O cultivo de cannabis no Brasil ainda não é regulamentado por uma lei federal que autorize seu plantio livremente. No entanto, a Justiça brasileira tem aberto caminhos importantes por meio de decisões judiciais que reconhecem o direito de pacientes, associações e até empresas de cultivar a planta para fins medicinais. Se você já se perguntou como algumas pessoas conseguem plantar maconha legalmente no país, este texto vai te ajudar a entender os caminhos jurídicos que tornam isso possível.
Habeas corpus individuais: o direito de plantar para tratar doenças
Nos últimos anos, centenas de brasileiros com doenças como epilepsia, ansiedade, TDAH e dores crônicas têm conquistado decisões favoráveis para o cultivo de cannabis em casa. Essas autorizações geralmente vêm por meio de habeas corpus preventivos, que garantem ao paciente o direito de plantar sem risco de sofrer prisão ou ter suas plantas apreendidas.
Um exemplo recente foi o de um homem diagnosticado com TDAH e ansiedade, que conseguiu um salvo-conduto para cultivar cannabis em casa, após relatar efeitos colaterais graves com os medicamentos tradicionais e melhora significativa com o uso da planta. O Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) considerou a gravidade do caso e a ausência de alternativas viáveis, autorizando o plantio.
Segundo dados do próprio STJ, os pedidos de habeas corpus para cultivo aumentaram 4.100% entre 2017 e 2023, mostrando o quanto essa via jurídica tem sido buscada por pacientes e advogados especializados em direito à saúde.

Cultivo coletivo por associações: quando o plantio atende milhares de pacientes
Além das decisões individuais, mais de 40 associações de pacientes já conquistaram autorização judicial para cultivar cannabis coletivamente. Essas organizações têm um papel crucial na democratização do acesso à cannabis medicinal no Brasil.
Diferente dos casos individuais, essas entidades entram na Justiça com pedidos de habeas corpus coletivos, que protegem o plantio feito em nome de todos os seus associados. Um exemplo emblemático é o da Abrace Esperança, na Paraíba, que há anos cultiva e distribui medicamentos à base de cannabis para milhares de pessoas com amparo da Justiça. Saiba como você pode criar sua própria associação de cannabis.
Em 2024, a justiça autorizou a associação Santa Cannabis, de Florianópolis, a cultivar plantas de cannabis para atender seus pacientes, ampliando a jurisprudência sobre cultivo coletivo. Essa decisão representou um marco, pois reconheceu que o direito à saúde e à dignidade da pessoa humana pode prevalecer sobre a proibição genérica da planta.
Essas autorizações, no entanto, não são permanentes: exigem fiscalização, responsabilidade técnica e cumprimento de condições sanitárias. Mesmo assim, elas mostram o reconhecimento do poder judiciário de que o acesso à cannabis não pode ser um privilégio de poucos.
STF descriminaliza o porte e o cultivo para uso pessoal
Em 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma das decisões mais importantes da história da cannabis no Brasil. Por maioria, os ministros decidiram que o porte de maconha para uso pessoal não pode ser considerado crime passível de prisão.
Com base em critérios como quantidade (até 40g) e número de plantas (até 6 pés de cannabis), o STF estabeleceu um marco legal mais claro para diferenciar usuários de traficantes — um debate que se arrastava desde 2015. A decisão também se estende à ideia de que o cultivo doméstico para uso próprio entra na esfera da descriminalização, embora ainda não exista uma lei específica sobre isso.
É importante lembrar que descriminalizar não é o mesmo que legalizar. A conduta ainda é considerada ilícita, mas não pode gerar punições severas como prisão, abrindo caminho para políticas de saúde pública, educação e prevenção. Entenda a diferença entre a legalização e a descriminalização.
Cultivo medicinal por empresas: decisão do STJ em 2024 abre novo capítulo
Outra grande mudança aconteceu em novembro de 2024, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu o direito de uma empresa cultivar cânhamo para fins medicinais no Brasil. O caso envolvia a busca por autorização para plantar variedades de cannabis com baixo teor de THC (menos de 0,3%), usadas principalmente na produção de medicamentos e insumos farmacêuticos.
A decisão do STJ não autorizou diretamente o cultivo, mas determinou que o poder público regulamente o tema dentro de um prazo estabelecido. Ou seja, o tribunal reconheceu a omissão do Estado em criar regras para o cultivo medicinal por empresas, o que pode acelerar a regulamentação nacional do setor.
Essa decisão é considerada um divisor de águas, pois abre a possibilidade de o Brasil desenvolver sua própria cadeia produtiva de cannabis, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo a economia verde e a inovação em saúde.
Caminhos legais para o cultivo de cannabis no Brasil
Atualmente, há quatro principais caminhos para obter autorização legal para cultivar cannabis no Brasil:
- Habeas corpus individual: para pacientes que já utilizam cannabis e desejam cultivar em casa com autorização judicial.
- Habeas corpus coletivo: utilizado por associações de pacientes com estrutura técnica para produzir e distribuir produtos de cannabis.
- Cultivo para uso pessoal após decisão do STF: descriminalização do porte e cultivo de até 6 plantas para uso próprio.
- Cultivo empresarial com aval do STJ: processo em curso de regulamentação para produção farmacêutica nacional.
Cada um desses caminhos exige cuidados jurídicos, documentação e acompanhamento profissional, mas todos têm em comum a defesa do direito à saúde, à dignidade humana e à escolha consciente de tratamentos terapêuticos.
O cultivo legal de cannabis no Brasil está em transformação. E se você quer entender mais sobre como funciona esse processo, quais são os desafios legais e as boas práticas para o plantio, recomendamos a leitura do nosso material completo:
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