Com o aumento no número de informações a respeito do TEA (Transtorno do Espectro Autista), fizemos esse artigo para explicar tudo que você precisa saber sobre os três níveis do transtorno do espectro autista, que foram definidos e descritos no Diagnostic and Statistical Manual os Mental Disorders, 5a edição, conforme a Associação Americana de Psiquiatria, que é a a publicação mais recente a respeito do tema. Vamos falar muito ao longo do artigo sobre os níveis do autismo e a importância da não-generalização nos casos, pois isso eleva a conotação negativa que o assunto já possui dentro da população, conotação essa que é uma consequência da falta de informações ou informações de baixa qualidade que foram espalhadas pelos mais diversos atores, em especial a internet e as redes sociais.
Os três níveis de autismo replicam rótulos de funcionamento (baixo vs. alto funcionamento), mas não levam em conta pessoas que apresentam traços associados a múltiplos níveis diariamente ou para aqueles que flutuam entre os níveis dia a dia.
Muitas vezes as pessoas assumem que todas as pessoas são iguais e repetem comportamentos que foram associados a essa condição médica, sem entenderem as verdadeiras características e formas de classificação, que são muito mais complexas que uma simples categoria.
Neste post do blog da Kaya Mind, falaremos sobre os diferentes níveis de autismo e como eles afetam a vida das pessoas que convivem com essa condição.
O que são os diferentes níveis de autismo?
Antes de mais nada é importante falarmos que o autismo é uma condição médica que vem tendo cada vez mais atenção da população e da comunidade médica e, por isso, houve mudanças na terminologia de como são classificados os níveis e tipos de autismo. No capítulo de tipos de autismo falaremos mais sobre as antigas classificações e, porque elas foram alteradas.
Atualmente, o autismo é classificado em três níveis: leve, moderado e grave. Essa classificação é a considerada a mais correta desde 2013 e foi baseada na intensidade dos sintomas e no grau de suporte necessário para que a pessoa possa se comunicar e interagir com o mundo ao seu redor.
- No nível leve a pessoa teria algumas dificuldades sociais e de comunicação, mas ainda consegue se comunicar e interagir com outras pessoas.
- No nível moderado, a pessoa precisa de mais suporte para se comunicar e interagir.
- No nível grave, a pessoa tem dificuldades significativas em todas as áreas da vida.
Nível 1: Autismo leve
As pessoas com autismo levem geralmente têm dificuldades moderadas em se comunicar e interagir socialmente. Algumas características comuns incluem:
- Dificuldade em iniciar ou manter uma conversa
- Dificuldade em entender piadas e ironias
- Dificuldade em ler as emoções dos outros
- Interesses intensos e restritos em certos assuntos
Algumas pessoas com autismo leve podem ter dificuldade em lidar com mudanças na rotina ou em situações sociais novas.
Nível 2: Autismo moderado
As pessoas com autismo moderado geralmente têm dificuldades significativas em se comunicar e interagir socialmente. Algumas características comuns incluem:
- Dificuldade em iniciar ou manter uma conversa
- Dificuldade em entender piadas e ironias
- Dificuldade em ler as emoções dos outros
- Comportamentos repetitivos ou restritos
- Dificuldade em fazer amigos ou manter relacionamentos
Pessoas com autismo moderado podem ter dificuldade em lidar com mudanças na rotina ou em situações sociais novas.
Nível 3: Autismo grave
As pessoas com autismo grave geralmente têm dificuldades extremas em se comunicar e interagir socialmente. Algumas características comuns incluem:
- Dificuldade em iniciar ou manter uma conversa
- Dificuldade em entender piadas e ironias
- Dificuldade em ler as emoções dos outros
- Comportamentos repetitivos ou restritos
- Dificuldade em fazer amigos ou manter relacionamentos
- Comportamentos agressivos ou autolesivos
Pessoas com autismo grave podem ter dificuldade em lidar com mudanças na rotina ou em situações sociais novas.
Tipos de autismo
Conforme falamos no início, antigamente o autismo era classificado em tipos e não em níveis, porém isso mudou desde 2013, mas as pessoas ainda usam em alguns casos as nomenclaturas antigas e, por isso, decidimos explicar o que significa e, por que não se usa mais esses nomes.
Antigamente se dividia o autismo em grandes classificações: Síndrome de Asperger, o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, o Transtorno Autista e o Transtorno Desintegrativo da Infância. Cada uma dessas classificações tem uma variação nos sintomas e características, porém também possuem pontos em comum para todos.
- Síndrome de Asperger: essa é uma das antigas classificações que mais teve repercussão na internet, séries de TV e até na novela, pois seria a forma mais “leve” do autismo, em que a pessoa tem a capacidade de se comunicar e de interagir, porém com limitações, o que torna difícil de entender quando esse ponto faria sentido.
- Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID): podemos entender essa como uma classificação mais intermediária em que a pessoa começa a ver limitações mais claras na comunicação e interação social, tornando seu comportamento mais fácil de ser considerado “fora do normal”, porém como falamos anteriormente, essa classificação deixou de ser usada justamente por não considerar mais nuances.
- Transtorno Autista: uma variação grave com sintomas de falta de interação social, apego a rotina, comportamentos repetitivos, entre outros.
- Transtorno Desintegrativo da Infância (TDI): essa é a classificação mais controversa, pois seria o tipo que existe para as pessoas que desenvolvem características do TEA após os 3 (três) anos de idade.
Como identificar os diferentes níveis de autismo?
Sempre reforçamos muito a importância dos profissionais da saúde nesse tipo de processo, pois apesar de as comunicações a respeito do assunto estarem crescendo, esse é um diagnóstico médico que terá impactos na vida da pessoa diagnosticada e das pessoas a seu redor, por isso o cuidado é necessário.
Os profissionais de saúde habilitados fazem uma avaliação clínica completa, que inclui observação do comportamento da pessoa, histórico médico e testes específicos para avaliar habilidades sociais, de comunicação e comportamentais. É importante lembrar que cada pessoa é única e pode apresentar sintomas diferentes, mesmo dentro do mesmo nível.
Sintomas do TEA (Transtorno do Espectro Autista)
Os sintomas do autismo podem variar de acordo com o nível de autismo. No entanto, existem alguns comportamentos comuns associados ao autismo, como:
- Dificuldades em se comunicar verbalmente ou não-verbalmente
- Dificuldades em fazer amigos ou interagir socialmente
- Comportamentos repetitivos ou restritos
- Interesses intensos e restritos em certos assuntos
Diagnóstico e tratamento
Conforme falamos no capítulo sobre a identificação dos níveis de autismo, o processo de diagnóstico irá afetar a vida da pessoa e de todos em volta, por isso, esse processo deve ser levado com seriedade e, para alguns casos de mais difícil identificação, é recomendada a avaliação de diferentes especialistas, afinal um médico pode enxergar uma parte dos sintomas, enquanto um psicólogo poderá observar um outro conjunto de características que o levem a outro diagnóstico. Nesse processo, a interação entre profissionais da saúde é comum e ajuda a um processo mais certeiro.
O tratamento para o autismo pode variar dependendo do nível do transtorno e dos sintomas específicos da pessoa. Algumas opções de tratamento incluem:
- Terapia comportamental: ajuda a pessoa a aprender novas habilidades sociais e comportamentais.
- Terapia ocupacional: ajuda a pessoa a desenvolver habilidades motoras finas e grossas.
- Terapia da fala: pode ser feita com fonodiologo ou não, porém o objetivo é ajudar a pessoa a melhorar suas habilidades de comunicação, seja por uma questão psicológica ou de desenvolvimento.
- Medicamentos: sempre devem ser prescritos por um profissional da saúde sério e são indicados para ajudar a aliviar alguns dos sintomas do autismo, como ansiedade e hiperatividade, porém podem ter contra-indicações, por isso nesses casos, a automedicação é muito problemática.
Como lidar com os diferentes níveis de autismo?
Apesar de ser necessário para todas as pessoas que convivem com alguém do espectro autista uma certa compreensão, atualmente existem milhares de pessoas que possuem ou não o diagnóstico e, a convivência dessas pessoas com a sociedade pode nunca ter sido afetada. O mais importante é lembrarmos que a generalização é sempre um problema, em especial quando estamos falando do espectro autista, que envolve uma série de variáveis e, nem sempre, funciona da mesma forma em todas as pessoas.
Os tratamentos geralmente incluem diferentes tipos de terapias e até mesmo medicamentos, quando necessário, porém como falamos, existem pessoas que nunca fazem tratamento ou possuem apenas o acompanhamento psicológico, cada caso deve ser avaliado e uma compreensão ampla deve ser feita antes de se iniciar qualquer tratamento, em especial os que envolvem medicamentos. É importante que a pessoa tenha um plano individualizado de tratamento que leve em consideração suas necessidades específicas.
Cannabis medicinal para autismo
Que os tratamentos com cannabis medicinal e suas aplicações nas mais diversas condições médicas tem se expandido isso já não é mais novidade na comunidade médica, porém o uso de tratamentos com cannabis medicinal em pessoas do espectro autista já é um assunto mais controverso e bastante debatido, por isso decidimos trazer uma rápida explicação sobre as evidências positivas que existem, porém reforçamos a necessidade de um profissional de saude especializado fazer essa avaliação.
