Os cogumelos são organismos ao reino fungi e apresentam uma ampla gama de formas, tamanhos, cores e ambientes de crescimento. Devido à sua complexidade e diversidade, algumas espécies, contêm psilocibina em sua composição, e ficaram conhecidas como “cogumelos mágicos”. Pesquisas recentes sugerem que esses organismos podem ter aplicações no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos, incluindo o combate a ansiedade. Acredita-se que a substância atue no cérebro e promova mudanças na atividade neural que podem levar a uma diminuição da ansiedade. Nesse texto iremos explicar extensivamente a relação entre cogumelos e ansiedade.
A ansiedade
A ansiedade é um assunto muito abrangente e de interesse de muitas pessoas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é líder em prevalência de Transtornos de Ansiedade. Por isso, é fundamental se informar a respeito de seu conceito, sinais e sintomas.
Inicialmente, precisamos entender que a ansiedade é uma reação natural, que as vezes nos protege de alguns perigos e é propulsora do desempenho, ou seja, pode nos estimular a agir. No entanto, níveis excessivos de ansiedade podem ser preocupantes.
Quando a ansiedade está presente de maneira intensa e frequente, ela pode caracterizar um transtorno. Há diversos tipos de transtornos em que a ansiedade é um sintoma comum. No geral, alguns sintomas são enfrentados por muita gente, por exemplo:
- Coração acelerado
- Sudorese
- Tensão muscular
- Problemas para dormir
- Inquietação
- Irritabilidade excessiva
Os tratamentos e os estudos com cogumelos para ansiedade
Apesar de a terapia farmacológica ser frequentemente escolhida como o primeiro tratamento para esses casos clínicos, com foco principalmente medicamentos inibidores da recaptação de noradrenalina e/ou serotonina, uma parte substancial dos pacientes não demonstra uma resposta terapêutica satisfatória. Diante desses desafios, outras alternativas têm sido exploradas pela ciência.
Há um crescente interesse na pesquisa e no uso terapêutico de certos cogumelos, especialmente aqueles que contêm compostos psicoativos ou medicinais. Nas últimas décadas, o número de publicações de estudos que investigam os potenciais da psilocibina dispararam.
Os cogumelos psicodélicos, ou seja, os cogumelos mágicos que contêm psilocibina, têm sido objeto de estudos científicos com o objetivo de avaliar seu potencial no tratamento de distúrbios psiquiátricos, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Pesquisas indicam que essas substâncias podem ter efeitos terapêuticos significativos quando usadas em ambientes controlados e com acompanhamento profissional.
A psilocibina penetra no cérebro por meio dos receptores que também respondem à serotonina, o principal neurotransmissor associado à sensação de bem-estar em nosso organismo. A serotonina é importante na regulação do sono, apetite, humor, desejo sexual, sensibilidade à dor e otimismo.
As hipóteses sobre o uso de cogumelos para ansiedade
Adicionalmente, como todo enteógeno, a psilocibina induz à expansão da consciência, intensificação das emoções e um estado de êxtase. Até o momento, algumas hipóteses são registradas sobre o potencial dos cogumelos mágicos no tratamento da ansiedade:
- Ativação de receptores serotoninérgicos: A psilocibina é convertida em psilocina no corpo, e a psilocina interfere nos receptores de serotonina, especialmente os do tipo 5-HT2A. A ativação desses receptores está associada a mudanças na percepção, pensamento e humor. A serotonina é um neurotransmissor que atua diretamente na regulação do humor, e a ativação desses receptores pode estar ligada a efeitos antidepressivos e ansiolíticos.
- Desconexão temporária de redes cerebrais: Estudos de neuroimagem mostraram que a psilocibina pode induzir uma desconexão temporária das chamadas “redes neuronais padrão”. Esse mecanismo pode desencadear uma experiência alterada da realidade, mas também pode estar associado à redução da atividade em áreas do cérebro envolvidas na regulação do medo e da ansiedade.
- Promoção de mudanças psicológicas positivas: Experiências psicodélicas, quando conduzidas em um ambiente controlado e com acompanhamento adequado, podem levar a mudanças psicológicas positivas, como uma maior aceitação de si mesmo, uma perspectiva mais ampla sobre a vida e uma diminuição na ansiedade existencial. Estudos mostram que são encontradas correlações entre intensidade da experiência mística provocada pela substância e a melhora na qualidade de vida e humor.
- Efeitos na neuroplasticidade: Alguns estudos sugerem que os cogumelos psicodélicos podem afetar a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo do tempo. Diante disso, sugere-se que os psicodélicos sejam eficazes na promoção de mudanças cognição e no comportamento.
Pesquisadores aplicaram um questionário entre usuários de microdosagem de psilocibina e destacaram que a substância proporciona alívio rápido e duradouro em relação à depressão e ansiedade social, em comparação com outras opções farmacológicas, como os inibidores da recaptação de serotonina. Além disso, o estudo relatou efeitos terapêuticos para condições como dor, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, narcolepsia e enxaqueca. No questionário, os participantes indicaram o uso de doses de LSD que variavam entre 10 a 25 µg ou psilocibina entre 0,1 a 0,3 g.
É necessário ressaltar que o uso de psilocibina para saúde mental não é aconselhável sem orientação médica. Os cogumelos mágicos podem ter efeitos imprevisíveis, e a experiência pode variar significativamente entre os indivíduos. Além disso, o contexto em que a substância é consumida, a dose, a predisposição individual e outros fatores são cruciais para determinar o resultado da experiência.
Os diferentes tipos de cogumelos medicinais
Não podemos deixar de lembrar que alguns cogumelos medicinais, como o Reishi, o Chaga e o Maitake, têm sido estudados por seus potenciais benefícios à saúde, incluindo propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e imunomoduladoras. Essas espécies, apesar de não conter substâncias psicodélicas em sua composição, são repletas de elementos que proporcionam uma série de efeitos terapêuticos.
É inegável que o estigma associado ao uso recreativo de psicodélicos tem contribuído para atrasos nos estudos científicos relacionados a essas substâncias. O foco no uso recreativo muitas vezes impede as possíveis aplicações benéficas dessas substâncias, como no tratamento de transtornos psiquiátricos, incluindo depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
É importante destacar que a pesquisa científica rigorosa é necessária para compreender completamente os efeitos, os mecanismos de ação e os possíveis benefícios terapêuticos dos psicodélicos. Superar o estigma associado a essas substâncias permitiria uma análise mais objetiva e uma consideração justa de seu potencial terapêutico, o que contribuiria para avanços significativos na medicina e na psicoterapia.
A compreensão das diversas opções de tratamento disponíveis permite que indivíduos, juntamente com profissionais de saúde, tomem decisões informadas e personalizadas sobre o caminho a seguir. Esperamos que os estudos científicos acerca dos potenciais terapêuticos avancem para que novas alternativas seguras continuem sendo exploradas.
Referências: