Na década de 1930, nos Estados Unidos, a proibição da cannabis estava a todo vapor. Liderada por Harry Anslinger, Comissário do serviço de Narcóticos, a campanha anti-maconha tinha como principal objetivo a criminalização de negros e latinos – essas populações eram alvos constantes de propagandas que relacionavam, sem fundamento, o uso da planta com a violência contra as pessoas brancas. Esse controle de minorias ocorreu em diversos ambientes, como em bares de jazz e, inclusive, se repetiu de forma semelhante no Brasil com as rodas de samba. Pode-se afirmar, portanto, que a relação entre cannabis e música é estreita.
Os músicos de jazz usavam a maconha para desacelerar suas percepções do tempo e, então, permitir as improvisações (quando não há uma partitura pronta para seguir e a melodia e o ritmo são criados de forma espontânea). A planta servia, portanto, como um elemento de sociabilidade e de criatividade para os jazzistas, sendo eles figuras grandiosas como Louis Armstrong, Fats Waller e Duke Ellington.
Nos bares onde ocorriam as improvisações desse gênero musical, no entanto, se misturavam pessoas de diferentes raças e classes sociais. Por isso, Harry Anslinger visou esses locais para que os brancos deixassem de frequentá-los e, então, encarcerar os jazzistas, em sua maioria negros, pelo uso da cannabis. Louis Armstrong, inclusive, foi um desses presos.
Para além do jazz, a maconha também se atrela ao reggae, de origem jamaicana. A religião rastafari utiliza a planta de forma espiritual e, como também é proveniente do mesmo país do reggae, tem relação próxima com o gênero musical. Dessa forma, o consumo de cannabis também se popularizou entre esses músicos; Bob Marley, Bunny Wailer e Peter Tosh eram alguns deles. Diferente do jazz, no entanto, a cultura jamaicana jogava luz aos benefícios medicinais da maconha, que, hoje, são de amplo conhecimento e aproveitados por diversos países que vêm regulamentando a planta para esse fim.
Ainda, mais recentemente, o hip hop e o rap, influenciados por músicos negros antigos, também passaram a valorizar e utilizar a maconha para fins recreativos e considerá-la uma substância importante para a criação artística. Snoop Dog, Jay Z, Planet Hemp e outros são exemplos.
Música e cannabis no Brasil
No Brasil, a maconha foi criminalizada oficialmente nos anos de 1920. As autoridades perceberam um descontrole no uso durante o crescimento dos centros urbanos, bem como das populações negras que não se podia mais segregar e explorar legalmente após a abolição da escravatura. Assim, como elas culturalmente utilizavam a planta e praticavam o samba, a capoeira e a umbanda, o governo passou a ter esses costumes como alvos.
Isso continuou nos anos de 1930, mesma época da campanha anti-maconha estadunidense, já que, durante o governo Getúlio Vargas, criou-se a Delegacia de Costumes, Tóxicos e Mistificações (DCTM), encarregada de verificar o uso da cannabis e, ao mesmo tempo, controlar e reprimir rodas de samba, a capoeira e os ritos de umbanda. Aos poucos, todos esses elementos tornaram-se ferramentas de estigmatização da cultura negra e, assim, eram usados para criminalizar essa população.
É claro que a maconha chegou a outros gêneros musicais e, hoje, são temas de letras de canções do rock, do funk, do pop e muito mais. Músicos famosos também já se posicionaram a favor da regulamentação da planta e não esconderam usá-la de forma recreativa e medicinal. Contudo, é importante entender a origem da relação da música com a cannabis, para que servia seu uso e quem foram os que sofreram para a maior aceitação da planta no meio musical que existe hoje.