Psilocibina e Psilocina: os diferentes tipos de cogumelos mágicos

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Entenda as diferenças entre a psilocina e a psilocibina e como funcionam as substâncias psicodélicas dos cogumelos mágicos.

Muito antes do proibicionismo, os cogumelos psicodélicos ou cogumelos mágicos como são popularmente chamados, têm fascinado e intrigado a humanidade há séculos. Esse fascínio existe por uma série de motivos, porém uma verdade que parece constante entre tantas sociedades e culturas é a intriga sobre como são poderosos esses fungos, que com suas muitas espécies, servem em diferentes rituais e cerimônias. Com sua ampla gama de efeitos sensoriais e psicológicos, esses cogumelos têm sido utilizados em rituais, cerimônias religiosas e práticas terapêuticas em várias culturas ao redor do mundo. Neste artigo, exploraremos os compostos químicos responsáveis pelos efeitos psicodélicos dos cogumelos mágicos, com ênfase na diferença entre a psilocibina e a psilocina.

O que são cogumelos mágicos?

Em resumo, os cogumelos mágicos são fungos que contêm substâncias psicoativas, como a psilocibina e a psilocina, que podem induzir experiências psicodélicas.  Cogumelos mágicos, também são conhecidos como cogumelos psicodélicos, e podem ser consideradas como uma categoria de fungos que contêm compostos psicoativos capazes de induzir experiências alteradas de consciência. Esses cogumelos pertencem ao gênero Psilocybe, que possui mais de 200 espécies conhecidas em todo o mundo.

–> Fizemos uma matéria completa sobre os cogumelos mágicos aqui, recomendamos a leitura!

Quais são as substâncias psicodélicas encontradas nos cogumelos mágicos?

Os compostos psicodélicos encontrados nos cogumelos mágicos são conhecidos como triptaminas. Apesar do nome parecer difícil, seu papel no corpo humano é mais parecido com o de hormônios que todos nós já conhecemos. Vamos explicar melhor.

As triptaminas são compostos químicos que podem ser encontrados na natureza, em especial em algumas plantas e fungos. Essas substâncias são conhecidas por seus efeitos psicoativos, ou seja, quando ingeridas elas podem afetar a maneira como nosso cérebro funciona e como nos sentimos.

Para quem ainda não entendeu como esse processo funciona, vamos imaginar que o cérebro é como um grande sistema de comunicação – como o WhatsApp, com diferentes “mensageiros” químicos que transmitem informações entre as células cerebrais. Uma dessas substâncias químicas, que muitas pessoas já conhecem, é chamada de serotonina, que desempenha um papel importante em regular o nosso humor, o sono, o apetite e muitos outros processos do nosso corpo.

As triptaminas, incluindo a psilocibina e a psilocina presentes nos cogumelos mágicos, têm uma estrutura química parecida com a serotonina. Isso significa que, quando ingerimos cogumelos mágicos, as triptaminas presentes neles podem se ligar a certos “receptores” em nosso cérebro, afetando a maneira como as células cerebrais se comunicam.

É essa interação entre as triptaminas e os receptores no cérebro pode levar a experiências alteradas de consciência, como mudanças na percepção sensorial, pensamentos diferentes e emoções intensas. É por isso que os cogumelos mágicos são conhecidos por seus efeitos psicodélicos.

Qual a diferença entre psilocibina e psilocina?

Os cogumelos mágicos são muito conhecidos pela psilocibina, porém essa é a versão que nós humanos só vemos e conhecemos na natureza, pois quando ingerimos os cogumelos mágicos na verdade nosso corpo irá interagir com a psilocina! Vamos entender melhor.

A principal diferença entre a psilocibina e a psilocina é que a psilocibina é o composto “original” presente nos cogumelos, enquanto a psilocina é o que a psilocibina se transforma quando é processada pelo nosso corpo.

Você pode pensar na psilocibina como uma “versão adormecida” da substância. Quando comemos cogumelos mágicos, nosso corpo quebra a psilocibina e a transforma em psilocina. É como se a psilocibina acordasse e se tornasse a psilocina, que é a forma ativa responsável pelos efeitos psicodélicos.

O que acontece quando a psilocibina entra em contato com o organismo humano?

Quando comemos os cogumelos mágicos, a psilocibina é metabolizada pelo fígado e convertida em psilocina. A psilocina, por sua vez, interage com os receptores serotoninérgicos no cérebro, especialmente os receptores 5-HT2A. Essa interação desencadeia uma série de efeitos, incluindo alterações na percepção sensorial, pensamento, humor e consciência.

