A cannabis na Turquia é um tema cheio de nuances. O país já foi um dos grandes produtores de cânhamo, passou por décadas de proibição rigorosa. Nos últimos anos, tem dado passos graduais em direção à regulamentação. A mais recente novidade foi a aprovação da venda de cannabis medicinal em farmácias, uma mudança significativa para pacientes e para o mercado.
Neste guia, vamos mostrar a trajetória da cannabis na Turquia, como funcionava a lei até então, o que muda com a nova legislação e quais são as perspectivas para o futuro.

História da cannabis na Turquia
O cultivo de cânhamo na Turquia tem raízes profundas. Durante o Império Otomano, a planta era amplamente utilizada para a produção de cordas, tecidos e velas de navios. Sua relevância econômica era notável, especialmente em áreas rurais. Se você ainda não conhece a origem da maconha, conheça mais!
A virada ocorreu no século XX, quando pressões de tratados internacionais antidrogas e da política externa, principalmente dos Estados Unidos, levaram o país a restringir severamente o cultivo. O que antes era parte importante da economia rural se transformou em uma atividade criminalizada, inserindo a cannabis no contexto de proibição global.
Leis sobre cannabis na Turquia: rigidez no recreativo
Até recentemente, a legislação sobre cannabis na Turquia era marcada por forte repressão. O uso recreativo é totalmente proibido e pode levar a até cinco anos de prisão mesmo em casos de posse de pequenas quantidades. Já o cultivo e o tráfico sem autorização enfrentam penas ainda mais duras, que podem variar de 10 a 20 anos de prisão.
Apesar disso, havia uma brecha para o uso medicinal: desde 2016, medicamentos à base de cannabis, como o spray Sativex, podiam ser prescritos em casos específicos, como no tratamento da esclerose múltipla. Porém, o acesso era restrito e burocrático, limitando o alcance desse avanço.
A legalização da venda de cannabis medicinal em farmácias
Em julho de 2025, a Turquia deu um passo histórico ao aprovar a venda de cannabis medicinal em farmácias com prescrição médica. A nova lei permite que produtos de baixo teor de THC. Esses que são considerados não intoxicantes e geralmente ricos em CBD, serão vendidos diretamente ao paciente, desde que acompanhados de receita.
Esse movimento representa mais do que apenas a autorização para venda. Trata-se de uma estratégia para fortalecer a produção nacional, reduzir a dependência de importações e oferecer maior segurança no acesso aos pacientes. O cultivo será supervisionado pelo Ministério da Agricultura, enquanto a regulamentação de processamento, exportação e dispensação ficará sob responsabilidade do Ministério da Saúde. Todo o processo, desde a produção até o uso pelo paciente, passará a ser acompanhado por um sistema de rastreamento centralizado. Esse sistema está sendo criado para bloquear falsificações, contrabando e produtos não autorizados.
Reações à legalização da cannabis medicinal
A aprovação da lei foi recebida de forma mista dentro da Turquia. De um lado, pacientes e organizações ligadas à saúde celebraram o avanço como uma oportunidade de acesso mais amplo a tratamentos seguros e supervisionados. De outro, a Associação Médica da Turquia (TTB) criticou a medida. Ela está argumentando que ainda não há evidências científicas robustas suficientes para sustentar o uso medicinal da cannabis em larga escala. O grupo também alertou para riscos potenciais à saúde física e mental. A atual sugestão da oposição é que as disposições sobre cannabis fossem retiradas do projeto original.
Mesmo com críticas, a nova regulamentação segue alinhada ao movimento internacional. Isso é relevante especialmente após a ONU reclassificar a cannabis em 2020, reconhecendo oficialmente seu valor medicinal e permitir o cânhamo.
Cannabis medicinal e cânhamo na Turquia
Com a nova legislação, a Turquia amplia de forma considerável o papel da cannabis em seu território. Além da entrada definitiva dos produtos medicinais nas farmácias, há expectativa de que a medida impulsione também o mercado de cânhamo, cuja produção já vinha em crescimento nos últimos anos. Em 2024, por exemplo, a produção de sementes de cânhamo no país cresceu 70% em relação a 2020.
Esse fortalecimento da cadeia produtiva pode posicionar a Turquia como um importante player no mercado europeu. Tanto pela capacidade agrícola quanto pela proximidade geográfica com grandes mercados consumidores.
Comparação com outros países
O avanço coloca a Turquia em linha com outros países que já regulamentaram a cannabis medicinal. Mesmo que ainda mantém restrições mais rígidas em comparação a alguns vizinhos. Alemanha e Itália, por exemplo, permitem produtos com maiores níveis de THC, enquanto Israel é referência em pesquisa e inovação. A Ucrânia também legalizou recentemente a cannabis medicinal, o que mostra que a região começa a se abrir para novas políticas relacionadas à planta.
Perspectivas para o futuro
A nova lei turca abre espaço para que mais pacientes tenham acesso a tratamentos seguros, ao mesmo tempo em que estimula investimentos no cultivo e processamento de cannabis. Ainda assim, o uso recreativo segue rigidamente proibido e dificilmente será tema de flexibilização em curto prazo, dada a postura conservadora do governo.
O que se espera para os próximos anos é uma expansão gradual da medicina baseada em cannabis. Essa deve vir acompanhada de regulamentações cada vez mais detalhadas para proteger a saúde pública e garantir qualidade. A produção nacional de cânhamo e de produtos medicinais deve crescer, fortalecendo a competitividade da Turquia no cenário internacional.
Entre proibição e avanço medicinal
A cannabis na Turquia vive uma fase de transição. Se o consumo recreativo continua proibido e sujeito a penas severas, o avanço no campo medicinal com a autorização da venda em farmácias marca um novo capítulo. Essa mudança traz esperança para pacientes e abre oportunidades econômicas. É também uma forma de posicionar o país em sintonia com uma tendência global de reconhecimento do valor medicinal da planta.


