A depressão acomete milhões de pessoas no mundo todo. Os pacientes recorrem a diversos tratamentos, que incluem principalmente a administração de fármacos antidepressivos. A Mirtazapina é um fármaco que atua no combate a esses sintomas. Nesse texto, vamos entender mais detalhes sobre o medicamento, compreender os motivos de alternativas mais naturais crescerem tanto nos últimos anos e realizar a comparação entre mirtazapina x canabidiol.
O tratamento medicamentoso e os transtornos mentais
Além do sofrimento que acomete as pessoas que enfrentam transtornos mentais, uma das grandes preocupações desses pacientes, é a dependência do medicamento. Essa queixa impede diversas pessoas de aderirem a tratamentos e até de procurarem profissionais da saúde. O receio de depender de alguma substância para finalmente atingir o bem-estar é apenas um dos desafios enfrentados por essas pessoas. Além disso, a falta de informação acerca dos fármacos, seus efeitos colaterais, níveis de dependência e mecanismo de ação, também impedem que os pacientes compreendam os detalhes do próprio tratamento e as intervenções possíveis para o seu caso.
A depressão é um dos transtornos mentais mais comuns na nossa cultura e muitas dúvidas em relação ao tratamento da condição cercam pacientes e familiares. As causas dos transtornos depressivos são multifatoriais, ou seja, mais de um motivo explicam o diagnóstico. Fatores genéticos, eventos traumáticos, alterações no desenvolvimento, fatores ambientais, culturais e orgânicos, fazem parte da definição da doença. A união desses critérios resulta em um desequilíbrio orgânico entre alguns neurotransmissores (substâncias químicas produzidas pelos nossos neurônios), que devem se reestruturar. Por isso, em muitos casos a terapia medicamentosa é um importante passo para a remissão dos sintomas da depressão.
O tratamento medicamentoso da depressão inclui antidepressivos de diversas categorias, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), que podem ajudar a aumentar os níveis de serotonina, os antidepressivos tricíclicos e inibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina (IRSN) podem ajudar a aumentar os níveis de serotonina e noradrenalina.
A serotonina é uma molécula produzida principalmente pelo nosso Sistema Nervoso Central, responsável pela transmissão de mensagens entre as células do sistema nervoso. No cérebro, ela estimula o sistema serotoninérgico, que está associado ao nosso humor e bem-estar. Já a noradranalina, também conhecida como norepinefrina, é um hormônio e neurotransmissor produzido pelas glândulas suprarrenais e pelo sistema nervoso autônomo. Ela exerce uma função importante em diversas funções corporais, incluindo o aumento da glicose no sangue, a vasoconstrição, a dilatação das pupilas e a regulação do funcionamento do cérebro.
A desregulação desses compostos pode causar uma série de problemas de saúde, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dor crônica, distúrbios do sono, e a depressão. Um dos fármacos utilizados para tratar quadros de depressão é a Mirtazapina, que atua no aumento de serotonina e noradrenalina.
A mirtazapina
A mirtazapina é um medicamento antidepressivo e atua diretamente no funcionamento dos neurotransmissores, principalmente no estímulo da produção de seretonina e noradrenalina.
É classificada como antidepressivo tetracíclico e descrita como um antidepressivo noradrenérgico e serotoninérgico específico (NaSSA). Essa categoria é tão eficaz quanto os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como a fluoxetina, paroxetina e citalopram. Por isso, são frequentemente recomendados para pacientes que não responderam a esses medicamentos. É um antidepressivo potente, disponibilizado em doses de 15 mg, 30 mg e 45 mg, que exigem a receita no momento da compra.
Contudo, o fármaco pode causar alguns efeitos colaterais. A administração de mirtazapina pode causar boca seca, sedação, aumento do peso, aumento do colesterol total plasmático, tonturas, vertigens, constipação e aumento do apetite.
O medicamento tem efeito sedativo e atividade antagonista nos receptores histaminérgicos H1, e por isso os pacientes se queixam de excesso de sonolência e fome exacerbada.
Além disso, a Mirtazapina não costuma ser prescrita para pacientes com esquizofrenia ou distúrbios psicóticos, pois pode aumentar ainda mais a pressão arterial. Por esse motivo, acaba não sendo a opção ideal para muitos pacientes, e alvo de queixas constantes relacionadas a esses eventos.
