O uso de cannabis no tratamento de transtornos mentais tem sido cada vez mais estudado. Uma revisão internacional recente — conduzida por pesquisadores dos Países Baixos, Israel e Suíça — analisou 49 estudos clínicos controlados em 15 países para entender como os canabinoides THC e CBD afetam condições como ansiedade, depressão e TEPT (transtorno do estresse pós-traumático).
O objetivo foi avaliar os benefícios e riscos do uso terapêutico da cannabis em distúrbios psiquiátricos. A análise representa um importante passo para aprofundar a compreensão sobre o papel dos fitocanabinoides na saúde mental — um tema cada vez mais discutido também no mercado brasileiro de cannabis medicinal.
Principais achados da revisão
O canabidiol (CBD) foi o canabinoide com melhor desempenho nos estudos:
- Não é psicoativo, ou seja, não altera a percepção nem causa euforia;
- Apresentou efeitos ansiolíticos relevantes, especialmente em doses elevadas;
- Mostrou baixo risco de efeitos colaterais e boa tolerância em crianças, quando prescrito por profissionais.
–> Quer entender melhor? Veja nosso conteúdo completo: Para que serve o canabidiol?
Já o THC (tetrahidrocanabinol) apresentou respostas mais variadas:
- Pode desencadear sintomas de ansiedade e psicose em altas doses;
- Em alguns casos, como na Síndrome de Tourette, o THC controlado reduziu tiques nervosos;
- A combinação THC+CBD parece modular os efeitos adversos do THC isolado.
–> Leia também: Cannabis dá sono? Entenda os efeitos no corpo
Efeitos sobre TEPT e estresse
No contexto do TEPT, os estudos apontaram que:
- O CBD protege contra respostas de ansiedade em modelos pré-clínicos, como ratas expostas a traumas;
- Atua nos receptores 5HT-1A, regulando o humor;
- Ensaios com humanos também indicaram melhora nos sintomas de estresse pós-traumático.
Leia mais: Cannabis para ansiedade: o que a ciência diz.
Limitações e próximos passos
Mesmo com dados promissores, o estudo mostra que:
- Ainda faltam ensaios clínicos de alta qualidade;
- Há baixa evidência para depressão, TDAH, psicose e transtornos de humor;
- Muitos efeitos positivos se referem a sintomas secundários, como dor crônica e insônia.
–> Saiba mais sobre a importância das evidências clínicas no uso medicinal da cannabis: Pesquisa científica sobre cannabis: tudo o que você precisa saber
O que isso significa na prática?
1. CBD pode ser uma boa alternativa:
Seu perfil de segurança é favorável para casos de ansiedade, insônia e TEPT.
2. THC exige cautela:
Especialmente em pacientes vulneráveis, o uso isolado pode ser arriscado.
3. Falta base sólida para outras condições:
É necessário ampliar estudos sobre depressão, psicoses e TDAH.
Implicações para o futuro
- Pesquisas devem focar em áreas com maior potencial: ansiedade, TEPT e comorbidades com doenças físicas;
- É preciso definir protocolos clínicos padronizados, com doses, vias de administração e combinações mais precisas;
- A regulação e rastreabilidade dos produtos devem ser reforçadas para garantir qualidade, segurança e eficácia.
Conclusão
A revisão de 49 estudos mostra que:
- O CBD é o canabinoide mais promissor na saúde mental, com baixo risco e bons resultados;
- O THC isolado ainda representa riscos, e sua utilização exige mais evidência;
- Mais ensaios clínicos de qualidade são urgentes para expandir o uso terapêutico da cannabis de forma segura e eficaz.
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FAQ
1. Qual canabinoide teve melhor performance na revisão?
O CBD se mostrou mais seguro e eficaz, especialmente para ansiedade e estresse.
2. O THC é recomendado para saúde mental?
Sozinho, o THC traz riscos à saúde mental; somente em combinação e com supervisão estrita há benefícios pontuais.
3. Há evidência para depressão e ansiedade?
Sim, mas ainda escassa e inconsistente. Estudos maiores são necessários.
4. Como o CBD ajuda no TEPT?
Atua nos receptores 5HT‑1A, promovendo redução de ansiedade em modelos pré-clínicos.
5. Os estudos são confiáveis?
A maioria possui qualidade baixa ou moderada, com poucos RCTs grandes e bem controlados.
6. Qual a recomendação atual?
Uso consciente, prescrito por médico, com acompanhamento e preferência por CBD ou formulações balanceadas.