Os receptores 5-HT2A são como “peças” especiais localizadas no cérebro, mais especificamente nas células cerebrais, chamadas de neurônios. São pequenos “sensores” que estão presentes na superfície dos neurônios. Quando consumimos cogumelos mágicos, as substâncias psicoativas presentes neles, como a psilocibina, podem interagir com esses receptores 5-HT2A. Essa interação leva a uma ativação incomum desses receptores e, por sua vez, desencadeia os efeitos psicodélicos associados aos cogumelos mágicos.

Qual o potencial terapêutico da psilocibina?

cogumelos magicos diferenças

Desde o ano passado que muito tem se falado sobre o uso dos psicodélicos na medicina, o interesse crescente no potencial terapêutico dos cogumelos mágicos e outras substâncias que, devido ao proibicionismo, deixaram de figurar entre as possibilidades de tratamento na sociedade.

A psilocibina tem sido cada vez mais estuda por cientistas em todo o mundo, pois pesquisas sugerem que ela pode ser eficaz no tratamento de condições como depressão resistente ao tratamento, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade associada ao câncer, dependência de substâncias e tantas outras que ainda precisam ser estudadas.

Estudos clínicos têm demonstrado que a psilocibina, quando administrada em um ambiente controlado e com suporte terapêutico adequado, pode ajudar os pacientes a enfrentarem traumas passados, explorar e modificar padrões de pensamento disfuncionais e proporcionar uma sensação de conexão e transcendência. Esses efeitos podem resultar em insights profundos, mudanças de perspectiva e um aumento na qualidade de vida geral dos indivíduos tratados.

–> O Dr. Cesar Camara fez um vídeo conosco tirando as principais dúvidas dos usuários sobre o assunto, assista agora!

Quais os principais estudos científicos a respeito do uso da psilocibina na medicina?

Nos últimos anos, vários estudos científicos têm sido realizados para entendermos o uso da psilocibina na medicina. Um estudo clínico importante foi realizado pela Universidade de Johns Hopkins nos Estados Unidos, no qual pacientes com depressão resistente ao tratamento receberam uma única dose de psilocibina em um ambiente terapêutico controlado. Os resultados mostraram uma redução significativa nos sintomas depressivos, com alguns participantes experimentando remissão completa.

Outro estudo de destaque foi conduzido pela Universidade Imperial College London, que explorou os efeitos da psilocibina em pacientes com transtorno de estresse pós-traumático. Os resultados iniciais sugerem que a psilocibina pode ajudar os pacientes a processarem e integrar experiências traumáticas, aliviando os sintomas do TEPT.

Estudo da Universidade de Johns Hopkins: “Psilocybin produces substantial and sustained decreases in depression and anxiety in patients with life-threatening cancer: A randomized double-blind trial” (Griffiths et al., 2016).

Estudo da Universidade Imperial College London: “Psilocybin with psychological support for treatment-resistant depression: six-month follow-up” (Carhart-Harris et al., 2018).

Qual é a atual regulamentação brasileira com relação ao uso de psicodélicos no tratamento da saúde?

No Brasil, a regulamentação em relação ao uso de psicodélicos no tratamento da saúde ainda é limitada. Atualmente, não há uma autorização específica para a prescrição de substâncias psicodélicas, como a psilocibina, para fins terapêuticos. No entanto, existem movimentos crescentes para expandir a pesquisa clínica e considerar a inclusão dessas substâncias em tratamentos alternativos e complementares.

psilocibina e psilocina

Para os pacientes que buscam tratar se de alguma condição médica que considerem que a psilocina poderia ser uma alternativa, sugerimos a busca de um médico que conheça sobre esses tratamentos e possa conversar com você. Não é recomendado, em nenhuma hipótese ou circunstância, o uso dos cogumelos mágicos para tratamentos médicos por conta própria. Como essas substâncias desencadeiam uma série de reações no nosso cérebro, o mesmo potencial que pode ser terapêutico, também pode ser danoso caso a substância piore os sintomas.

À medida que a pesquisa continua avançando e a compreensão sobre essas substâncias se aprofunda, é importante considerar cuidadosamente a regulamentação e a segurança no uso terapêutico dos cogumelos psicodélicos. A inclusão dessas substâncias na prática clínica requer uma abordagem cuidadosa e controlada, com profissionais de saúde capacitados e ambientes terapêuticos adequados.

Em suma, a psilocibina e a psilocina são os principais compostos responsáveis pelos efeitos psicodélicos dos cogumelos mágicos. A psilocibina é convertida em psilocina no organismo, desencadeando uma série de efeitos sensoriais e psicológicos. Embora ainda haja muito a aprender sobre essas substâncias, os estudos científicos até o momento têm demonstrado seu potencial terapêutico em diversas condições de saúde mental. À medida que a pesquisa avança, é importante continuar explorando e compreendendo melhor esses compostos para maximizar seus benefícios e garantir sua utilização segura e eficaz.

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