O canabidiol
Recentemente, com a crescente procura por produtos mais naturais, que oferecem menos efeitos colaterais e menores riscos de dependência, compostos como o canabidiol são uma alternativa que desperta o interesse dos pacientes acometidos por transtornos psiquiátricos.
Já é uma vasta literatura científica que comprova os benefícios do canabidiol para a saúde mental, inclusive para casos de transtornos depressivos. Essa possibilidade se deve ao potencial proveniente das propriedades ansiolíticas, neuroprotetoras e antidepressivas das substâncias produzidas pela cannabis. o canabidiol é um elemento não psicoativo da cannabis, e nos últimos anos os estudos que envolvem a ação desse composto cresceram exponencialmente.
Os compostos da cannabis, incluindo o canabidiol, interagem com receptores naturais do nosso organismo, que compõe um sistema conhecido como sistema endocanabinoide.
Até o momento, os receptores canabinóides mais estudados pelos especialistas são chamados de receptores CB1 e CB2. Os receptores CB1 são encontrados no sistema nervoso central, e estão amplamente distribuídos nos neurônios pré-sinápticos, medula espinhal e nos gânglios da raiz dorsal e intercedem os efeitos psicotrópicos dos canabinóides. Esses receptores induzem a atuação de diferentes neurotransmissores, como GABA, glutamato, noradrenalina, serotonina e dopamina. Desta forma, podem manipular a cognição, percepção, funcionamento motor, apetite, sono, neuroproteção, neurodesenvolvimento e liberação hormonal.
O receptor CB2 é acoplado a proteína G e está situado principalmente no sistema nervoso periférico e nas células do sistema imune, incluindo microglias (células imunológicas do cérebro), macrófagos, células linfóides, mieloides e assim como mastócitos, e ajuda a promover a regulação do nosso sistema imunológico. O consumo dos medicamentos derivados da cannabis estimula a ação desses receptores. A interação entre os fitocanabinoides (moléculas terapêuticas derivadas da cannabis) e o CB1 e o CB2 proporcionam efeitos benéficos ao organismo, resultantes de um processo conhecido como homeostase (que é resumidamente definida como o equilíbrio e regulação do corpo, apesar de agentes externos).
Mirtazapina X Canabidiol
Uma revisão bibliográfica comparou os efeitos da mirtazapina e do canabidiol no corpo humano e concluiu que as vantagens mais nítidas do canabidiol envolvem o fato do composto não causar dependência, apresentar uma resposta rápida e menos efeitos colaterais. Já a mirtazapina promove efeitos mais lentos, que ocorrem a partir de três semanas, e causam muitos efeitos colaterais.
O desmame do remédio deve ser feito de maneira gradual e sob orientação médica. É extremamente arriscado interromper o uso de mirtazapina por conta própria, pois pode acarretar o efeito rebote, em que os sintomas de depressão são potencionalizados. Na mesma direção, a interrupção repentina do uso também pode desencadear mal-estar, ansiedade, tontura, agitação e dor de cabeça.
Não é recomendado fazer o uso de mirtazipina em conjunto com inibidor da monoamina oxidase (IMAO) por risco de síndrome serotoninérgica, uma condição associada ao aumento de serotonina no cérebro que pode ser fatal.
Apesar do anseio de algumas pessoas de interromper o uso devido a esses eventos adversos, é importante salientar que alguns pacientes têm o organismo muito habituado ao uso desse medicamento, podem sentir diferenças significativas na substituição do fármaco. Por isso, a substituição é um assunto complexo que deve ser tratado com cautela, respeito as inúmeras variáveis envolvidas e acompanhamento do profissional da saúde especialista no assunto. Dessa forma, é possível evitar situações indesejadas e fazer a substituição, caso seja possível.
Além disso, é fundamental ter consciência que o tratamento mais recomendado para quadros de depressão, é a terapia medicamentosa associada com a Terapia cognitivo-comportamental (TCC). A TCC é uma técnica que objetiva identificar e modificar padrões de comportamento e pensamento que contribuem para o transtorno.
Caso você esteja enfrentando algum sintoma de ordem emocional, e deseje compreender melhor o uso dos derivados da cannabis no combate a esses sintomas, há diversos psiquiatras que prescrevem esses produtos.
Esperamos que os estudos acerca do potencial dos compostos da cannabis continuem em expansão, para que mais evidências sejam acumuladas e permitam que a cannabis seja utilizada de forma segura e eficaz no tratamento de diversas condições médicas.