Atualmente, é comum pessoas se queixarem de sobrecarga pela dificuldade em manter o foco, frustração que muitas vezes leva a decisões impulsivas e arrependimentos, e até mesmo desconforto diante das expectativas sociais e acadêmicas que parecem inalcançáveis. Diante disso, muito se fala em um possível diagnóstico que pode ser a causa desse sofrimento, o chamado Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Nesse texto, vamos explorar os critérios que compõem a condição, entender como funciona o tratamento e se a cannabis pode ser uma alternativa eficaz.
O que é o TDAH?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade que interferem significativamente no funcionamento ou desenvolvimento do indivíduo que o enfrenta.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, é uma referência importante para diagnóstico e classificação de transtornos mentais, incluindo o TDAH.
De acordo com o DSM-5, o diagnóstico de TDAH requer a presença de sintomas específicos de desatenção, hiperatividade e impulsividade que persistem por pelo menos seis meses e são inconsistentes com o nível de desenvolvimento da pessoa. Estes sintomas devem estar presentes em mais de um contexto (por exemplo, em casa, na escola, no trabalho) e causar prejuízo significativo nas áreas de funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.
O DSM-5 identifica três apresentações principais do TDAH:
- Tipo predominantemente desatento: Caracterizado por dificuldades em manter a atenção em detalhes, dificuldade em seguir instruções ou completar tarefas, tendência a perder objetos necessários, distração frequente e falta de organização.
- Tipo predominantemente hiperativo-impulsivo: Caracterizado por inquietação, dificuldade em permanecer sentado, impulsividade, dificuldade em esperar a sua vez e interromper os outros.
- Tipo combinado: Que envolve sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
É importante ressaltar que o diagnóstico de TDAH deve ser feito por profissionais de saúde qualificados, como psiquiatras, psicólogos ou médicos especializados em saúde mental, após uma avaliação completa que inclua histórico médico, observações comportamentais e, às vezes, avaliações psicológicas.
O DSM-5 também reconhece que o TDAH pode persistir na vida adulta e pode estar associado a uma série de desafios, incluindo dificuldades no trabalho, nos relacionamentos interpessoais e na autoestima. O tratamento geralmente envolve uma combinação de terapia comportamental, intervenções educacionais e, em alguns casos, medicamentos. O objetivo é ajudar a pessoa a gerenciar seus sintomas e maximizar seu potencial em todas as áreas da vida.
A prevalência do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pode variar dependendo de fatores como a população estudada, critérios de diagnóstico utilizados e métodos de coleta de dados. No entanto, estudos epidemiológicos sugerem que o TDAH é relativamente comum em crianças e também pode persistir na vida adulta.
De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, estima-se que cerca de 9,4% das crianças entre 2 e 17 anos foram diagnosticadas com TDAH em 2016. No Brasil, os dados ainda não foram constatados, mas a hipótese é que sejam semelhantes aos norte americanos. No entanto, é importante observar que a prevalência do TDAH pode variar de acordo com o país e a região, bem como ao longo do tempo devido a mudanças nos critérios de diagnóstico, maior conscientização e detecção, e outros fatores socioeconômicos e culturais.
Além disso, a prevalência do TDAH em adultos tende a ser menor do que em crianças, mas ainda assim significativa. Estimativas sugerem que entre 2% e 5% dos adultos podem ter TDAH.
É essencial que a avaliação e o diagnóstico do TDAH sejam realizados por profissionais de saúde qualificados, como psiquiatras, psicólogos ou médicos especializados em saúde mental, para garantir uma compreensão precisa e um plano de tratamento adequado.
Como funciona o tratamento?
O tratamento do TDAH geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir medicamentos, terapia comportamental e educação sobre o manejo da condição.
Os medicamentos mais comumente prescritos para o TDAH são os estimulantes, como metilfenidato e anfetaminas, que ajudam a aumentar a atenção, a concentração e a reduzir a hiperatividade e impulsividade. No entanto, esses medicamentos podem não ser adequados para todos e geralmente têm efeitos colaterais que devem ser considerados.
A terapia comportamental, como a TCC, envolve o treinamento de habilidades sociais e outras técnicas específicas que podem ajudar as pessoas com TDAH a desenvolver estratégias para lidar com os sintomas no dia a dia. Estabelecer rotinas consistentes, criar ambientes estruturados e fornecer estímulos adequados também pode ser benéfico no manejo dos sintomas.
É importante ressaltar que o tratamento do TDAH é altamente individualizado e pode exigir tentativas e ajustes para encontrar a combinação certa de abordagens que funcionem melhor para cada pessoa. Um acompanhamento regular com profissionais de saúde qualificados, como psiquiatras, psicólogos ou terapeutas ocupacionais, é fundamental para monitorar o progresso e fazer alterações conforme necessário.
A cannabis pode ajudar em casos de TDAH?
Embora os estudos científicos que investiguem diretamente a relação sobre o impacto do tratamento com derivados da cannabis e os sintomas de TDAH sejam escassos, crescentes evidências sugerem que a planta é uma alternativa interessante no tratamento da condição.
O nosso corpo possui um conjunto de receptores, que compõem o denominado sistema endocanabinoide. Esse sistema está basicamente preparado para o contato com os fitocanabinoides, e sua interação promove a regulação de diversas funções no nosso organismo, em um processo conhecido como homeostase.
Devido a esse mecanismo, diversos sintomas do TDAH são amenizados, e os pacientes são capazes de regular o sono, diminuir a agitação, controlar a ansiedade, os sintomas de hiperatividade, melhorar a atenção, e consequentemente melhorar a regulação emocional.
Pacientes que enfrentam outras condições, como a síndrome de Tourette, e possuem o TDAH como comorbidade associada, apresentaram melhora dos sintomas com o uso dos derivados da cannabis.
Um estudo conduzido na Finlândia constatou que a interação entre o sistema dopaminérgico, que envolve a produção e a ação do neurotransmissor dopamina e o sintema endocanabinoide pode ser uma estratégia promissora para tratar não apenas o TDAH, mas também outros transtornos neuropsiquiátricos, como síndrome de Tourette e ansiedade. Embora ainda haja muitas dúvidas, há evidências que sugerem que o uso medicinal da cannabis pode ser uma opção segura e eficaz para pessoas que não respondem bem aos tratamentos convencionais para o TDAH, como o metilfenidato, ou que sofrem com efeitos colaterais de outras terapias farmacológicas. Esse potencial já foi apontado há 15 anos por Ethan Russo, que observou benefícios significativos da cannabis no tratamento do TDAH e sugeriu a realização de estudos controlados para validar essa abordagem.
Esperamos que mais estudos sejam conduzidos com o objetivo de investigar os efeitos da cannabis em pacientes com TDAH, de modo a comprovar a eficácia dos compostos no tratamento desses sintomas, e avaliar os desconfortos enfrentados pelos pacientes.
Em um mundo cheio de estímulos, é muito comum se sentir distraído, ansioso, desatento e que essas sensações prejudiquem nossa capacidade funcional. Nesse sentido, obter o diagnóstico pode ser um alívio e um direcionamento na busca do tratamento adequado. No entanto, é muito importante evitar o autodiagnóstico e buscar uma avaliação adequada. Mesmo que você se identifique com muitos dos sintomas de TDAH, apenas um especialista no assunto pode realmente confirmar a presença da condição. Entrevistas clínicas, instrumentos psicométricos, histórico de saúde e outras fontes são utilizadas durante o processo de avaliação, que é muito mais robusto que a mera descrição dos critérios.
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