Muito se fala sobre os receptores CB1 e CB2 quando o assunto é sistema endocanabinoide. Mas uma nova peça começa a chamar atenção entre pesquisadores e médicos: o GPR55. Embora ainda não oficialmente reconhecido como um receptor canabinoide, ele já é considerado por muitos como o possível “CB3”.
O que é o receptor GPR55?
Identificado em 1999 por pesquisadores da Universidade de Toronto, o GPR55 é um receptor acoplado à proteína G, localizado no cromossomo 2q37. Ele se destaca por:

- Ter uma estrutura distinta dos receptores CB1 e CB2;
- Ser expresso em diversos tecidos humanos, como cérebro, sistema imune e trato gastrointestinal;
- Influenciar funções celulares por meio da elevação de cálcio intracelular.
Por que o GPR55 ainda não é o CB3?
Apesar da interação com THC e CBD, o GPR55 ainda não foi oficialmente classificado como um receptor canabinoide (CB3). Isso ocorre por diversos fatores:
- Baixa similaridade genética com CB1 e CB2 (apenas 13–14% de homologia);
- Mecanismos celulares diferentes, com foco em cálcio intracelular e proliferação celular;
- Ligante natural incerto – o lisofosfatidilinositol (LPI) é um forte candidato, mas ainda sem consenso;
- Respostas amplas a compostos canabinoides e não-canabinoides.
Enquanto essas lacunas não forem preenchidas, o GPR55 segue classificado como receptor “atípico”, mas com papel relevante no endocanabinoidoma.
Como o GPR55 interage com THC e CBD?
Estudos recentes mostram que:
- THC atua como agonista do GPR55, podendo estimular processos celulares como proliferação e migração;
- CBD atua como antagonista, podendo inibir essas mesmas ações.
Essa interação oposta é fundamental para entender como diferentes formulações canabinoides podem impactar condições como o câncer.
Exemplo clínico: câncer de mama triplo-negativo (TTN)
- THC pode estimular metástase via receptor.
- CBD pode inibir esse efeito, reduzindo proliferação tumoral e angiogênese.
- Formulações dominadas por CBD ou equilibradas são mais seguras nesses casos.
Leia também: Canabinoides e câncer: o que a ciência já sabe
Outros usos terapêuticos
Além da oncologia, a modulação do GPR55 pode ter impacto em outras condições clínicas:
- Epilepsia: o antagonismo do CBD pode reduzir a excitabilidade neuronal;
- Síndrome do X Frágil: melhora cognitiva e comportamental com modulação do GPR55;
- Neuroproteção: bloqueio do receptor pode prevenir excesso de glutamato, que causa dano neuronal.
GPR55 e a medicina canabinoide personalizada
À medida que se compreende melhor a ação desse receptor, cresce o interesse por desenvolver terapias específicas, com formulações adaptadas ao perfil do paciente. Algumas perguntas guiam os próximos passos:
- Qual é o ligante natural definitivo do receptor?
- Como ele afeta diferentes doenças?
- É possível combiná-lo com outros receptores como CB1 e CB2?
- A genética individual influencia sua resposta?
O futuro do receptor: um novo alvo terapêutico?
A comunidade científica ainda discute o status oficial do GPR55, mas há consenso de que ele representa uma nova fronteira da medicina canabinoide. Personalizar o uso de canabinoides com base na atuação desse receptor pode trazer avanços importantes para tratamentos neurológicos, inflamatórios e oncológicos.
Leia também: O que é o sistema endocanabinoide?
FAQ
GPR55 é um receptor canabinoide?
Ainda não oficialmente. É considerado um receptor atípico que interage com canabinoides.
O que o GPR55 faz no corpo?
Modula cálcio intracelular, crescimento celular e processos inflamatórios.
THC ativa o receptor?
Sim, atua como agonista, podendo estimular células tumorais em alguns contextos.
CBD bloqueia o GPR55?
Sim, atuando como antagonista, com efeitos neuroprotetores e antitumorais.
Qual a diferença entre GPR55 e CB1/CB2?
Estrutura genética, função e ligantes naturais são distintos.
Por que receptor pode ser importante para o futuro da cannabis medicinal?
Porque representa um alvo terapêutico promissor em doenças complexas.