A cannabis medicinal tem sido cada vez mais estudada como uma possível opção terapêutica para tratar o autismo. E não é que as pesquisas têm mostrado resultados promissores? O primeiro estudo que traz esse tipo de resultado é de 2019 e foi publicado na revista Frontiers in Neurology e, nele, os autores investigaram casos reais de crianças que estavam diagnosticadas dentro do espectro e faziam o uso do tratamento com cannabis. Segundo os autores os resultados do estudo foram positivos, pois foi possível identificar melhorias em traços de comportamento e na comunicação, duas grandes limitações de algumas pessoas do espectro.
Já uma outra pesquisa, de 2020 e publicada no Journal of Autism and Develpmental Disrders observou o comportamento de adultos diagnosticados com TEA e que faziam o uso da cannabis medicinal, nesses casos os avanços foram nos sintomas de ansiedade e em alguns comportamentos, que são aspectos importantes da vida de qualquer pessoa, porém que podem ser acentuados em pessoas dentro do espectro e que, portanto, a cannabis poderia ser uma ajuda.
Apesar desses resultados, nada tira a necessidade de um profissional da saude habilitado e especializado fazer uma avaliação completa em cada um dos casos, pois a cannabis também tem o potencial de piorar sintomas, justamente por os canabinóides da planta interagirem com nosso sistema endocanabinoide, essa interação pode influenciar no apetite, humor e comportamento de qualquer pessoa e também, nos pacientes do TEA.
Embora haja relatos encorajadores e pesquisas promissoras, é importante lembrar que a eficácia dessas abordagens ainda carece de comprovação científica sólida. Além disso, os tratamentos atuais para o autismo, como antipsicóticos, frequentemente se concentram em sintomas específicos e podem acarretar efeitos colaterais graves. Por isso, é fundamental envolver profissionais de saúde capacitados e seguir uma abordagem clínica cuidadosa ao considerar essa opção terapêutica.
Estudos e artigos acadêmicos sobre a cannabis medicinal e os níveis de autismo
Com participação de Raphael Mechoulam, considerado o pai da cannabis e, publicado em 2019, este estudo exploratório analisou o resultado de dados coletados como parte do tratamento de 188 pacientes com TEA e que fizeram o uso de um óleo de cannabis (30% CBD e 1,5% THC) entre 2015 e 2017.
Este estudo revisou 16 ensaios clínicos randomizados com o objetivo de avaliar a eficácia, tolerabilidade e segurança de medicamentos à base de cannabis para condições com dor neuropática crônica em adultos e, não foi concentrado no TEA, porém é útil por falar sobre algumas condições médicas que pessoas com TEA também sofrem com.
Mitos e verdades sobre o autismo
Existem muitos mitos sobre o autismo que podem levar a equívocos e mal-entendidos. Alguns dos mitos mais comuns incluem:
- O autismo é causado por vacinas (isso não é verdade)
- Todas as pessoas com autismo são gênias (isso não é verdade)
- Todas as pessoas com autismo têm dificuldades de comunicação (isso não é verdade)
- O autismo pode ser curado (isso não é verdade)
Acreditamos que é importante reforçar o quanto cada pessoa é única e pode apresentar sintomas diversos, mesmo sendo colocadas no mesmo nível de outra pessoa. Para os familiares e pessoas próximas, assim como para o paciente em si, identificar que a pessoa está no espectro pode ser uma forma de começar a se informar e buscar informações mais cedo, tornando a vida do paciente melhor.
Se você suspeita que você ou alguém próximo possa estar no espectro do autismo, é importante procurar um ou mais profissionais da saúde que possam ajudar no diagnóstico e um plano de tratamento individualizado.
Perguntas e respostas sobre o autismo e seus níveis
- O que causa o autismo?
Ainda não existem evidências certas para essa pergunta, porém o que já se sabe é que alguns fatores genéticos e, até mesmo ambientais, podem afetar o desenvolvimento do transtorno de alguma forma, porém ainda não se sabe como também.
- O autismo pode ser curado?
Não há cura para o autismo, o que não significa que já não existe uma miriade de opções de tratamento disponíveis.
- Todas as pessoas com autismo têm dificuldades de comunicação?
Não todas, como falamos não podemos generalizar nada com o TEA, pois algumas pessoas podem sofrer com dificuldades de comunicação, enquanto outras não.
- Como posso ajudar uma pessoa com autismo a se sentir mais confortável em situações sociais?
Essa é uma pergunta muito legal que todo mundo deveria se fazer, pois a convivencia com uma pessoa que está no espectro não precisa ser completamente diferente do que seria com uma pessoa que não está, porém caso venha a presenciar uma situação que requer um cuidado maior, tente manter o ambiente calmo e previsível para a pessoa e, se possível, pergunte a ela ou alguém próximo o que pode ajudar.
Referências
- Associação Brasileira de Autismo
- National Institute of Mental Health
- American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.).
- Autism Speaks. (2021). What is autism?
- Parker, K., & Zuckerman, B. (2014). Cannabis and cannabinoids—Pediatrics. Pediatrics, 134(3), 715–721.