Muitas pessoas são afetadas por problemas nas funções cognitivas, principalmente adultos de meia-idade e idosos. Por muito tempo, ouviu-se que a cannabis destrói os neurônios do cérebro, afetando a memória, a compreensão e outras funções que impactam no dia a dia.
Entretanto, muitas evidências científicas vêm mostrando o contrário, apontando a planta como um potencial neuroprotetor, colaborando para a saúde do cérebro e diminuindo as chances de distúrbios cognitivos. Vamos entender melhor a relação entre esses dois pontos de vista.
O que são funções cognitivas?
Funções cognitivas são habilidades mentais que nos ajudam a processar informações, aprender, lembrar, raciocinar e tomar decisões. Elas incluem funções como:
- Atenção;
- Memória;
- Linguagem;
- Resolução de problemas;
- Percepção.
Essas habilidades são essenciais para realizar tarefas diárias, como trabalhar, estudar, interagir com outras pessoas e cuidar de si mesmo.
Quando as funções cognitivas estão comprometidas, pode ser mais difícil lidar com atividades cotidianas, como organizar tarefas, lembrar de compromissos ou tomar decisões. Isso pode afetar a autoestima, a independência e a qualidade de vida. Se alguém percebe dificuldades cognitivas, é importante procurar ajuda profissional para entender melhor o que está acontecendo e buscar formas de apoio.
O que a ciência diz sobre cannabis medicinal e funções cognitivas?
A cannabis é uma planta que vem sendo estudada a milênios por seus efeitos benéficos para a saúde. Ainda que existam muitas pesquisas que apontem esses resultados promissores, a cannabis também pode trazer sintomas de declínios cognitivos. Vamos entender melhor essa relação.
Evidências positivas
O artigo Association Between Cannabis Use and Subjective Cognitive Decline: Findings from the Behavioral Risk Factor Surveillance System, publicado na revista Current Alzheimer Research, apontou o potencial efeito neuroprotetor da cannabis em adultos que apresentam 45 anos ou mais.
O objetivo da pesquisa foi examinar se o motivo, a frequência e o método de consumo da planta estão associados ao declínio cognitivo subjetivo (DCS). Os dados foram obtidos por meio de 4.744 adultos dos EUA, com 45 anos ou mais. Como resultado, o estudo aponta que a probabilidade de usuários de cannabis desenvolverem algum tipo de declínio das funções cognitivas foi 96% menor que a de pessoas que não fazem uso da planta em nenhuma forma.
Dentre as explicações, os pesquisadores apontam que a cannabis ajuda a melhorar a qualidade do sono. Ou seja, pessoas que tem uma boa noite de sono, tendem a ter menores chances de desenvolver demências e outros problemas relacionados à saúde cognitiva.
Outro ponto destacado no estudo foi que o elevado nível de estresse pode favorecer a diminuição das funções cognitivas. A cannabis, como já apontado em diversas evidências científicas, ajuda a diminuir os sintomas de ansiedade e estresse, trazendo mais saúde e bem-estar para as pessoas. Ainda que sejam necessárias mais pesquisas na área, já podemos ver que a cannabis proporciona diversos benefícios para a saúde.
Além deste estudo, a revista Mary Ann Liebert publicou um artigo mostrando como o CBD impacta no funcionamento saudável do cérebro. Ainda que não demonstre um efeito neuroprotetor tão forte quanto o THC, o CBD não apresentou impactos negativos na cognição de pessoas saudáveis, ou ainda que apresentam algo transtorno relacionado à saúde mental.
A BMC publicou uma revisão sistemática sobre o efeito da cannabis medicinal nas funções cognitivas. De forma geral, o estudo aponta que não é possível tirar conclusões definitivas sobre o impacto dos medicamentos à base de cannabis no funcionamento cognitivo. Entretanto, a maioria das evidências mostram que o impacto dos medicamentos nas funções cognitivas é menor, desde que as doses de THC sejam baixas a moderadas.
Evidências negativas
Em estudos com usuários frequentes, foi observado que o uso contínuo pode levar a déficits cognitivos mais permanentes, como dificuldades em aprender novas informações ou em realizar tarefas que exigem planejamento e resolução de problemas.
Além disso, em adolescentes, cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento, o uso de cannabis pode afetar negativamente a formação de conexões neurais e prejudicar a função cognitiva de longo prazo. A cannabis medicinal, embora usada para tratar condições como dor crônica e distúrbios neurológicos, também pode apresentar riscos cognitivos, dependendo da dosagem e da duração do uso.
E um artigo publicado pela Scielo sobre anormalidades cognitivas no uso da cannabis, pesquisadores realizaram uma busca com diversos termos relacionados ao assunto. A discussão engloba o potencial prejuízo para a memória, a atenção, o controle inibitório e outras funções do corpo com o uso da cannabis. Como resultado, o estudo aponta que os déficits em usuários muito provavelmente refletem nas neuroadaptações e no funcionamento alterado do sistema endocanabinoide endógeno.
Não existe uma resposta precisa para o impacto da cannabis na saúde cognitiva, mas o uso de planta pode ter impactos negativos no funcionamento cognitivo, principalmente no que diz respeito à memória, atenção e funções executivas, especialmente com o uso contínuo e em usuários mais jovens. Contudo, há também áreas em que o uso medicinal apresenta benefícios, principalmente para tratar condições específicas, embora mais pesquisas sejam necessárias para entender completamente seus efeitos.