos algumas questões sobre como o consumo de psicodélicos por primatas pode ter influenciado a evolução humana:
- Aumento da interação social: O consumo de psicoativos podem ter um efeito de “desinibição” social, o que pode ter facilitado a criação de laços sociais mais fortes. Os psicodélicos podem ter ajudado primatas e, posteriormente, seres humanos a se conectarem de maneira mais profunda e empática, um fator importante para a sobrevivência e evolução de espécies sociais.
- Estimulação de comportamentos exploratórios: O consumo também pode ter incentivado comportamentos mais exploratórios, à medida que os indivíduos ficavam mais curiosos e dispostos a experimentar coisas novas. Esse tipo de comportamento é fundamental para a inovação e o desenvolvimento de novas habilidades e tecnologias.
- Possível aumento da inteligência cognitiva: Embora não existam estudos diretos que provem isso, a hipótese de que o consumo de psicodélicos poderia ter estimulado o aumento da inteligência é intrigante. O aumento da conectividade cerebral, como vimos antes, pode ter favorecido uma expansão das capacidades cognitivas, ajudando nossos ancestrais a resolver problemas mais complexos e, assim, a evoluir mais rapidamente do ponto de vista intelectual.
- Relação com o uso de plantas medicinais: Muitos primatas consomem folhas ou plantas com propriedades medicinais, o que pode ter representado uma forma primitiva de farmacologia. Essa prática poderia ter se expandido para o consumo de substâncias psicodélicas, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de técnicas de cura e, mais tarde, da medicina.
Outro estudo importante é o de 2018, realizado por David Nutt e colegas, que explorou os efeitos dos psicodélicos na neuroplasticidade e como isso poderia ter favorecido a evolução do cérebro humano, sugerindo que essas substâncias desempenharam um papel crucial na nossa adaptação cognitiva ao longo do tempo.
A conexão da teoria do macaco chapado com a cannabis
Além dos cogumelos alucinógenos, a cannabis também entra na conversa sobre psicodélicos e evolução. Embora a cannabis não seja tradicionalmente classificada como um psicodélico no sentido clássico, ela tem efeitos significativos no cérebro humano, principalmente no que diz respeito à percepção e à criatividade.
Muitas pessoas que consomem cannabis relatam uma maior facilidade para pensar de forma criativa e livre. Isso pode ter sido um benefício para nossos ancestrais, ajudando-os a resolver problemas de maneira inovadora e a desenvolver novas estratégias para sobreviver.

A cannabis também tem propriedades ansiolíticas, ou seja, ajuda a reduzir a ansiedade. Em um contexto evolutivo, isso poderia ter permitido aos nossos ancestrais se concentrar melhor nas tarefas diárias e nas interações sociais, melhorando suas chances de sobrevivência.
A teoria do “macaco chapado” pode parecer um tanto excêntrica à primeira vista, mas à medida que a ciência avança, mais evidências sugerem que o consumo de psicodélicos pode ter desempenhado um papel importante na evolução do cérebro humano. Desde o aumento da conectividade cerebral até a promoção da introspecção e criatividade, os efeitos dessas substâncias podem ter ajudado nossos ancestrais a desenvolver habilidades cognitivas essenciais para a sobrevivência e a adaptação.
Embora a ideia de que cogumelos psicodélicos e outras substâncias tenham sido responsáveis diretamente pela evolução da inteligência humana ainda seja controversa, é fascinante pensar em como essas substâncias podem ter influenciado o nosso desenvolvimento de formas mais sutis e complexas do que imaginamos.
Essas descobertas também nos lembram da importância de explorar as potencialidades dos psicodélicos de forma responsável, entendendo seu impacto no cérebro humano e nas sociedades modernas. Quem sabe, no futuro, novas pesquisas possam lançar mais luz sobre como essas substâncias podem ser usadas de forma terapêutica, promovendo benefícios para a saúde mental e a criatividade, assim como ajudaram nossos ancestrais a evoluir.