Apesar da lei estabelecer que o uso adulto de cannabis é descriminalizado no Brasil, sabemos que não é bem assim que funciona na prática. A política proibicionista ainda é forte no país e atinge principalmente populações negras e periféricas, e essa repressão violenta nunca impediu o consumo da planta: o mercado de maconha para uso recreativo continuou existindo, mas de forma ilegal, e, inclusive, é muito maior do que o medicinal, o que significa que sua regulamentação teria o maior impacto no país. Essa ilegalidade resulta não só em opressões racistas e classistas, como também no tipo de consumo recreativo que se faz no Brasil. Sem regulamentação da cannabis e do seu cultivo, usuários recorrem ao mercado clandestino que oferece uma variedade de produtos oriundos de outros países e até de plantações ilegais no próprio território brasileiro. Um dos produtos mais consumidos, inclusive, é a famosa maconha prensada.
O que é o prensado de maconha?
O prensado é a forma mais comum de ter acesso à cannabis em países onde o consumo e a comercialização são ilegais. Isso porque, como diz o nome, a planta é prensada e, assim, seu volume fica menor e seu formato facilita o transporte. Além disso, costuma ser um produto mais barato.
Muitas pessoas relacionam o prensado com má qualidade e até ao fato de ser prejudicial à saúde. Em alguns casos, isso pode ser verdade, pois, sem um mercado regulamentado, não há controle da origem da planta, de como é feito seu cultivo, sua secagem, seu armazenamento e sua prensagem. Assim, em um manuseio descuidado, o prensado pode iniciar um processo de decomposição e fermentação, resultando em mau cheiro, além de ser produzido com galhos, insetos, fungos, amônia e até urina, o que, obviamente, pode impactar na saúde dos usuários.
No entanto, nem sempre o prensado oferece riscos ou tem baixa qualidade – veja como saber a qualidade da sua maconha aqui. Existem prensados de boa qualidade que chegam ao país e que são uma opção mais acessível para muitos usuários que não tem como pagar por um produto melhor, afinal, sem uma regulamentação, os preços são maiores por conta da importação, da dificuldade de transporte e comercialização. E, como dito anteriormente, não é só porque existe proibição, que não existe consumidor.
Inclusive, foi a partir do prensado que muitas pessoas que nasceram no período do proibicionismo tiveram seu primeiro contato com a maconha, seja positivo, com propriedades terapêuticas, ou negativo, já que a cannabis nem sempre é bem recebida por alguns organismos. Apesar do “soltinho” já existir, era mais comum no Nordeste, enquanto o prensado era acessível a todos.
Tipos de prensado
Existem vários tipos de maconha prensada, que podem variar de acordo com a região onde são cultivadas e processadas. Vamos trazer os tipos de prensado mais comuns:
- Prensado comum: A qualidade costuma ser mais inferior e compactada em tijolos para facilitar o transporte. Geralmente tem folhas e galhos, além das flores.
- Skunk prensado: Conhecido por ter uma fragrância mais forte e um de THC mais elevado, em comparação ao prensado comum.
- Prensado com sementes: Às vezes, as plantas de maconha são cultivadas com sementes, que podem ser deixadas na planta durante a colheita. Isso resulta em maconha prensada que contém sementes, e pode reduzir a qualidade e o prazer da experiência de fumar.
- Prensado importado: Em algumas regiões, a maconha é importada de outros países, como o Marrocos, Colômbia e México. Esses tipos de prensado podem variar em qualidade e conteúdo de THC.
Qual o efeito da maconha prensada?
Os efeitos da maconha prensada podem variar, dependendo de fatores como a qualidade da erva, a quantidade consumida, o método de consumo e a tolerância individual do usuário. Entretanto, os efeitos típicos da maconha são semelhantes aos de outras formas de cannabis, como:
- Euforia;
- Alterações sensoriais;
- Mudanças de humor;
- Aumento do apetite;
- Redução da dor e inflamação
- Redução de estresse e ansiedade.
Existem outros efeitos que a maconha prensada pode causar e vai variar para cada pessoa, local onde está sendo utilizada e a frequência de uso.
Diferença entre prensado de maconha e flor natural
Além da questão do formato, do tipo de manuseio e da qualidade, uma das principais diferenças entre o prensado e a flor natural é sua composição. Como o prensado normalmente passa por um processo de decomposição, a planta acaba perdendo parte de suas características naturais, transformando completamente seu perfil de fitocanabinoides, terpenos e canaflavinas. Assim, fica muito difícil identificar qual é a strain a ser consumida, o que pode ser ruim para os usuários, já que não conseguem escolher o tipo de planta baseados no que desejam como efeito (afinal, cada perfil canabinoide e terpenoide pode proporcionar sensações diferentes).
Por outro lado, a flor natural, por ser normalmente cultivada em ambientes mais controlados e passar por um processo mais cuidadoso de secagem e cura, acaba mantendo as características da strain cultivada, resultando em mais sabor, aroma e efeitos mais intensos. Além disso, para quem está consumindo, fica mais fácil saber quais os benefícios medicinais que podem ser obtidos com a planta. É importante ressaltar, também, que, apesar do cultivo indoor ser uma maneira de obter um resultado mais controlado, ele é irreal para um país como o Brasil, já que, pela quantidade de maconha consumida no país, o gasto com iluminação interna seria muito alto. Mas, existem técnicas para melhorar a qualidade do seu prensado, como lavar a maconha prensada.
O mercado de maconha de uso adulto
Mesmo sem legalização, é evidente que o mercado de maconha para fins recreativos existe e movimenta dinheiro ilegalmente no Brasil. Afinal, segundo pesquisas da Fiocruz de 2015 e 2017, a maconha é a substância ilícita mais consumida do país, com o total de 7,7% de brasileiros que dizem já ter provado maconha alguma vez na vida (por volta de 16 milhões) e 1,45% que são usuários mensais (cerca de 3 milhões). Além disso, outro estudo do Senado, mostrou que, enquanto 7% das pessoas declaram ter usado maconha, 78% afirmam que conhecem alguém que fuma ou já fumou – isso comprova como o assunto ainda é tabu e que o número de usuários é maior que se imagina.
Caso existisse uma regulamentação, a movimentação legal seria de R$ 12 bilhões em quatro anos, considerando 1 grama da planta vendida a R$ 8. Já, considerando a grama a R$ 5, seriam vendidos R$ 7 bilhões de cannabis em quatro anos. Para além da questão econômica, haveria uma evolução importante na questão social, já que as pessoas que hoje são impactadas pela guerra às drogas, poderiam encontrar uma oportunidade no mercado legal, caso a legislação fosse inclusiva e coerente. A própria arrecadação tributária dos valores movimentados deveria servir de ferramenta para reparar os danos históricos causados à essas populações afetadas.
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